terça-feira, 19 de março de 2019

Artigos de Revistas - Rodney Gomes

Entrevista com Rodney Gomes para a edição N° 26 de Outubro / Novembro de 1999, aonde Rodney conta um pouco de sua carreira no rádio e na dublagem.

Um dos “monstros sagrados” da dublagem brasileira chama-se Rodinei Gomes; além de ser uma das vozes de Robin, Gomes também foi diretor de dublagem da série Batman enquanto ela era gravada na AIC em São Paulo. Outros trabalhos famosos de Rodinei são Radar, da série M.a.s.h, a qual também dirigiu, Little Joe, em Bonanza, a “poderosa Formiga Atômicaaaaaaa! E muitos outros como vocês verão nesta entrevista da TV Séries (TVS) como Rodinei Gomes (Rg).
 
TVS: Vamos começar do começo...onde e quando você nasceu?
 
Rg: Eu nasci em Sorocaba estado de São Paulo dia 3 de Agosto de 1936.
 
TVS: Como você começou sua carreira de ator?
 
Rg: Eu estava num baile infantil no Flamengo, quando um senhor me chamou e perguntou se eu queria trabalhar no cinema. Eu disse que sim; Aí ele me mandou num apartamento pertinho do Flamengo, onde encontrei a Gilda de Abreu. Foi ela que me abriu a porta e disse: “To procurando um garoto como você”. Eu tinha 10 pra 11 anos e era bem pequenininho. Isso foi no domingo, na segunda eu já estava na antiga Cinédia em São Cristóvão, nem fiz teste, fui logo fazendo o filme Pinguinho de Gente. Mas como filmaram muita coisa, eles cortaram duas estórias paralelas e aí, entre no corte. Mas minha imagem ficou por lá e, no ano seguinte, fui chamado para fazer Obrigado Doutor, com Rodolfo Maia. Foi um sucesso nacional ficando 3 meses em cartaz em 1948. Daí, fui para a Rádio Mauá, onde me colocaram em um programa que eu tive que animar por 15 minutos. Eles quiseram me contratar, mas naquela época, o juizado de menores não deixava. Nesse meio tempo, virei um garoto prodígio, desculpe eu fazer essa comparação. Naquela época, as crianças eram muito fechadas e eu já era cara-de-pau, falava e discutia com todo mundo. Fiz teatro infantil no Sesi e vozes de fantoches. Em 1949, fiz teste com a Isis de Oliveira e entrei para a Rádio Nacional. Em 1957, além de teatro, comecei a fazer televisão, fiz TV Rio, TV Tupi, depois TV Excelsior em São Paulo, fui contratado lá como rádio ator e como escritor de novelas, isso em 1967. Em 1959, nós começamos a dublagem.
 
TVS: E a sua família, te incentivava?
 
Rg: Muito, muito. E como! Eles me ajudaram muito. Baixaram festa pelo sucesso do filho. Imagine, eu não sabia o que era o sucesso. Não tinha o entendimento ainda. Porque um garoto com 12 anos hoje, sabe tudo. As revistas e a televisão inundaram a vida das crianças. Mas você põe 50 anos lá pra trás, você não sabia nada. Eu era nadador, atleta do Flamengo, só queria saber de botão de mesa e do estudo. Eu fazia o ginásio e depois fiz o clássico, até chegar a fazer um ano de Direito. Eu era precoce e muito entrão. Tudo que é festa eu entrava. Essa era a minha vida.
 
TVS: Você foi o único artista da família?
 
Rg: O único. Não tinha ninguém pra me ensinar, aprendi com os diretores. E hoje, posso passar, modestamente, aquilo que aprendi quando eu dirijo dublagens e programas de rádio. Eu não tenho escola de teatro, nem havia na época. Descobriram que eu tinha essa veia artística, aí eu desenvolvi. Não sou contra o estudo, mas as pessoas se desenvolvem é na experiência.
 
TVS: Como você entrou na dublagem?
 
Rg: Em 1959. Os americanos já sabiam, mas nós não, que a televisão ia ocupar um espaço muito grande nas nossas vidas. O Brasil não sabia de nada, continua não sabendo. Os outros estão mandando e ele está parado aqui. Meu sentimento de brasilidade eu encontrei no Rio Grande do Sul. Verdade, não é pra te agradar não! Um dia eu estava em Porto Alegre e entrei em uma loja para comprar um par de botas: “Tem aquela botinha?”, perguntei, “Qual?”, perguntou o vendedor, “Aquela, tipo americano.” “Não senhor, nós só temos tipo gaúcho!!!” Voltando à dublagem, em 59, alguém chegou pra tentar dublar aqui no Brasil, já preparando o caminho para as séries americanas, que viriam mais tarde e nós não sabíamos. Então, nós começamos de um modo insipiente, onerosa, muito trabalhosa, quase que inútil.
 
TVS: Você foi atrás da dublagem ou ela veio atrás de você?
 
Rg: Tudo começou com os artistas da Rádio Nacional aqui no Rio. Lá em São Paulo começou um pouquinho antes. Coisa de 6 meses antes. Lá já se dublava mais, então já tinham a aparelhagem apropriada. Nós, aqui no Rio, não tínhamos a aparelhagem. Imagina, no início o projetor era de carvão, pra mudar o loop era uma loucura! Em 59 começamos com nomes como Milton Rangel, Ribeiro Santos, Mário Monjardim, Newton da Matta, Carlos Marques, Neuza Tavares. Esses foram alguns dos que começaram. O Rangel, que também não sabia nada, ia tentando ensinar.
 
TVS: Quem o Milton Rangel dublava?
 
