Entrevista com Rodney Gomes para a edição N° 26 de
Outubro / Novembro de 1999, aonde Rodney conta
um pouco de sua carreira no rádio e na dublagem.
Um
dos “monstros sagrados” da dublagem brasileira
chama-se Rodinei Gomes; além de ser uma das
vozes de Robin, Gomes também foi diretor de
dublagem da série Batman enquanto ela era
gravada na AIC em São Paulo. Outros trabalhos
famosos de Rodinei são Radar, da série M.a.s.h,
a qual também dirigiu, Little Joe, em Bonanza, a
“poderosa Formiga Atômicaaaaaaa! E muitos outros
como vocês verão nesta entrevista da TV Séries (TVS)
como Rodinei Gomes (Rg).
TVS:
Vamos começar do começo...onde e quando você
nasceu?
Rg:
Eu nasci em Sorocaba estado de São Paulo dia 3
de Agosto de 1936.
TVS:
Como você começou sua carreira de ator?
Rg:
Eu estava num baile infantil no Flamengo, quando
um senhor me chamou e perguntou se eu queria
trabalhar no cinema. Eu disse que sim; Aí ele me
mandou num apartamento pertinho do Flamengo,
onde encontrei a Gilda de Abreu. Foi ela que me
abriu a porta e disse: “To procurando um garoto
como você”. Eu tinha 10 pra 11 anos e era bem
pequenininho. Isso foi no domingo, na segunda eu
já estava na antiga Cinédia em São Cristóvão,
nem fiz teste, fui logo fazendo o filme
Pinguinho de Gente. Mas como filmaram muita
coisa, eles cortaram duas estórias paralelas e
aí, entre no corte. Mas minha imagem ficou por
lá e, no ano seguinte, fui chamado para fazer
Obrigado Doutor, com Rodolfo Maia. Foi um
sucesso nacional ficando 3 meses em cartaz em
1948. Daí, fui para a Rádio Mauá, onde me
colocaram em um programa que eu tive que animar
por 15 minutos. Eles quiseram me contratar, mas
naquela época, o juizado de menores não deixava.
Nesse meio tempo, virei um garoto prodígio,
desculpe eu fazer essa comparação. Naquela
época, as crianças eram muito fechadas e eu já
era cara-de-pau, falava e discutia com todo
mundo. Fiz teatro infantil no Sesi e vozes de
fantoches. Em 1949, fiz teste com a Isis de
Oliveira e entrei para a Rádio Nacional. Em
1957, além de teatro, comecei a fazer televisão,
fiz TV Rio, TV Tupi, depois TV Excelsior em São
Paulo, fui contratado lá como rádio ator e como
escritor de novelas, isso em 1967. Em 1959, nós
começamos a dublagem.
TVS:
E a sua família, te incentivava?
Rg:
Muito, muito. E como! Eles me ajudaram muito.
Baixaram festa pelo sucesso do filho. Imagine,
eu não sabia o que era o sucesso. Não
tinha o entendimento ainda. Porque um garoto com
12 anos hoje, sabe tudo. As revistas e a
televisão inundaram a vida das crianças. Mas
você põe 50 anos lá pra trás, você não sabia
nada. Eu era nadador, atleta do Flamengo, só
queria saber de botão de mesa e do estudo. Eu
fazia o ginásio e depois fiz o clássico, até
chegar a fazer um ano de Direito. Eu era precoce
e muito entrão. Tudo que é festa eu entrava.
Essa era a minha vida.
TVS:
Você foi o único artista da família?
Rg:
O único. Não tinha ninguém pra me ensinar,
aprendi com os diretores. E hoje, posso passar,
modestamente, aquilo que aprendi quando eu
dirijo dublagens e programas de rádio. Eu não
tenho escola de teatro, nem havia na época.
Descobriram que eu tinha essa veia artística, aí
eu desenvolvi. Não sou contra o estudo, mas as
pessoas se desenvolvem é na experiência.
TVS:
Como você entrou na dublagem?
Rg:
Em 1959. Os americanos já sabiam, mas nós não,
que a televisão ia ocupar um espaço muito grande
nas nossas vidas. O Brasil não sabia de nada,
continua não sabendo. Os outros estão mandando e
ele está parado aqui. Meu sentimento de
brasilidade eu encontrei no Rio Grande do Sul.
Verdade, não é pra te agradar não! Um dia eu
estava em Porto Alegre e entrei em uma loja para
comprar um par de botas: “Tem aquela botinha?”,
perguntei, “Qual?”, perguntou o vendedor,
“Aquela, tipo americano.” “Não senhor, nós só
temos tipo gaúcho!!!” Voltando à dublagem, em
59, alguém chegou pra tentar dublar aqui no
Brasil, já preparando o caminho para as séries
americanas, que viriam mais tarde e nós não
sabíamos. Então, nós começamos de um modo
insipiente, onerosa, muito trabalhosa, quase que
inútil.
TVS:
Você foi atrás da dublagem ou ela veio atrás de
você?
Rg:
Tudo começou com os artistas da Rádio Nacional
aqui no Rio. Lá em São Paulo começou um
pouquinho antes. Coisa de 6 meses antes. Lá já
se dublava mais, então já tinham a aparelhagem
apropriada. Nós, aqui no Rio, não tínhamos a
aparelhagem. Imagina, no início o projetor era
de carvão, pra mudar o loop era uma
loucura! Em 59 começamos com nomes como Milton
Rangel, Ribeiro Santos, Mário Monjardim, Newton
da Matta, Carlos Marques, Neuza Tavares. Esses
foram alguns dos que começaram. O Rangel, que
também não sabia nada, ia tentando ensinar.
TVS:
Quem o Milton Rangel dublava?
