quarta-feira, 20 de março de 2019

Entrevistas - Cazarré Filho

(Foto: Older Cazarré)

Entrevista realizada em 8 de Outubro de 2012.

Cazarré Filho é operador de sistemas de TV, editor de imagem e operador de som, entre outras funções por trás dos bastidores da TV e do Rádio. Mas também foi ator, começou com o pai ainda garoto em 1975 na novela O Machão, e fez outras novelas como Ídolo de Pano (em 1975 também), Lua Cheia de Amor em 1991, Mapa da Mina em 1993, Kubanacan em 2003, alem de participações em Os Trapalhões. Também trabalhou em dublagem com o pai.

C.D.: Cazarré, como foi a infância com seu pai? Você ia aos estúdios de dublagem com ele?

Cazarré: A infância ao lado do meu pai foi a que todo filho quer de um pai, atenção à família. Embora meu Pai na maioria das vezes esteve viajando à trabalho ficando as vezes muitas semanas longe de casa, ele sempre foi presente a família. Meu Pai sempre que podia me levava aos estúdios da A.I.C São Paulo. Me lembro o dia que fui a pré-estréia da série Terra de Gigantes. Era uma mini-sala de projeção na frente da A.I.C. Me lembro disso até hoje.

Sede da AIC, no Bairro da Lapa em São Paulo

C.D.: O Older Cazarré é considerado um dos pioneiros da dublagem, tendo sido uns dos maiores diretores de dublagem. Como você vê esse titulo que seu pai carrega?

Cazarré: Sim. Meu pai era um excelente ator, diretor e principalmente amigo de todos, ou como dizia meu pai “Boa Praça!!”. Meu Pai se especializou em desenhos e o que ele dublou, e acho que tem a "cara" dele é o Zé Colméia. Lembro que em 1989 chegou mais uns desenhos do Zé Colméia para serem dublados no já fechado estúdio de dublagem Álamo, o Michael (o dono) era muito amigo de meu Pai, e por exigência da distribuidora queriam meu Pai dublando. Assim pagaram passagem e hospedagem para ele, pois ele estava morando no Rio de Janeiro.

Há muito tempo falando com a Helena Samara (já falecida), excelente dubladora e amiga, ela me disse que quando a Série Jornada nas Estrelas chegou ao Brasil para ser dublada, havia até brigas, porque todos queriam dirigir a série. Bons tempos aqueles!! Tenho praticamente todos os filmes e desenhos por ele dublados. Até em cinema o filme de 1973, chamado O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime. Consegui passar de 35mm o filme Pinóquio 2000, ao qual trabalha meu Tio Olney. Passei para DVD, assim como outras raridades aos quais nunca pensei que iria achar de meu pai, eu consegui. Além de duas peças de teatro do meu pai em DVD.

C.D.: Do Pai dublador, quais as lembranças que você tem? Personagens que te marcaram.

Cazarré: As lembranças que tenho são que todos os dias quando vejo televisão, lá está algum desenho com a voz do meu Pai. Me deixa triste por ele não estar mais aqui, mas ao mesmo tempo fica a lembrança dele e a versatilidade em fazer qualquer papel, seja dramático ou cômico. O Zé Colméia e Dom Pixote certamente ficaram na história!!

Zé Colméia e Dom Pixote

C.D.: O Seu pai era ator de cinema e televisão. Fez muita Tupi, e nos anos de 1970 foi para a Rede Globo. Você acredita que a saída dele da dublagem foi apenas referente ao trabalho intenso nas telenovelas, ou houve algo mais que o fez se afastar?

Cazarré: Meu pai deixou a Rede Tupi de Televisão para fazer em 1979 a novela o Amor é Nosso na TV Globo. Meu pai levou teatro a onde até Deus duvida. Praticamente todo o estado de São Paulo meu pai certamente já levou uma peça de Teatro dele. O teatro ocupou muito tempo dele, pois ele era o que fazia divulgação do espetáculo. Vendia o mesmo, montava o cenário, ou seja, tudo dependia dele. Me lembro que quando era pequeno eu participava também, e ganhava uns trocados. Bons tempos aqueles!!!