Rg: O Rangel foi o Jerônimo na Rádio Nacional, Jerônimo, o Herói do Sertão. Em dublagem, ele fazia a série Maverick, é uma voz linda, lindíssima, ele também dublava o Bat Masterson e fazia narrações. Foi a alma daqui, aprendeu primeiro pra ensinar os outros depois. Morreu muito cedo. Mas deixou aí os filhotes que somos todos nós. O nosso mais profundo agradecimento ao Milton Rangel. Vocês não podem esquecer esse nome. Inclusive, no lugar onde eu dirijo hoje, existe um estúdio com o nome dele, em homenagem, e tem outro estúdio, o Ribeiro Santos, que é guru da gente.
 
TVS: Você se lembra qual foi seu primeiro trabalho?
 
Rg: Não lembro não. Um filme de cowboy qualquer feito de forma bem amadora. Acho que nem foi pro ar, provavelmente foi uma experiência pra ver quem tinha reflexo e quem não tinha, porque ninguém sabia nada. Soltaram o barco no rio sem saber pra onde ia. Hoje, quando chega uma pessoa leiga, a gente ensina, naquela época, ninguém tinha bússola. Nós não sabíamos pra onde ir. Como começar a falar? E era estranho ouvir a voz da gente em outro cara. No rádio, a voz era nossa, mas na TV, nós tínhamos que repetir a representação de outra pessoa, dar a inflexão no mesmo tempo que o original fez. E fomos indo, porque a dublagem passou a ser um ganha-pão lateral, que, de repente, se transformou no principal.
 
TVS: Qual foi seu primeiro papel importante?
 
Rg: Deve ter sido Bonanza em 1961, mas eu já tinha dublado muita coisa. Só que nós não pensávamos no trabalho da dublagem como algo muito importante não. Era só mais um trabalho. Não sabíamos que a dublagem ia chegar a esse estágio que chegou hoje, com grandes empresas.
 
TVS: Vamos falar de Bonanza, como foi escolhido pra ser o Little Joe?
 
Rg: Nesta época a dublagem já estava com atores vindo da Rádio Nacional, que era a maioria, Rádio Tupi, Rádio Mayrink Veiga e tinha o pessoal de teatro e da televisão. Aí veio um americano acompanhado de um espanhol, que montaram um estúdio e por ali chegou a série Bonanza, que pertencia a esse americano, o representante da série aqui no Brasil. Fizeram testes com 15 vozes jovens e eu fui o último. Eu nem queria fazer, porque estava estudando e as gravações seriam bem na hora do meu estudo, mas fui fazer o teste. Quando eu cheguei lá, o americano tava na técnica com o espanhol – que hoje é dono da Delart – Eu fiz o teste e o americano disse: “Põe a voz mais pra cima, mais menino.” Aí eu botei a voz um pouquinho mais pra cima e ele disse: “Ok.” Aí eu fui aprovado e fiz uma das séries mais bonitas que a televisão já teve. Nós gravamos 7 temporadas com, mais ou menos, 37 episódios cada. Na história, era só o pai com os 3 filhos homens e tinha moral, sem ser piegas. Eles davam conselhos sem ser paternalistas. Tinha um episódio muito interessante que contava a estória do guarda-chuva, que apareceu no século passado. Tinha estórias lindas, muitas sobre os irlandeses que colonizaram os Estados Unidos. Aquelas danças todas de quadrilha é tudo do irlandês e também toda aquela moral e religião.
 

TVS: Em Bonanza teve bastante mudança de voz, no entanto a sua continuou.
 
Rg: Foi por acaso. Começou com 4 atores no Rio: Miguel Rosenberg era o pai, Isaac Bardavid era o Adam; Luís Motta era o Hoss e eu fazia o Little Joe. O Rio de Janeiro fez 6 temporadas e a sétima foi para São Paulo com 39 episódios. Eu dirigi a dublagem em São Paulo por isso a voz do Joe não mudou. Mas houve trocas de vozes quando a série ainda estava no Rio por exemplo, o Miguel Rosenberg teve alguns problemas e em seu lugar entro o Gualter de França para dublar o pai, depois ele foi substituído pelo Ribeiro Santos. Daí foi a vez do Hoss, aquele grandão, o Motta saiu e entrou o Milton Gonçalves, que nem dublador era, era ator de televisão, mas era muito inteligente e fez muito bem o Hoss. Depois, terminaram os episódios e o grupo se dispersou quando a Peri Filmes fechou as portas. O Norman, dono do estúdio, mandou as séries dele para a AIC em São Paulo e eu fui junto com séries como o Dr. Kildare, que eu dirigia aqui no Rio. Daí, apareceu mais uma temporada de Bonanza que foi mandada direto para a AIC, eu fiquei dirigindo e fazendo o Joe e escalei o Garcia Neto para fazer o pai; o Adam era o Carlos Campanile e o Hoss era o Carlos Alberto Vaccari, que teve um tumor no cérebro e desaprendeu a ler. Ele fez a série comigo sem saber ler. Eu dizia as falas e ele repetia dublando. O Vaccari é a voz que fala “Versão Brasileira, AIC São Paulo”, uma voz grossa, bonita, também narrou Perdidos no Espaço. Por isso as vozes foram mudadas, mas não houve muita diferença não, porque tinha uma certa semelhança. Três dos dubladores que fizeram o pai já morreram, o do Hoss também morreu. Da turma do Rio, só tem eu e o Isaac vivos.
 
TVS: Vamos falar de Batman.
 
Rg: Essa série foi trazida ao Brasil pelo Victor Berbara em 1966, se não me falha a memória, Newton da Matta fazendo o Batman e eu fazendo o Robin. Os dois primeiros anos foram dublados pelo Newton da Matta, que aliás é o melhor Batman que já apareceu.
 