Rg:
O Rangel foi o Jerônimo na Rádio Nacional,
Jerônimo, o Herói do Sertão. Em dublagem,
ele fazia a série Maverick, é uma voz linda,
lindíssima, ele também dublava o Bat Masterson e
fazia narrações. Foi a alma daqui, aprendeu
primeiro pra ensinar os outros depois. Morreu
muito cedo. Mas deixou aí os filhotes que somos
todos nós. O nosso mais profundo agradecimento
ao Milton Rangel. Vocês não podem esquecer esse
nome. Inclusive, no lugar onde eu dirijo hoje,
existe um estúdio com o nome dele, em homenagem,
e tem outro estúdio, o Ribeiro Santos, que é
guru da gente.
TVS:
Você se lembra qual foi seu primeiro trabalho?
Rg:
Não lembro não. Um filme de cowboy qualquer
feito de forma bem amadora. Acho que nem foi pro
ar, provavelmente foi uma experiência pra ver
quem tinha reflexo e quem não tinha, porque
ninguém sabia nada. Soltaram o barco no rio sem
saber pra onde ia. Hoje, quando chega uma pessoa
leiga, a gente ensina, naquela época, ninguém
tinha bússola. Nós não sabíamos pra onde ir.
Como começar a falar? E era estranho ouvir a voz
da gente em outro cara. No rádio, a voz era
nossa, mas na TV, nós tínhamos que repetir a
representação de outra pessoa, dar a inflexão no
mesmo tempo que o original fez. E fomos indo,
porque a dublagem passou a ser um ganha-pão
lateral, que, de repente, se transformou no
principal.
TVS:
Qual foi seu primeiro papel importante?
Rg:
Deve ter sido Bonanza em 1961, mas eu já tinha
dublado muita coisa. Só que nós não pensávamos
no trabalho da dublagem como algo muito
importante não. Era só mais um trabalho. Não
sabíamos que a dublagem ia chegar a esse estágio
que chegou hoje, com grandes empresas.
TVS:
Vamos falar de Bonanza, como foi escolhido pra
ser o Little Joe?
Rg:
Nesta época a dublagem já estava com atores
vindo da Rádio Nacional, que era a maioria,
Rádio Tupi, Rádio Mayrink Veiga e tinha o
pessoal de teatro e da televisão. Aí veio um
americano acompanhado de um espanhol, que
montaram um estúdio e por ali chegou a série
Bonanza, que pertencia a esse americano, o
representante da série aqui no Brasil. Fizeram
testes com 15 vozes jovens e eu fui o último. Eu
nem queria fazer, porque estava estudando e as
gravações seriam bem na hora do meu estudo, mas
fui fazer o teste. Quando eu cheguei lá, o
americano tava na técnica com o espanhol – que
hoje é dono da Delart – Eu fiz o teste e o
americano disse: “Põe a voz mais pra cima, mais
menino.” Aí eu botei a voz um pouquinho mais pra
cima e ele disse: “Ok.” Aí eu fui aprovado e fiz
uma das séries mais bonitas que a televisão já
teve. Nós gravamos 7 temporadas com, mais ou
menos, 37 episódios cada. Na história, era só o
pai com os 3 filhos homens e tinha moral, sem
ser piegas. Eles davam conselhos sem ser
paternalistas. Tinha um episódio muito
interessante que contava a estória do
guarda-chuva, que apareceu no século passado.
Tinha estórias lindas, muitas sobre os
irlandeses que colonizaram os Estados Unidos.
Aquelas danças todas de quadrilha é tudo do
irlandês e também toda aquela moral e religião.
TVS:
Em Bonanza teve bastante mudança de voz, no
entanto a sua continuou.
Rg:
Foi por acaso. Começou com 4 atores no Rio:
Miguel Rosenberg era o pai, Isaac Bardavid era o
Adam; Luís Motta era o Hoss e eu fazia o Little
Joe. O Rio de Janeiro fez 6 temporadas e a
sétima foi para São Paulo com 39 episódios. Eu
dirigi a dublagem em São Paulo por isso a voz do
Joe não mudou. Mas houve trocas de vozes quando
a série ainda estava no Rio por exemplo, o
Miguel Rosenberg teve alguns problemas e em seu
lugar entro o Gualter de França para dublar o pai,
depois ele foi substituído pelo Ribeiro Santos.
Daí foi a vez do Hoss, aquele grandão, o Motta
saiu e entrou o Milton Gonçalves, que nem
dublador era, era ator de televisão, mas era
muito inteligente e fez muito bem o Hoss.
Depois, terminaram os episódios e o grupo se
dispersou quando a Peri Filmes fechou as portas.
O Norman, dono do estúdio, mandou as séries dele
para a AIC em São Paulo e eu fui junto com
séries como o Dr. Kildare, que eu dirigia aqui
no Rio. Daí, apareceu mais uma temporada de
Bonanza que foi mandada direto para a AIC, eu
fiquei dirigindo e fazendo o Joe e escalei o
Garcia Neto para fazer o pai; o Adam era o
Carlos Campanile e o Hoss era o Carlos Alberto
Vaccari, que teve um tumor no cérebro e
desaprendeu a ler. Ele fez a série comigo sem
saber ler. Eu dizia as falas e ele repetia
dublando. O Vaccari é a voz que fala “Versão
Brasileira, AIC São Paulo”, uma voz grossa,
bonita, também narrou Perdidos no Espaço. Por
isso as vozes foram mudadas, mas não houve muita
diferença não, porque tinha uma certa
semelhança. Três dos dubladores que fizeram o
pai já morreram, o do Hoss também morreu. Da
turma do Rio, só tem eu e o Isaac vivos.
TVS:
Vamos falar de Batman.
Rg:
Essa série foi trazida ao Brasil pelo Victor
Berbara em 1966, se não me falha a memória,
Newton da Matta fazendo o Batman e eu fazendo o
Robin. Os dois primeiros anos foram dublados
pelo Newton da Matta, que aliás é o melhor
Batman que já apareceu.
TVS:
Nós estamos falando do Batman com Adam West?