C.D.: Você tem lembrança de seu pai dizendo qual trabalho que mais gostou de fazer na televisão?

Cazarré: Provavelmente ele diria que foi a novela da TV Tupi em 1975 O Machão, ao qual também participei. Ele fazia o papel do Dr. Cizânio, junto com Antonio Fagundes e Maria Izabel de Lizandra.

O Machão de 1975

C.D.: Uma vez conversando com Silvio Navas, muito amigo de seu pai, ele me disse que ambos faziam apresentações juntos em hotéis e outros lugares. Esse desdobramento do ator para garantir o ganho financeiro, era uma coisa constante na vida de seu pai, ou apenas haviam momentos em que isso era preciso?

Cazarré: Meu pai sempre se desdobrava, dobrava mais uma vez e nunca ficava inteiro!! heheh!! Apenas televisão dava ou dá alguma estabilidade ao ator, pois lá você tem fixo, e é claro convite para comerciais etc.etc. Mas acredito eu, que apenas o Teatro dava satisfação pessoal ao meu pai, e algum retorno financeiro.

C.D.: Havia uma época, mais precisamente na década de 1980, que seu pai dublava tanto no Rio quanto em São Paulo. Era a época que seu pai fazia novela nesses dois pólos? Como era a vida dele, vivendo nessa rotina entre Rio e São Paulo?

Cazarré: Meu pai se mudou para o Rio em 1979. Ficou lá até Dezembro desse mesmo ano. Depois mudou de novo para São Paulo. Depois em 1985 mudou-se para o Rio, onde ficou até morrer em 1992. Mas sempre que era necessário em São Paulo, voltava e depois retornava ao Rio novamente.

C.D.: Eu queria aproveitar e perguntar também sobre seu tio, o Olney. Também foi um grande dublador e diretor de dublagem, e partiu cedo. Você conviveu com ele? Como era a pessoa Olney Cazarré, e quais as lembranças dele como tio e como profissional que você guarda?

Cazarré: O Olney era também boa praça, fez muitas peças de teatro com meu pai. A que me lembro era A História é Uma História e o Homem o Único Animal Que Ri. Correram norte e nordeste com essa peça junto com a atriz Sandra Bréa (já falecida). Isso foi em 1979 até 1981. Olney também foi um excelente ator, diretor de dublagem, ou seja, dois irmãos que fazem muita falta ao meio artístico, sem falar no familiar. Voz do Pica-Pau (desenho), como todos sabem, além do Pato Donald nos desenhos da Disney eram dele. Talento insubstituível assim como meu Pai.
 
Olney Cazarré

C.D.: Cazarré, muito obrigado por esse relato aqui pro nosso site Casa da Dublagem, sobre uma pessoa que foi insubstituível na dublagem, como profissional nota mil que era. Deixe uma mensagem para os vários fãs de seu pai de todas as gerações.

Cazarré: Somente essa semana fiquei sabendo após tanto tempo o fechamento de 3 grandes estúdios de dublagem ao qual um trabalhei, Álamo, Herbert Richers, e VTI Rio. Trabalhei na Álamo em 1996 à 1997. Não dá para acreditar um estúdio tão grande desse com toda aquela infra-estrutura e elenco de dubladores fechar. Uma pena mesmo, passar na frente do mesmo e ver as portas fechadas. Para aqueles que pretendem ingressar nesta área vai à dica de todas as áreas: Perseverança!! Ser ator não é a mesma coisa que dublador, são coisas a meu ver distintas. Tive um bom professor em casa, mas não segui a área, tanto de ator como de dublagem, e como meu pai sempre dizia: Dublagem é uma Arte. Dublagem tem que ser artesanal, mas isso poucos estúdios praticam, principalmente em pronúncias de nomes. Em uma cena se pronuncia de uma forma. 5 minutos depois o mesmo nome mudou para outra pronuncia totalmente diferente do que se ouviu no começo do filme. Abraços!!

Cazarré Filho.

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