TVS: Nós estamos falando do Batman com Adam West? Porque, pelas vozes, nós identificamos Gervásio Marques (1° e 2° ano de produção), Celso Vasconcelos e Waldir Fiori (3° ano de produção).
 
Rg: Começou assim, Newton da Matta e eu, Batman e Robin. Nós começamos essa série aqui no Rio de Janeiro. Fizemos dois anos, o Newton da Matta saiu e entrou Waldir Fiori, fazendo o papel do Batman. A partir daí, a série foi pra São Paulo, quando o Gervásio Marques pegou o Batman. Depois, apareceu mais alguns episódios que foram feito no Rio com o Luiz Manoel como Robin. Hoje ele é dono da Sincrovídeo aqui no Rio. Naquela época, o Celso nem sonhava em dublar, nem sabíamos quem era ele. O Celso não dublou o Batman.
 
TVS: Ele já dublava nessa época, fez O Rei dos Ladrões, Os Guerrilheiros, e mais tarde foi a 2ª voz do Columbo. Você não está confundindo o Celso com o da Matta (a voz do Bruce Willis em A Gata e o Rato)? O da Matta fez o Batman no desenho dos Super Amigos. (observação: veja quadro explicativo na página 45).
 
Rg: Não, Newton da Matta, foi quem dublou o Batman, aliás, brilhantemente. Apesar do Gervásio Marques em São Paulo ter feito muito bem também. Depois houve alguns capítulos espalhados. Então aqui no Rio, chegaram os desenhos e, se não me falha a memória o Carlos Marques fez o Robin porque eu estava em São Paulo. Teve muita gente fazendo Batman assim como o Flipper. Eu e o Luiz Manoel fizemos os garotos do Flipper desde o começo, mas depois trocaram e ficou uma salada. Às vezes a gente tava fora, tava fazendo teatro ou televisão, então botavam outros. Não havia o cuidado que passou a ter mais tarde em manter a voz.
 
TVS: O que você acha da série?
 
Rg: Eu achava que eles representavam acima do normal. Parecia àquela representação antiga, nós achávamos aquilo ridículo. Mas quando eu passei a dirigir a dublagem, eu comecei a ver a alma de cada ator porque precisava passar essa idéia para os demais dubladores.
 
TVS: E como é que você trabalhou a voz do Robin?
 
Rg: Eu fui em cima dele. Porque a dublagem é uma imitação da vida. A nossa vitória é um empate. Se nós conseguirmos fazer igual ao que ele ta fazendo, entre interpretação e voz, aí nós somos imperiosos. Às vezes, o ator de lá é um canastrão e a gente melhora aqui. Porque às vezes, a inflexão deles é fria, são ricos em inflexões, não há dúvida nenhuma, são belíssimos atores. Pelo amor de Deus, nada contra. Nenhuma vírgula contra eles.  Mas representam diferente de nós. O ator brasileiro chora mais, se emociona mais. Eles choram com a “lá-grima seca”, quetinhos, e em geral, não se desesperam. Ficam com o rosto parado, sem contrair. De um modo geral, o cinema mostra só uma lágrima correndo. O latino não, ele fez beiço, faz careta, mostra as amídalas. Então quando a gente dubla as inflexões, nós carregamos mais para a nossa forma de entendimento.
 
TVS: Em Batman, Roddy McDowall participou de um episódio como o Traça. Você já era seu dublador oficial nesta época?
 
Rg: Já, mas eu tive que passa-lo para outra pessoa porque eu tava com o Robin; eu escolhi o Marcelo Gastaldi, que ficou famoso como Chaves e o Chapolin. O Gastaldi era formado em Direito e teve um estúdio chamado Maga. Ele já faleceu, é uma pena!
 
TVS: Agora vamos falar de Planeta dos Macacos.
 
Rg: Ah, ótimo!
 
TVS: Pra nós Roddy MacDowall e a sua voz se casam com perfeição.
 
Rg: Ele tem a voz mais grave que a minha mas eu faço exatamente o que ele faz. Aquela forma de interpretar é over, né? Ele acentua muito as coisas, ele representa muito. Sabe quem ele me lembra que fazia sempre isso? O Rodolfo Maia. Ele representava daquele jeito. Eu fiquei com o jeitinho do McDowall. Eu paro onde não pode parar pra mudar de inflexão no meio do caminho porque era assim que ele fazia. No estúdio, antes da gente ver as imagens, lemos o roteiro, mas quando chegava a hora de gravar o McDowall, ele falava diferente de todo mundo. Impressionante, eu gostava muito de dubla-lo. O Roberto Macedo chegou a dublar o McDowall, mas a sua voz é muito grossa pro ator, por isso, o Roberto tinha que colocar a voz bem lá em cima. O McDowall exagerava, ele usava todas as escalas. Eu acho isso formidável. No Planeta dos Macacos, ele sabia tudo sobre a série e os filmes, sabia os textos dele e dos outros. Então, enquanto os outros estavam falando, ele fazia muito os sons de macaco. Lá, nos Estados Unidos, todos os filmes são dublados pelos atores antes de ir ao ar e naquela época, eles já gravavam em pistas. Isto significa que cada ator tem sua voz gravada em uma pista de som diferente, as vozes não se misturam em uma pista só. Então o que que acontece? Lá, eles podem aumentar e diminuir a voz de cada um, sem prejudicar a de ninguém. Aqui, naquela época, nós gravávamos todos os atores juntos em uma pista só. Aí, o som de macaco atrapalhava a fala do outro, por isso, nós tivemos que tirar. Hoje não, hoje nós gravamos cada voz em uma pista.
 
TVS: Quando os filmes e a série do Planeta dos Macacos foram dublados?
 