Porque, pelas vozes, nós identificamos Gervásio
Marques (1° e 2° ano de produção), Celso
Vasconcelos e Waldir Fiori (3° ano de produção).
Rg:
Começou assim, Newton da Matta e eu, Batman e
Robin. Nós começamos essa série aqui no Rio de
Janeiro. Fizemos dois anos, o Newton da Matta
saiu e entrou Waldir Fiori, fazendo o papel do
Batman. A partir daí, a série foi pra São Paulo,
quando o Gervásio Marques pegou o Batman.
Depois, apareceu mais alguns episódios que foram
feito no Rio com o Luiz Manoel como Robin. Hoje
ele é dono da Sincrovídeo aqui no Rio. Naquela
época, o Celso nem sonhava em dublar, nem
sabíamos quem era ele. O Celso não dublou o
Batman.
TVS:
Ele já dublava nessa época, fez O Rei dos
Ladrões, Os Guerrilheiros, e mais tarde foi a 2ª
voz do Columbo. Você não está confundindo o
Celso com o da Matta (a voz do Bruce Willis em A
Gata e o Rato)? O da Matta fez o Batman no
desenho dos Super Amigos. (observação: veja
quadro explicativo na página 45).
Rg:
Não, Newton da Matta, foi quem dublou o Batman,
aliás, brilhantemente. Apesar do Gervásio
Marques em São Paulo ter feito muito bem também.
Depois houve alguns capítulos espalhados. Então
aqui no Rio, chegaram os desenhos e, se não me
falha a memória o Carlos Marques fez o Robin
porque eu estava em São Paulo. Teve muita gente
fazendo Batman assim como o Flipper. Eu e o Luiz Manoel fizemos os garotos do Flipper desde o
começo, mas depois trocaram e ficou uma salada.
Às vezes a gente tava fora, tava fazendo teatro
ou televisão, então botavam outros. Não havia o
cuidado que passou a ter mais tarde em manter a
voz.
TVS:
O que você acha da série?
Rg:
Eu achava que eles representavam acima do
normal. Parecia àquela representação antiga, nós
achávamos aquilo ridículo. Mas quando eu passei
a dirigir a dublagem, eu comecei a ver a alma de
cada ator porque precisava passar essa idéia
para os demais dubladores.
TVS:
E como é que você trabalhou a voz do Robin?
Rg:
Eu fui em cima dele. Porque a dublagem é uma
imitação da vida. A nossa vitória é um empate.
Se nós conseguirmos fazer igual ao que ele ta
fazendo, entre interpretação e voz, aí nós somos
imperiosos. Às vezes, o ator de lá é um
canastrão e a gente melhora aqui. Porque às
vezes, a inflexão deles é fria, são ricos em
inflexões, não há dúvida nenhuma, são belíssimos
atores. Pelo amor de Deus, nada contra. Nenhuma
vírgula contra eles. Mas representam diferente
de nós. O ator brasileiro chora mais, se
emociona mais. Eles choram com a “lá-grima
seca”, quetinhos, e em geral, não se desesperam.
Ficam com o rosto parado, sem contrair. De um
modo geral, o cinema mostra só uma lágrima
correndo. O latino não, ele fez beiço, faz
careta, mostra as amídalas. Então quando a gente
dubla as inflexões, nós carregamos mais para a
nossa forma de entendimento.
TVS:
Em Batman, Roddy McDowall participou de um
episódio como o Traça. Você já era seu dublador
oficial nesta época?
Rg:
Já, mas eu tive que passa-lo para outra pessoa
porque eu tava com o Robin; eu escolhi o Marcelo
Gastaldi, que ficou famoso como Chaves e o
Chapolin. O Gastaldi era formado em Direito e
teve um estúdio chamado Maga. Ele já faleceu, é
uma pena!
TVS:
Agora vamos falar de Planeta dos Macacos.
Rg:
Ah, ótimo!
TVS:
Pra nós Roddy MacDowall e a sua voz se casam com
perfeição.
Rg:
Ele tem a voz mais grave que a minha mas eu faço
exatamente o que ele faz. Aquela forma de
interpretar é over, né? Ele acentua muito
as coisas, ele representa muito. Sabe quem ele
me lembra que fazia sempre isso? O Rodolfo Maia.
Ele representava daquele jeito. Eu fiquei com o
jeitinho do McDowall. Eu paro onde não pode
parar pra mudar de inflexão no meio do caminho
porque era assim que ele fazia. No estúdio,
antes da gente ver as imagens, lemos o roteiro,
mas quando chegava a hora de gravar o McDowall,
ele falava diferente de todo mundo.
Impressionante, eu gostava muito de dubla-lo. O
Roberto Macedo chegou a dublar o McDowall, mas a
sua voz é muito grossa pro ator, por isso, o
Roberto tinha que colocar a voz bem lá em
cima. O McDowall exagerava, ele usava todas as
escalas. Eu acho isso formidável. No Planeta dos
Macacos, ele sabia tudo sobre a série e os
filmes, sabia os textos dele e dos outros.
Então, enquanto os outros estavam falando, ele
fazia muito os sons de macaco. Lá, nos Estados
Unidos, todos os filmes são dublados pelos
atores antes de ir ao ar e naquela época, eles
já gravavam em pistas. Isto significa que cada
ator tem sua voz gravada em uma pista de som
diferente, as vozes não se misturam em uma pista
só. Então o que que acontece? Lá, eles podem
aumentar e diminuir a voz de cada um, sem
prejudicar a de ninguém. Aqui, naquela época,
nós gravávamos todos os atores juntos em uma
pista só. Aí, o som de macaco atrapalhava a fala
do outro, por isso, nós tivemos que tirar. Hoje
não, hoje nós gravamos cada voz em uma pista.
TVS:
Quando os filmes e a série do Planeta dos
Macacos foram dublados?