Rg: Acho que foi em 1973 ou 1974. Eu não tenho certeza. A dubladora que fazia a voz de uma das macacas no episódio O Interrogatório morreu este ano. Seu nome era Diana Morel. Ela fez a Angie Dickson em Police Woman uma voz linda e grave. Fumava que era uma miséria.
 
TVS: Isso que é uma miséria, dublador fumando!
 
Rg: Naquela época, todo mundo fumava dentro do estúdio. Olha que horror que era!
 
TVS: Vamos falar um pouco sobre animação. É bom dublar desenho?
 
Rg: São coisas muito sutis, que a gente que dirige sabe. O desenho é uma dublagem. Só que é necessário que o ator tenha alma, humor, dom, porque é diferente. A dublagem do desenho é mais exagerada. Tem gente que não consegue fazer desenho porque é muito difícil, nós procuramos fazer e criar em cima de coisas nossas. Nós imitamos o original mas com toques nossos.
 
TVS: O que acha mais agradável, desenho, filme ou série?
 
Rg: Tudo, tudo! Tudo é agradável quando o filme é bom. Você tem que unir o útil ao agradável. Há filmes profundamente desagradáveis. Esses de explosão o dia inteiro. Aquilo é bobagem! Eu acho que a arte tem um grande compromisso com a mensagem, sem precisar ser piegas. Hoje em dia, a TV só passa filme de pancadaria...desculpe eu discriminar isso, mas eu não gosto. Cadê aqueles filmes maravilhosos como o E O Vento Levou? Não precisam fazer todo o E O Vento Levou,mas um filme que tenha uma estória. Mostrem a bravura de uma mulher, mostrem a coragem de um povo. No Brasil, você tem o Viriato Correia, por exemplo, autor que já faleceu. Tem estórias brasileiras lindíssimas aí no Rio Grande do Sul. No nordeste tem os canudos, os 20 do forte de Pernambuco. Pó, resistiram aos holandeses e eram só 20!
 
TVS: Então era melhor dublar antes do que agora.
 
Rg: Pela qualidade dos filmes era muito melhor! Nós dublávamos muita comédia. Eu dublei muito Jack Lemmon quando mocinho. Eu dublava sempre o Mickey Rooney. Outros também o dublaram, mas eu era a voz oficial dele. Eu sempre fui fã do Mickey Rooney. Ele ta vivo ainda. Eu li que ele era considerado o maior ator de todos os tempos, apesar de ser o menor. É como o Chaplin.
 
TVS: O que melhorou e o que piorou na sua profissão?
 
Rg: A qualidade de som melhorou, ficou mais confortável porque nós dublamos um a um, em pistas diferentes, como se faz lá nos Estados Unidos. Nós não precisamos mais dublar juntos, mas, em contrapartida, quando dublávamos juntos nós tínhamos mais clima. Era uma coisa mais gostosa, porque um respondia ao outro na hora, era mais engraçado e divertido.
 
TVS: A gravação em pistas diferentes só ajudam na qualidade de som?
 
Rg: Não, também dá para corrigir os atores um a um, porque casa um dubla de um jeito, então o diretor tem que estar atento. Por exemplo se uma pessoa teve que mudar uma fala do tipo “Muito prazer”, porque na hora H o movimento labial não batia, e diz “Como vai?” e a outra responde “O prazer foi todo meu.”, porque não sabe da mudança, o diretor tem que ficar atento para passar isso ao dublador. É uma resposta de verbos, a pessoa muda no verbo, e a outra responde com um verbo diferente. Por isso quando eu dirijo, eu sou chato! Eu não deixo passar isso, não. E outra coisa que acontece: o americano inverte as falas. Por exemplo, o brasileiro diz: “como é que você conheceu a Marta?” já o americano diria “e a Marta, como é que você conheceu?” O outro, não deixa acabar a fala e responde em cima. Então enquanto eu to dizendo “como é que você conhece...” o outro corta respondendo “a Marta?” Aí eu pergunto: como é que ele sabe que eu ia perguntar sobre a Marta? Fica sem sentido para quem está assistindo. Então é preciso inverter a tradução e usar o estilo americano: “E a Marta, como você conheceu?” aí ele pode ser interrompido, porque o nome da pessoa já foi dito. Esse é só um exemplo, há milhares. É preciso cuidar a regência, o sujeito composto, o verbo, senão você ouve “João e Maria foi”. Ai, meu Deus! Eles não foi, foram!
 
TVS: Você acha que isso está acontecendo muito?
 
Rg: Erros sempre ocorrem. Falta de cultura, falta de português. Tem atores despreparados pra estrelar um filme. Só sabem ver se a fala está em sincronismo, mas não sabem português. Sempre houve, e agora mais do que nunca. Porque muita gente dirige confiando que o ator sabe concertar as falas.
 
TVS: O diretor fica o tempo todo com o ator?
 