Rg:
Acho que foi em 1973 ou 1974. Eu não tenho
certeza. A dubladora que fazia a voz de uma das
macacas no episódio O Interrogatório morreu este
ano. Seu nome era Diana Morel. Ela fez a Angie
Dickson em Police Woman uma voz linda e grave.
Fumava que era uma miséria.
TVS:
Isso que é uma miséria, dublador fumando!
Rg:
Naquela época, todo mundo fumava dentro do
estúdio. Olha que horror que era!
TVS:
Vamos falar um pouco sobre animação. É bom
dublar desenho?
Rg:
São coisas muito sutis, que a gente que dirige
sabe. O desenho é uma dublagem. Só que é
necessário que o ator tenha alma, humor, dom,
porque é diferente. A dublagem do desenho é mais
exagerada. Tem gente que não consegue fazer
desenho porque é muito difícil, nós procuramos
fazer e criar em cima de coisas nossas. Nós
imitamos o original mas com toques nossos.
TVS:
O que acha mais agradável, desenho, filme ou
série?
Rg:
Tudo, tudo! Tudo é agradável quando o filme é
bom. Você tem que unir o útil ao agradável. Há
filmes profundamente desagradáveis. Esses de
explosão o dia inteiro. Aquilo é bobagem! Eu
acho que a arte tem um grande compromisso com a
mensagem, sem precisar ser piegas. Hoje em dia,
a TV só passa filme de pancadaria...desculpe eu
discriminar isso, mas eu não gosto. Cadê aqueles
filmes maravilhosos como o E O Vento Levou? Não
precisam fazer todo o E O Vento Levou,mas um
filme que tenha uma estória. Mostrem a bravura
de uma mulher, mostrem a coragem de um povo. No
Brasil, você tem o Viriato Correia, por exemplo,
autor que já faleceu. Tem estórias brasileiras
lindíssimas aí no Rio Grande do Sul. No nordeste
tem os canudos, os 20 do forte de Pernambuco.
Pó, resistiram aos holandeses e eram só 20!
TVS:
Então era melhor dublar antes do que agora.
Rg:
Pela qualidade dos filmes era muito melhor! Nós
dublávamos muita comédia. Eu dublei muito Jack
Lemmon quando mocinho. Eu dublava sempre o
Mickey Rooney. Outros também o dublaram, mas eu
era a voz oficial dele. Eu sempre fui fã do
Mickey Rooney. Ele ta vivo ainda. Eu li que ele
era considerado o maior ator de todos os tempos,
apesar de ser o menor. É como o Chaplin.
TVS:
O que melhorou e o que piorou na sua profissão?
Rg:
A qualidade de som melhorou, ficou mais
confortável porque nós dublamos um a um, em
pistas diferentes, como se faz lá nos Estados
Unidos. Nós não precisamos mais dublar juntos,
mas, em contrapartida, quando dublávamos juntos
nós tínhamos mais clima. Era uma coisa mais
gostosa, porque um respondia ao outro na hora,
era mais engraçado e divertido.
TVS:
A gravação em pistas diferentes só ajudam na
qualidade de som?
Rg:
Não, também dá para corrigir os atores um a um,
porque casa um dubla de um jeito, então o
diretor tem que estar atento. Por exemplo se uma
pessoa teve que mudar uma fala do tipo “Muito
prazer”, porque na hora H o movimento labial não
batia, e diz “Como vai?” e a outra responde “O
prazer foi todo meu.”, porque não sabe da
mudança, o diretor tem que ficar atento para
passar isso ao dublador. É uma resposta de
verbos, a pessoa muda no verbo, e a outra
responde com um verbo diferente. Por isso quando
eu dirijo, eu sou chato! Eu não deixo passar
isso, não. E outra coisa que acontece: o
americano inverte as falas. Por exemplo, o
brasileiro diz: “como é que você conheceu a
Marta?” já o americano diria “e a Marta, como é
que você conheceu?” O outro, não deixa acabar a
fala e responde em cima. Então enquanto eu to
dizendo “como é que você conhece...” o outro
corta respondendo “a Marta?” Aí eu pergunto:
como é que ele sabe que eu ia perguntar sobre a
Marta? Fica sem sentido para quem está
assistindo. Então é preciso inverter a tradução
e usar o estilo americano: “E a Marta, como você
conheceu?” aí ele pode ser interrompido, porque
o nome da pessoa já foi dito. Esse é só um
exemplo, há milhares. É preciso cuidar a
regência, o sujeito composto, o verbo, senão
você ouve “João e Maria foi”. Ai, meu Deus! Eles
não foi, foram!
TVS:
Você acha que isso está acontecendo muito?
Rg:
Erros sempre ocorrem. Falta de cultura, falta de
português. Tem atores despreparados pra estrelar
um filme. Só sabem ver se a fala está em
sincronismo, mas não sabem português. Sempre
houve, e agora mais do que nunca. Porque muita
gente dirige confiando que o ator sabe concertar
as falas.
TVS:
O diretor fica o tempo todo com o ator?
Rg:
Ele fica dirigindo o filme um a um. Dirige
inflexão, intenção, senão, como é que fica? Eu
lembro de uma mulher que cantou “Ah, minha mãe
morreu, lá, lá, lá”. Toda alegre! Quer dizer,
deveria estar triste e tava alegre. Não devia
gostar da mãe! O nível de interpretação caiu
muito. Erra-se, a fala fica grande, a fala fica
curta, ou o dublador tropeça na fala, erra a
frase ou uma palavra e o diretor tem que
corrigir, senão vai ao ar assim. Mas muitos
erros são causados pela velocidade que
precisamos ter para finalizar um filme. Dublamos
um longa-metragem em 8 horas. Às vezes até
menos. Tem um longa-metragem que passou esses
dias, sobre um casal que se encontra num trem e
conversa o tempo todo. Só os dois. Esse filme
deve ter feito em 4 horas. O dublador brasileiro
precisa ter muito reflexo além do próprio
talento. O dublador americano tem mais tempo
para dublar, levam uma semana, até 20 dias pra
dublar um longa-metragem. Nós vamos no peito e
na raça. Eles ensaiam muito. Aqui nós não
ensaiamos. Nós entramos direto e vamos dublando.
Aconteceu uma coisa curiosa há muitos anos, em
1950 ou 51, por aí. Na época, nós líamos o texto
em grupo antes de começar a gravar. Nossa
prática vem daí, nós ensaiamos na leitura. Os
americanos estavam acompanhando a leitura quando
o diretor apareceu e disse: “vamos gravar”. Eles
não entenderam. Aí nós fomos pro estúdio
representar aquilo que havíamos lido minutos
antes. Eles ficaram espantadíssimos e diziam:
“Mas como gravar agora? Eles têm que levar o
roteiro para casa, estudar as inflexões”. Não,
gravamos na hora. Eles saíram daqui tontos. Com
isso, o dublador brasileiro ficou muito rápido,
ainda assim é bom ator, embora tenha exceções.
Você vê aí na televisão, tem atores
maravilhosos, como o Marco Nanini, a Fernanda
Montenegro, o Paulo Autran e o Raul Cortês, pelo
amor de Deus, que aula aquele homem dá de
representação!
TVS:
As pessoas reconhecem sua voz na rua?
Rg:
Quando eu falava pro alto, se tinha muito
barulho, aí as pessoas diziam: “Ah, parece o
Robin”. Na Rádio Nacional era mais conhecido,
porque nós fazíamos 12, 13 programas por dia.
Então a voz era mais manjada. No interior, era
só chegar numa cidadezinha e conversar com
alguém, matava a charada. Você vê, ainda hoje,
você, a Fernanda e o rapaz que está ajudando
vocês, o Carlos Amorim, que são jovens, estão se
interessando. Eu posso dizer que a maioria se
interessa porque existe muita curiosidade a
respeito de uma coisa é realmente interessante.
Como é que faz? Como é que se processa? Porque,
o público só vê o filme prontinho. Não sabem o
que se passa dentro do estúdio. Houve uma época,
com a Formiga Atômica, que eu morava na Ilha do
Governador, aí eu chegava com o carro pra
estacionar, e não conseguia me aproximar da
garagem porque a criançada subia no carro e
pedia: “rio, faz a voz a Formiga Atômica!” Aí,
eu ficava meia hora fazendo a voz da formiga. Eu
ia rouco pra casa, mas as crianças ficavam
felizes. Havia essa festa e a curiosidade
continua a mesma.
TVS:
Em que ano foi a dublagem da Formiga Atômica?
Rg:
Acho que é de 1968. A garotada que me festejava
já está toda casada e com filhos.
TVS:
Um lista do que já dublou.
Rg:
Ah, meu Deus, isso aí é muito difícil! Pra quem
dubla desde o início! Essa rapaziada toda que
está aí sendo dublada por outros, eu já tinha
dublado, por exemplo, o Jeff Bridges e o irmão
dele, Beau Bridges, dublei muito os dois. Aquele
que era parente dos Kennedys, Peter Lawford, tem
também o George Hamilton, um rapaz muito bonito,
os filmes do Mickey Rooney quando ele era
garoto. Eu fiz Meus Filhos e Eu, o São Francisco
de Assis, em Irmão Sol, Irmão Lua, o Romeu em
Romeu e Julieta, do Zefirelli. O Walter
Nebischer em Automan, que era o Garcia Jr.,
Agentes da Felicidade, junto com o Celso
Vasconcelos, o Louis Gossett Jr. Em Inimigo Meu.
Tem o Alan na dublagem original de Thunderbirds,
uma beleza de série!
TVS:
E Seres do Amanha, você se lembra? Você fazia o
John, o líder de um grupo de jovens com poderes
extra sensoriais.
Rg:
Não lembro dessa. São quase 12 mil filmes!
Tem séries que eu não lembro. Eu fiz uma em São
Paulo chamada A Garota Mais Feia do Mundo. Nunca
vi em lugar nenhum. Era um rapaz que se vestia
de mulher. No original era The Ugly não sei o
que, não lembro. Hoje eu faço o Iago no Alladin,
mas ele traga a minha voz.
TVS:
Como te escolheram para fazer o Iago?
Rg:
Fizeram 15 ou 20 testes com outras vozes. Eu não
tinha feito o teste para esse personagem mas
para outro em outro filme. Aí mandaram os testes
para os Estados Unidos e eles escreveram
perguntando porque não davam para o Iago aquela
voz que fez o teste para aquele outro filme?
TVS:
Como é isso? O pessoal lá escolhe?
Rg:
Eles não só estão escolhendo as vozes lá,
como também estão mixando.
TVS:
Faz a dublagem aqui e manda pra lá?
Rg:
Isso, porque os americanos têm melhor
aparelhagem. Mas não são todos os estúdios que
fazem isso. A Herbert Richers mixa seus filmes
pra televisão, A Delart, por exemplo, é capaz de
fazer tudo isso. Antigamente, nós fazíamos todas
as mixagens aqui.
TVS:
Você falou que o Iago estraga tua voz?
Rg:
Muito. Eu gravo o Iago sozinho, então, imagine,
faço aquela voz, e é abaixo do meu tom, por duas
ou três horas seguidas. Eu fico totalmente
rouco. Vou para casa e fico em silêncio. Não
dublo mais nada, nem no dia seguinte. Fico
completamente rouco. Não dá pra dublar mesmo se
eu quisesse, a não ser que fosse um tipo de voz
rouca. Eu gosto muito de vozes graves como a do
Jorge Ramos, que faz o Cyborg em O Homem de Seis
Milhões de Dólares e o Skar de O Rei Leão. Tem o
Márcio Seixas, que é a voz mais bonita que
existe no mundo, é um presente de Deus. O
Charlton Heston ficaria encantado. O Márcio é um
irmãozão, sabe. Eu brinco com ele dizendo que
não gosto, que odeio a voz dele porque não é
minha! Eu arrebentei as minhas cortas vocais.