Rg: Ele fica dirigindo o filme um a um. Dirige inflexão, intenção, senão, como é que fica? Eu lembro de uma mulher que cantou “Ah, minha mãe morreu, lá, lá, lá”. Toda alegre! Quer dizer, deveria estar triste e tava alegre. Não devia gostar da mãe! O nível de interpretação caiu muito. Erra-se, a fala fica grande, a fala fica curta, ou o dublador tropeça na fala, erra a frase ou uma palavra e o diretor tem que corrigir, senão vai ao ar assim. Mas muitos erros são causados pela velocidade que precisamos ter para finalizar um filme. Dublamos um longa-metragem em 8 horas. Às vezes até menos. Tem um longa-metragem que passou esses dias, sobre um casal que se encontra num trem e conversa o tempo todo. Só os dois. Esse filme deve ter feito em 4 horas. O dublador brasileiro precisa ter muito reflexo além do próprio talento. O dublador americano tem mais tempo para dublar, levam uma semana, até 20 dias pra dublar um longa-metragem. Nós vamos no peito e na raça. Eles ensaiam muito. Aqui nós não ensaiamos. Nós entramos direto e vamos dublando. Aconteceu uma coisa curiosa há muitos anos, em 1950 ou 51, por aí. Na época, nós líamos o texto em grupo antes de começar a gravar. Nossa prática vem daí, nós ensaiamos na leitura. Os americanos estavam acompanhando a leitura quando o diretor apareceu e disse: “vamos gravar”. Eles não entenderam. Aí nós fomos pro estúdio representar aquilo que havíamos lido minutos antes. Eles ficaram espantadíssimos e diziam: “Mas como gravar agora? Eles têm que levar o roteiro para casa, estudar as inflexões”. Não, gravamos na hora. Eles saíram daqui tontos. Com isso, o dublador brasileiro ficou muito rápido, ainda assim é bom ator, embora tenha exceções. Você vê aí na televisão, tem atores maravilhosos, como o Marco Nanini, a Fernanda Montenegro, o Paulo Autran e o Raul Cortês, pelo amor de Deus, que aula aquele homem dá de representação!
 
TVS: As pessoas reconhecem sua voz na rua?
 
Rg: Quando eu falava pro alto, se tinha muito barulho, aí as pessoas diziam: “Ah, parece o Robin”. Na Rádio Nacional era mais conhecido, porque nós fazíamos 12, 13 programas por dia. Então a voz era mais manjada. No interior, era só chegar numa cidadezinha e conversar com alguém, matava a charada. Você vê, ainda hoje, você, a Fernanda e o rapaz que está ajudando vocês, o Carlos Amorim, que são jovens, estão se interessando. Eu posso dizer que a maioria se interessa porque existe muita curiosidade a respeito de uma coisa é realmente interessante. Como é que faz? Como é que se processa? Porque, o público só vê o filme prontinho. Não sabem o que se passa dentro do estúdio. Houve uma época, com a Formiga Atômica, que eu morava na Ilha do Governador, aí eu chegava com o carro pra estacionar, e não conseguia me aproximar da garagem porque a criançada subia no carro e pedia: “rio, faz a voz a Formiga Atômica!” Aí, eu ficava meia hora fazendo a voz da formiga. Eu ia rouco pra casa, mas as crianças ficavam felizes. Havia essa festa e a curiosidade continua a mesma.
 

TVS: Em que ano foi a dublagem da Formiga Atômica?
 
Rg: Acho que é de 1968. A garotada que me festejava já está toda casada e com filhos.
 
TVS: Um lista do que já dublou.
 
Rg: Ah, meu Deus, isso aí é muito difícil! Pra quem dubla desde o início! Essa rapaziada toda que está aí sendo dublada por outros, eu já tinha dublado, por exemplo, o Jeff Bridges e o irmão dele, Beau Bridges, dublei muito os dois. Aquele que era parente dos Kennedys, Peter Lawford, tem também o George Hamilton, um rapaz muito bonito, os filmes do Mickey Rooney quando ele era garoto. Eu fiz Meus Filhos e Eu, o São Francisco de Assis, em Irmão Sol, Irmão Lua, o Romeu em Romeu e Julieta, do Zefirelli. O Walter Nebischer em Automan, que era o Garcia Jr., Agentes da Felicidade, junto com o Celso Vasconcelos, o Louis Gossett Jr. Em Inimigo Meu. Tem o Alan na dublagem original de Thunderbirds, uma beleza de série!
 
TVS: E Seres do Amanha, você se lembra? Você fazia o John, o líder de um grupo de jovens com poderes extra sensoriais.
 
Rg: Não lembro dessa. São quase 12 mil filmes! Tem séries que eu não lembro. Eu fiz uma em São Paulo chamada A Garota Mais Feia do Mundo. Nunca vi em lugar nenhum. Era um rapaz que se vestia de mulher. No original era The Ugly não sei o que, não lembro. Hoje eu faço o Iago no Alladin, mas ele traga a minha voz.
 

TVS: Como te escolheram para fazer o Iago?
 
Rg: Fizeram 15 ou 20 testes com outras vozes. Eu não tinha feito o teste para esse personagem mas para outro em outro filme. Aí mandaram os testes para os Estados Unidos e eles escreveram perguntando porque não davam para o Iago aquela voz que fez o teste para aquele outro filme?
 
TVS: Como é isso? O pessoal lá escolhe?
 
Rg: Eles não só estão escolhendo as vozes lá, como também estão mixando.
 
TVS: Faz a dublagem aqui e manda pra lá?
 
Rg: Isso, porque os americanos têm melhor aparelhagem. Mas não são todos os estúdios que fazem isso. A Herbert Richers mixa seus filmes pra televisão, A Delart, por exemplo, é capaz de fazer tudo isso. Antigamente, nós fazíamos todas as mixagens aqui.
 
TVS: Você falou que o Iago estraga tua voz?
 
Rg: Muito. Eu gravo o Iago sozinho, então, imagine, faço aquela voz, e é abaixo do meu tom, por duas ou três horas seguidas. Eu fico totalmente rouco. Vou para casa e fico em silêncio. Não dublo mais nada, nem no dia seguinte. Fico completamente rouco. Não dá pra dublar mesmo se eu quisesse, a não ser que fosse um tipo de voz rouca. Eu gosto muito de vozes graves como a do Jorge Ramos, que faz o Cyborg em O Homem de Seis Milhões de Dólares e o Skar de O Rei Leão. Tem o Márcio Seixas, que é a voz mais bonita que existe no mundo, é um presente de Deus. O Charlton Heston ficaria encantado. O Márcio é um irmãozão, sabe. Eu brinco com ele dizendo que não gosto, que odeio a voz dele porque não é minha! Eu arrebentei as minhas cortas vocais. Sempre fiz papel dramático desde menino, de choro, de grito, descontrolado, neuróticos. Então forcei muito a minha garganta.
 