Sempre fiz papel dramático desde menino, de
choro, de grito, descontrolado, neuróticos.
Então forcei muito a minha garganta.
TVS:
E o que você está fazendo atualmente, além do
Iago?
Rg:
Estou na Sincrovídeo fazendo muitos programas
para o Discovery. Aqueles programas, graças a
Deus, de valor cultural. Dirigi uma série
chamada Máquina do Tempo, que aliás é uma
beleza. Tudo meio maluco, por exemplo, a Rainha
Vitória dança rumba. Mas tem cultura de uma
forma bem irreverente, assim eles guardam quem
ela foi, é muito interessante. Também estou
dirigindo o desenho Gato-Cão e dirigi a
redublagem de Speed Racer.
TVS:
Por que tem tanta redublagem?
Rg:
Porque antigamente a dublagem era feita em fita
magnética. A dublagem é a mesma, a forma de
gravar é que é outra. Agora é tudo gravado
junto, em teipe, na mesma fita que tem a imagem.
Antes era gravada em 16mm. Então como fazia?
Gravava no magnético, que era separado da
imagem, depois passava pro negativo de som,
depois levava para o laboratório. Tinha que ser
tudo fechado, em câmera escura, não podia ter
claridade. To falando de som, não de imagem.
Então, era revelado o som no laboratório, para
depois tirar o negativo da imagem e o som para o
negativo de imagem. Do negativo da imagem e som
já mixados, era tirado o positivo, que era a
cópia final. Nesse processo, havia uma perda
constante de som quando passava de um para outro
sistema. Então, antigamente, tínhamos o
resultado de 60% do som. Agora, gravando direto
no vídeo, nós temos 100%. Outro motivo para
redublarem é que as emissoras estão com uma
aparelhagem mais sofisticada. Para fazer uma
comparação, hoje o som é de Cd, os filmes
antigos estão em fita magnética ou Lps antigos,
muito antigos, com aquele chiado todo.
TVS:
Coisa antiga tem que ter chiadinho!
Rg:
Pois é, até podiam guardar como registro da
história. Mas sabe como é o comércio, a
televisão não quer saber disso. Precisa ter
qualidade de som para botar no ar porque acham
que, não tendo, as pessoas mudam de canal. É a
tecnologia moderna. Mas eles bem que podiam
guardar a dublagem antiga para preservar a
história e ter registrada todas aquelas vozes.
Atores com Gualter de França, Ribeiro Santos,
Magalhães Graça, Garcia Neto e muitos outros que
fizeram dublagem nos primórdios da televisão, já
morreram e suas vozes estão sumindo.
TVS:
É uma pena porque é um período da história da
televisão brasileira que se perde pra sempre!
Rg:
É verdade! O Luís Motta, por exemplo, que dublou
o Hoss do Bonanza, fazia o Telly Savalas em
Kojak. Se, de repente, redublagem Kojak, a voz
do Motta vai embora. E era uma voz preciosíssima,
belíssima, forte. Quando ele morreu, nós só
fomos informados um mês depois.
TVS:
Agora use sua memória para contar sobre as
brincadeiras de dublagem em Batman.
Rg:
Não tem nada gravado. Apagaram tudo. Nós
brincávamos muito com relação ao Batman e Robin
porque achávamos que o Batman era bicha. Afinal,
um homem de trinta e poucos anos, bonito, forte,
rico, saudável, ta fazendo o que com o garoto?
Esse era um comentário internacional e nós
também achamos isso no começo! Aí, colocaram a
Batgirl, e tem também a Mulher-gato, pra ver se
ele namorava. Nunca deu em nada. Você vê que
todos os galãs tiveram uma namorada: o Tarzan
teve a Jane, o Superman a Lois Lane, o Fantasma,
a Diana, o Ferdinando, a Violeta, cada um teve
uma companheira e o Batman não tinha. Nós
sentimos isso na série e a gente gozava mesmo
daquele jeito falso de representar, que não era
falso, era de propósito, além do gato do Batman
não ter uma garota e ter um garoto sempre por
perto, então nós fazíamos brincadeiras, nós
substituíamos as falas por falas de sacanagem.
Fazíamos outras estórias.
TVS:
E o diretor o que fazia?
Rg:
Ele participava também! Eu dublei muita
sacanagem.
TVS:
Chegou a passar alguma coisa?
Rg:
Não! Sói dentro do estúdio. A gente apagava
imediatamente.
TVS:
Isso aí era interessante de ter mantido, de
guardar.
Rg:
Pois é, como o Vídeo Show guarda os erros das
novelas. Eles não apagam, vão em frente. Depois
passam no Vídeo Show. É muito interessante, o
povo fica esperando pra ver quais foram os
erros. A gente se matava de rir quando nos
engasgávamos com as falas, e na televisão então,
quando era ao vivo e não tinha socorro! Pedir
socorro a quem?
TVS:
Você trabalhou em novelas?
Rg:
Trabalhei. Fiz A Menina do Ribeiro Azul, A
Pequena Órfã, e mais 2 novelas das 20h, que não
lembro o nome, junto com o Paulo Goulart que
fazia um Walter e eu fazia o outro. Imagine
você, a mocinha era a Natalia Timberg e hoje ela
é vovó. Lindíssima!
TVS:
Você gostaria de deixar uma mensagem final?
Rg:
Eu quero cumprimentar vocês por esse trabalho,
porque vocês estão fazendo a história da
dublagem. Formidável isso! Ninguém tinha se
preocupado ainda. O que vocês estão fazendo é um
trabalho espetacular, fora do comum. E pergunto,
como é que vocês se interessam por isso, quando
existe tanta gente falando mal da dublagem,
dizendo que é sub-arte? Muitos atores de
televisão tentam e não conseguem, porque a
dublagem não é só saber atuar, precisa de
reflexo e um autocontrole muito grande, é uma
representação que não é a nossa. Nós temos que
fazer o tamanho que eles fizeram lá, sendo que o
idioma deles é sintético e o nosso é maior.