TVS: E o que você está fazendo atualmente, além do Iago?
 
Rg: Estou na Sincrovídeo fazendo muitos programas para o Discovery. Aqueles programas, graças a Deus, de valor cultural. Dirigi uma série chamada Máquina do Tempo, que aliás é uma beleza. Tudo meio maluco, por exemplo, a Rainha Vitória dança rumba. Mas tem cultura de uma forma bem irreverente, assim eles guardam quem ela foi, é muito interessante. Também estou dirigindo o desenho Gato-Cão e dirigi a redublagem de Speed Racer.
 
TVS: Por que tem tanta redublagem?
 
Rg: Porque antigamente a dublagem era feita em fita magnética. A dublagem é a mesma, a forma de gravar é que é outra. Agora é tudo gravado junto, em teipe, na mesma fita que tem a imagem. Antes era gravada em 16mm. Então como fazia? Gravava no magnético, que era separado da imagem, depois passava pro negativo de som, depois levava para o laboratório. Tinha que ser tudo fechado, em câmera escura, não podia ter claridade. To falando de som, não de imagem. Então, era revelado o som no laboratório, para depois tirar o negativo da imagem e o som para o negativo de imagem. Do negativo da imagem e som já mixados, era tirado o positivo, que era a cópia final. Nesse processo, havia uma perda constante de som quando passava de um para outro sistema. Então, antigamente, tínhamos o resultado de 60% do som. Agora, gravando direto no vídeo, nós temos 100%. Outro motivo para redublarem é que as emissoras estão com uma aparelhagem mais sofisticada. Para fazer uma comparação, hoje o som é de Cd, os filmes antigos estão em fita magnética ou Lps antigos, muito antigos, com aquele chiado todo.
 
TVS: Coisa antiga tem que ter chiadinho!
 
Rg: Pois é, até podiam guardar como registro da história. Mas sabe como é o comércio, a televisão não quer saber disso. Precisa ter qualidade de som para botar no ar porque acham que, não tendo, as pessoas mudam de canal. É a tecnologia moderna. Mas eles bem que podiam guardar a dublagem antiga para preservar a história e ter registrada todas aquelas vozes. Atores com Gualter de França, Ribeiro Santos, Magalhães Graça, Garcia Neto e muitos outros que fizeram dublagem nos primórdios da televisão, já morreram e suas vozes estão sumindo.
 
TVS: É uma pena porque é um período da história da televisão brasileira que se perde pra sempre!
 
Rg: É verdade! O Luís Motta, por exemplo, que dublou o Hoss do Bonanza, fazia o Telly Savalas em Kojak. Se, de repente, redublagem Kojak, a voz do Motta vai embora. E era uma voz preciosíssima, belíssima, forte. Quando ele morreu, nós só fomos informados um mês depois.
 
TVS: Agora use sua memória para contar sobre as brincadeiras de dublagem em Batman.
 
Rg: Não tem nada gravado. Apagaram tudo. Nós brincávamos muito com relação ao Batman e Robin porque achávamos que o Batman era bicha. Afinal, um homem de trinta e poucos anos, bonito, forte, rico, saudável, ta fazendo o que com o garoto? Esse era um comentário internacional e nós também achamos isso no começo! Aí, colocaram a Batgirl, e tem também a Mulher-gato, pra ver se ele namorava. Nunca deu em nada. Você vê que todos os galãs tiveram uma namorada: o Tarzan teve a Jane, o Superman a Lois Lane, o Fantasma, a Diana, o Ferdinando, a Violeta, cada um teve uma companheira e o Batman não tinha. Nós sentimos isso na série e a gente gozava mesmo daquele jeito falso de representar, que não era falso, era de propósito, além do gato do Batman não ter uma garota e ter um garoto sempre por perto, então nós fazíamos brincadeiras, nós substituíamos as falas por falas de sacanagem. Fazíamos outras estórias.
 

TVS: E o diretor o que fazia?
 
Rg: Ele participava também! Eu dublei muita sacanagem.
 
TVS: Chegou a passar alguma coisa?
 
Rg: Não! Sói dentro do estúdio. A gente apagava imediatamente.
 
TVS: Isso aí era interessante de ter mantido, de guardar.
 
Rg: Pois é, como o Vídeo Show guarda os erros das novelas. Eles não apagam, vão em frente. Depois passam no Vídeo Show. É muito interessante, o povo fica esperando pra ver quais foram os erros. A gente se matava de rir quando nos engasgávamos com as falas, e na televisão então, quando era ao vivo e não tinha socorro! Pedir socorro a quem?
 
TVS: Você trabalhou em novelas?
 
Rg: Trabalhei. Fiz A Menina do Ribeiro Azul, A Pequena Órfã, e mais 2 novelas das 20h, que não lembro o nome, junto com o Paulo Goulart que fazia um Walter e eu fazia o outro. Imagine você, a mocinha era a Natalia Timberg e hoje ela é vovó. Lindíssima!
 
TVS: Você gostaria de deixar uma mensagem final?
 