Português fala mais, por isso, tem que falar
rápido sem parecer que ta cuspindo, sem tirar a
inflexão deles, precisa se fazer entender, sem
tirar a velocidade deles. Vê que coisa
impressionante e maravilhosa. Um bom dublador é
tudo isso, apesar de já termos filhos da
dublagem, ou seja, aqueles que não sabem atuar
como ator, mas sabem dublar muito bem.
TVS:
Muitas dublagens são verdadeiras obras de arte.
Rg:
Exatamente. Algumas são maravilhosas e o triste
é que muita gente já se foi sem reconhecimento
nenhum. O Waldir Guedes, que fez o magro da
dupla O Gordo e O Magro, apesar do som ser
antigo, foi um dos maiores dubladores do mundo e
já morreu. Lá nos Estados Unidos, os desenhos
são feitos em cima do som que é gravado
primeiro. Por exemplo, eles me pegam, me levam
pro estúdio para fazer um gato. Eu gravo as
falas do meu jeito e aí é que eles vão fazer a
imagem, em cima da inflexão do ator que fez o
que o diretor pediu. Eles fazem o desenho em
cima das falas. Aqui, não. Nós pegamos o desenho
feito e gravamos em cima. É muito mais difícil.
Muitos dubladores brasileiros são a alma dos
desenhos americanos veja o Older Cazarré e seu
filho, tem o Waldir Guedes, o Lima Duarte, o
Henrique Martins. Toda essa gente que fez
desenhos desde 1959, eles criaram interpretações
maravilhosas. O Fred Flintstone por exemplo, é o
Marthus Mathias. Ainda tem a Líria Marçal, que
já morreu, uma das vozes femininas mais bonitas
que eu já ouvi. Lindíssima, ela fez a Jeannie é
Um Gênio, no Chaparral, fez a Linda Cristal. Eu
lamentei sua morte, chorei muito. Estes são meus
colegas de trabalho, gente que eu amo, que estão
me ajudando a ganhar a vida. Levo sempre uma
mensagem de amor no meu trabalho, ponho tudo em
dia, para trabalhar num ambiente agradável. É
claro que não gosto que pisem no meu calo, que
aí dói. “Puxa Batman, pisaram no meu calo”! Por
isso, eu fico muito feliz de vocês estarem
fazendo esse trabalho. A vocês, meu eterno
agradecimento!
Marta Machado
Fernanda Furquim
Nota
1: Rodney citou que ele teria iniciado na
dublagem em 1959, e que a dublagem no Rio e de
São Paulo também teriam começado nessa época,
mas ele se enganou, ele pode ter até começado em
1959, mas não a dublagem como um todo, pois em
São Paulo começou em 1957, e no Rio em 1958.
Nota
2: Ele cita sobre grandes dubladores que já se
foram, e cita; Older Cazarré e seu filho; ele se
engana nesta parte também, pois Cazarré nunca
teve um filho na dublagem, talvez tenha se
referido a Olney Cazarré, irmão mais novo de
Older, talvez pela diferença de idade confundiu
que seriam pai e filho. Olney Cazarré foi outro
dos grandes dubladores do Brasil, era ótimo
tanto em séries quanto em desenhos, e também foi
diretor de dublagem, junto com o irmão,
iniciando com o mesmo na AIC, em São Paulo.
A
DUBLAGEM DE BATMAN
Conseguir listar os nomes dos dubladores da
série tornou-se uma tarefa difícil devido ao
grande número de profissionais que gravaram suas
vozes, à falta de registro por escrito (apenas
sonoro) e ao tempo, que fez com que muito
dubladores não se lembrassem de todos, sendo que
a maioria já morreu. Ainda estamos, no momento
do fechamento desta edição, tentando listar os
nomes que faltaram. No entanto, ao longo de
nossa pesquisa, surgiu a informação de que o
personagem Batman teria sido dublado por Newton
da Matta, Gervásio Marques e Waldyr Fiori. A
convicção com que vários dubladores nos passaram
tal informação nos deixou surpresas visto que,
ao ouvir as vozes de cada um dos episódios,
podemos identificar nitidamente o registro de
três vozes para este personagem: Gervásio
Marques como Batman e Rodney Gomes como Robin,
nos dois primeiros anos de produção; no terceiro
ano, quando entra a Batgirl, as vozes são de
Celso Vasconcellos como Batman e Henrique Ogalla
como Robin, sendo que, em alguns episódios desta
fase temos Waldyr Fiori como Batman e Luiz Manoel como Robin.
Contatamos Celso Vasconcellos que confirmou ter
dublado o personagem nesta fase. Na época, ele
tinha 16 anos e trabalhava como ator na Rádio
Nacional e dublador em casas do Rio. No final
dos Anos de 1960, Celso dublava Al Mundy (Robert
Wagner) em O Rei dos Ladrões, passando por
Batman, quando dividiu o personagem com Fiori.
Vasconcellos também foi responsável pelas vozes
do Chefe (Brendon Boone) em Os Guerrilheiros, a
2ª voz do Columbo (Peter Falk), substituindo
Nilton Valério, 1ª voz de Danny (James
MacCarthur) em Havaí 5-0 (sendo substituído por
André Filho) e a 1ª voz de John Boy em Os
Waltons, série que dublou por cinco anos sendo
substituído por Ary Coslov que, por sua vez, foi
substituído por Cláudio Cavalcanti. Mas
recentemente, Celso foi a voz de John Cage
(Peter McNichol) em Ally McBeal.
Quando a Newton da Matta, sua voz não
encontra-se em nenhum episódio da série,
dublando Batman, mas no desenho animado da
Filmation de 1977 e no Super Amigos, 2ª e 3ª
fases, sendo 3ª, no original, dublada por Adam
West e, talvez, tenha sido esta a origem da
confusão.