Rg: Eu quero cumprimentar vocês por esse trabalho, porque vocês estão fazendo a história da dublagem. Formidável isso! Ninguém tinha se preocupado ainda. O que vocês estão fazendo é um trabalho espetacular, fora do comum. E pergunto, como é que vocês se interessam por isso, quando existe tanta gente falando mal da dublagem, dizendo que é sub-arte? Muitos atores de televisão tentam e não conseguem, porque a dublagem não é só saber atuar, precisa de reflexo e um autocontrole muito grande, é uma representação que não é a nossa. Nós temos que fazer o tamanho que eles fizeram lá, sendo que o idioma deles é sintético e o nosso é maior. Português fala mais, por isso, tem que falar rápido sem parecer que ta cuspindo, sem tirar a inflexão deles, precisa se fazer entender, sem tirar a velocidade deles. Vê que coisa impressionante e maravilhosa. Um bom dublador é tudo isso, apesar de já termos filhos da dublagem, ou seja, aqueles que não sabem atuar como ator, mas sabem dublar muito bem.
 
TVS: Muitas dublagens são verdadeiras obras de arte.
 
Rg: Exatamente. Algumas são maravilhosas e o triste é que muita gente já se foi sem reconhecimento nenhum. O Waldir Guedes, que fez o magro da dupla O Gordo e O Magro, apesar do som ser antigo, foi um dos maiores dubladores do mundo e já morreu. Lá nos Estados Unidos, os desenhos são feitos em cima do som que é gravado primeiro. Por exemplo, eles me pegam, me levam pro estúdio para fazer um gato. Eu gravo as falas do meu jeito e aí é que eles vão fazer a imagem, em cima da inflexão do ator que fez o que o diretor pediu. Eles fazem o desenho em cima das falas. Aqui, não. Nós pegamos o desenho feito e gravamos em cima. É muito mais difícil. Muitos dubladores brasileiros são a alma dos desenhos americanos veja o Older Cazarré e seu filho, tem o Waldir Guedes, o Lima Duarte, o Henrique Martins. Toda essa gente que fez desenhos desde 1959, eles criaram interpretações maravilhosas. O Fred Flintstone por exemplo, é o Marthus Mathias. Ainda tem a Líria Marçal, que já morreu, uma das vozes femininas mais bonitas que eu já ouvi. Lindíssima, ela fez a Jeannie é Um Gênio, no Chaparral, fez a Linda Cristal. Eu lamentei sua morte, chorei muito. Estes são meus colegas de trabalho, gente que eu amo, que estão me ajudando a ganhar a vida. Levo sempre uma mensagem de amor no meu trabalho, ponho tudo em dia, para trabalhar num ambiente agradável. É claro que não gosto que pisem no meu calo, que aí dói. “Puxa Batman, pisaram no meu calo”! Por isso, eu fico muito feliz de vocês estarem fazendo esse trabalho. A vocês, meu eterno agradecimento!
 
Marta Machado
Fernanda Furquim
 
Nota 1: Rodney citou que ele teria iniciado na dublagem em 1959, e que a dublagem no Rio e de São Paulo também teriam começado nessa época, mas ele se enganou, ele pode ter até começado em 1959, mas não a dublagem como um todo, pois em São Paulo começou em 1957, e no Rio em 1958.
 
Nota 2: Ele cita sobre grandes dubladores que já se foram, e cita; Older Cazarré e seu filho; ele se engana nesta parte também, pois Cazarré nunca teve um filho na dublagem, talvez tenha se referido a Olney Cazarré, irmão mais novo de Older, talvez pela diferença de idade confundiu que seriam pai e filho. Olney Cazarré foi outro dos grandes dubladores do Brasil, era ótimo tanto em séries quanto em desenhos, e também foi diretor de dublagem, junto com o irmão, iniciando com o mesmo na AIC, em São Paulo.
 
A DUBLAGEM DE BATMAN

Conseguir listar os nomes dos dubladores da série tornou-se uma tarefa difícil devido ao grande número de profissionais que gravaram suas vozes, à falta de registro por escrito (apenas sonoro) e ao tempo, que fez com que muito dubladores não se lembrassem de todos, sendo que a maioria já morreu. Ainda estamos, no momento do fechamento desta edição, tentando listar os nomes que faltaram. No entanto, ao longo de nossa pesquisa, surgiu a informação de que o personagem Batman teria sido dublado por Newton da Matta, Gervásio Marques e Waldyr Fiori. A convicção com que vários dubladores nos passaram tal informação nos deixou surpresas visto que, ao ouvir as vozes de cada um dos episódios, podemos identificar nitidamente o registro de três vozes para este personagem: Gervásio Marques como Batman e Rodney Gomes como Robin, nos dois primeiros anos de produção; no terceiro ano, quando entra a Batgirl, as vozes são de Celso Vasconcellos como Batman e Henrique Ogalla como Robin, sendo que, em alguns episódios desta fase temos Waldyr Fiori como Batman e Luiz Manoel como Robin.
 
Contatamos Celso Vasconcellos que confirmou ter dublado o personagem nesta fase. Na época, ele tinha 16 anos e trabalhava como ator na Rádio Nacional e dublador em casas do Rio. No final dos Anos de 1960, Celso dublava Al Mundy (Robert Wagner) em O Rei dos Ladrões, passando por Batman, quando dividiu o personagem com Fiori. Vasconcellos também foi responsável pelas vozes do Chefe (Brendon Boone) em Os Guerrilheiros, a 2ª voz do Columbo (Peter Falk), substituindo Nilton Valério, 1ª voz de Danny (James MacCarthur) em Havaí 5-0 (sendo substituído por André Filho) e a 1ª voz de John Boy em Os Waltons, série que dublou por cinco anos sendo substituído por Ary Coslov que, por sua vez, foi substituído por Cláudio Cavalcanti. Mas recentemente, Celso foi a voz de John Cage (Peter McNichol) em Ally McBeal.
 
Quando a Newton da Matta, sua voz não encontra-se em nenhum episódio da série, dublando Batman, mas no desenho animado da Filmation de 1977 e no Super Amigos, 2ª e 3ª fases, sendo 3ª, no original, dublada por Adam West e, talvez, tenha sido esta a origem da confusão.
 
A lista dos dubladores da série está na próxima página. Abaixo, listamos as vozes em português das versões animadas.
 
Batman (Filmation 1968-1970 Este desenho foi redublado. Estamos listando os nomes da 1ª Dublagem)
Bruce Wayne / Batman (Gervásio Marques), Dick Grayson / Robin (Rodney Gomes), Bárbara Gordon / Batgirl (???), Alfred (José Vieira)

As Novas Aventuras de Batman (Filmation 1977)
Batman (Newton da Matta), Robin (Carlos Marques), Batgirl (Vera Miranda), Bat-Mirim (Cleonir Santos)

Super Amigos
1973-1976:
Batman: Maurício Barroso e Robin: Carlos Marques
1977-1978:
Batman: Newton da Matta e Robin: Carlos Marques
1978:
Batman: Nilton Valério e Robin: Carlos Marques
1984-1985:
Batman: Newton da Matta e Robin: Carlos Marques

O Novo Batman (Batman: The Animated Series – 1992-1997)
Batman (Márcio Seixas e Maurício Berger), Robin (Alexandre Moreno e Robson Hichers), Nightwing (Alexandre Moreno), Batgirl (Ângela Bonatti), Alfred (Ayrton Cardoso), Hamilton (Roberto Macedo e Waldir Fiori), Gordon (Isaac Bardavid, Roberto Macedo e Orlando Drummond), Bullock (José Santa Cruz e André Belizar), Coringa (Darcy Pedrosa), Mulher-Gato (Marlene Costa), Pinguim (Mauro Ramos), Charada (Élcio Romar), Chapeleiro Louco (Márcio Simões), Sr. Gelo (Miguel Rosenberg, Nilton Valério e Mario Cardoso), Duas Caras (José Santana), Hera Venenosa (Sumara Louise e Fernanda Fernandes), Arlequina (Iara Rica), Renee Montoya (Isis Koschdoski), Rupert Thorne (Luiz Brandão), Croc (Leonardo José e Paulo Flores) e Espantalho (Ionei Silva e Hamilton Ricardo)

Batman do Futuro (Batman Beyond - 1999...)
Bruce (Roberto Macedo), Derek (José Santana) e Batman (Clécio Souto)
 
Nota do Casa da Dublagem: Diante de toda a confusão feita, tanto por Rodney Gomes como pelos entrevistadores, vamos botar os pingos nos is; Primeiramente a dublagem da série Batman chegou na TV Cinesom em 1966 como Rodney disse, as 2 primeiras temporadas foram dubladas por Newton da Matta e Rodney Gomes. Já a 3ª temporada foi dublada um tempo depois, e não sabemos se por se tratar de outro diretor responsável pela série, ou por Newton e Rodney estarem ausentes, foi escalado outros profissionais em seus lugares, que foram Waldir Fiori e Luiz Manoel, que dublaram toda a terceira temporada.

Alguns anos depois, não sabemos a razão, se por incêndio ou pedido de outra emissora, a série foi redublada na AIC São Paulo, e como ficou a cargo de Rodney, que já estava em São Paulo e também era diretor de dublagem, se auto-escala para Robin, e escolhe Gervásio para Batman, redublando assim as mesmas duas temporadas que foram dubladas por ele e Da Matta anos antes na TV Cinesom. Com a saída do diretor, dublador e tradutor Hélio Porto da AIC, é levado consigo boas distribuidoras, uma delas é a que distribuía Batman, e parte para o Rio de Janeiro, aonde compra a TV Cinesom de Victor Berbara, e lá recebe a última temporada de Batman, que pede para Celso Vasconcellos e Henrique Ogalla; que haviam partido pro Rio há pouco tempo; dublarem.

As alegações de Rodney eram que Celso nunca tinha dublado o Batman, porque ele nem sonhava em ser dublador na época. De fato na época da 1ª dublagem ele não era dublador. Nem em São Paulo ele estava; local ao qual Celso começou a carreira de dublador; Já nessa 2ª dublagem que Rodney desconhece, por estar trabalhando em São Paulo na época, Celso participa, até porque na época Celso já havia iniciado em São Paulo e partido pra dublando no Rio.
 
O Fator de ainda creditarmos Waldir Fiori e Luiz Manoel, que se tem cerca de 4 episódios com a voz dos mesmos, é pela questão de apenas esses 4 episódios terem sido salvos da primeira dublagem. Nós não sabemos o porque, se foi a própria TV Cinesom que os achou, ou eles faltavam ou foram perdidos e a emissora que pediu a redublagem conseguiu eles com a emissora antiga que passou Batman, ou as emissoras seguintes não acharam esses episódios e acharam na primeira emissora que fora exibida a série, e juntou com a 2ª dublagem.

O fato é que essas duas dublagens foram comprovadas, e a comprovação de ter sido mantido cerca de 4 episódios da 1ª dublagem na terceira temporada, foi do pesquisador de dublagem Marco Antônio ter reparado que esses 4 episódios tinham dubladores secundários totalmente diferentes dos demais secundários dos outros episódios desta temporada, e também se tratava de dubladores que eram do início da TV Cinesom, o que não condizia com essa época, que era posterior ao início da empresa.

Outros fatores que comprova isso é Luiz Manoel ter boa lembrança que dublou Robin na série, e Waldir Fiori sempre ter sido chamado depois daí para dublar o Batman em varias aparições do herói, juntamente com Newton da Matta. Não lembrariam de os escalarem nos respectivos personagens se suas aparições se restringissem em dublar personagens em apenas 4 episódios de uma série.

Uma confusão e tanto, que não tinha como não enrolar a cabeça dos dubladores e dos pesquisadores, mas que foi explicado neste parecer do nosso site.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Total de visualizações de página