A lista dos dubladores da série está na próxima
página. Abaixo, listamos as vozes em português
das versões animadas.
Batman (Filmation 1968-1970
–
Este desenho foi redublado. Estamos listando os
nomes da 1ª Dublagem)
Bruce Wayne / Batman (Gervásio Marques), Dick Grayson / Robin (Rodney Gomes), Bárbara Gordon / Batgirl (???), Alfred (José Vieira) As Novas Aventuras de Batman (Filmation 1977) Batman (Newton da Matta), Robin (Carlos Marques), Batgirl (Vera Miranda), Bat-Mirim (Cleonir Santos) Super Amigos 1973-1976: Batman: Maurício Barroso e Robin: Carlos Marques 1977-1978: Batman: Newton da Matta e Robin: Carlos Marques 1978: Batman: Nilton Valério e Robin: Carlos Marques 1984-1985: Batman: Newton da Matta e Robin: Carlos Marques O Novo Batman (Batman: The Animated Series – 1992-1997) Batman (Márcio Seixas e Maurício Berger), Robin (Alexandre Moreno e Robson Hichers), Nightwing (Alexandre Moreno), Batgirl (Ângela Bonatti), Alfred (Ayrton Cardoso), Hamilton (Roberto Macedo e Waldir Fiori), Gordon (Isaac Bardavid, Roberto Macedo e Orlando Drummond), Bullock (José Santa Cruz e André Belizar), Coringa (Darcy Pedrosa), Mulher-Gato (Marlene Costa), Pinguim (Mauro Ramos), Charada (Élcio Romar), Chapeleiro Louco (Márcio Simões), Sr. Gelo (Miguel Rosenberg, Nilton Valério e Mario Cardoso), Duas Caras (José Santana), Hera Venenosa (Sumara Louise e Fernanda Fernandes), Arlequina (Iara Rica), Renee Montoya (Isis Koschdoski), Rupert Thorne (Luiz Brandão), Croc (Leonardo José e Paulo Flores) e Espantalho (Ionei Silva e Hamilton Ricardo) Batman do Futuro (Batman Beyond - 1999...) Bruce (Roberto Macedo), Derek (José Santana) e Batman (Clécio Souto)
Nota do Casa da Dublagem: Diante de toda a
confusão feita, tanto por Rodney Gomes como
pelos entrevistadores, vamos botar os pingos nos
is; Primeiramente a dublagem da série Batman
chegou na TV Cinesom em 1966 como Rodney disse,
as 2 primeiras temporadas foram dubladas por
Newton da Matta e Rodney Gomes. Já a 3ª
temporada foi dublada um tempo depois, e não
sabemos se por se tratar de outro diretor
responsável pela série, ou por Newton e Rodney
estarem ausentes, foi escalado outros
profissionais em seus lugares, que foram Waldir
Fiori e Luiz Manoel, que dublaram toda a
terceira temporada. Alguns anos depois, não
sabemos a razão, se por incêndio ou pedido de
outra emissora, a série foi redublada na AIC São
Paulo, e como ficou a cargo de Rodney, que já
estava em São Paulo e também era diretor de
dublagem, se auto-escala para Robin, e escolhe
Gervásio para Batman, redublando assim as mesmas
duas temporadas que foram dubladas por ele e Da
Matta anos antes na TV Cinesom. Com a saída do
diretor, dublador e tradutor Hélio Porto da AIC,
é levado consigo boas distribuidoras, uma delas
é a que distribuía Batman, e parte para o Rio de
Janeiro, aonde compra a TV Cinesom de Victor
Berbara, e lá recebe a última temporada de
Batman, que pede para Celso Vasconcellos e
Henrique Ogalla; que haviam partido pro Rio há pouco tempo; dublarem. As alegações de Rodney
eram que Celso nunca tinha dublado o Batman,
porque ele nem sonhava em ser dublador na época. De fato na época da 1ª dublagem ele não
era dublador. Nem em São Paulo ele estava; local
ao qual Celso começou a carreira de dublador; Já
nessa 2ª dublagem que Rodney desconhece,
por estar trabalhando em São Paulo na época,
Celso participa, até porque na época Celso já
havia iniciado em São Paulo e partido pra
dublando no Rio.
O Fator de ainda creditarmos Waldir Fiori e Luiz Manoel, que se tem cerca de 4 episódios com a
voz dos mesmos, é pela questão de apenas esses 4
episódios terem sido salvos da primeira
dublagem. Nós não sabemos o porque, se foi a
própria TV Cinesom que os achou, ou eles
faltavam ou foram perdidos e a emissora que
pediu a redublagem conseguiu eles com a emissora
antiga que passou Batman, ou as emissoras
seguintes não acharam esses episódios e acharam
na primeira emissora que fora exibida a série, e
juntou com a 2ª dublagem. O fato é que
essas duas dublagens foram comprovadas, e a
comprovação de ter sido mantido cerca de 4
episódios da 1ª dublagem na terceira
temporada, foi do pesquisador de dublagem Marco
Antônio ter reparado que esses 4 episódios
tinham dubladores secundários totalmente
diferentes dos demais secundários dos outros
episódios desta temporada, e também se tratava
de dubladores que eram do início da TV Cinesom,
o que não condizia com essa época, que era
posterior ao início da empresa. Outros fatores que
comprova isso é Luiz Manoel ter boa lembrança
que dublou Robin na série, e Waldir Fiori sempre
ter sido chamado depois daí para dublar o Batman
em varias aparições do herói, juntamente com
Newton da Matta. Não lembrariam de os escalarem nos respectivos personagens se suas aparições se restringissem em dublar personagens em apenas 4 episódios de uma série. Uma confusão e tanto,
que não tinha como não enrolar a cabeça dos
dubladores e dos pesquisadores, mas que foi
explicado neste parecer do nosso site.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário