quarta-feira, 20 de março de 2019

Artigos de Revistas - Hermes Baroli, Ulisses Bezerra e Francisco Brêtas

Entrevista com Hermes Baroli, Ulisses Bezerra e Francisco Brêtas para a 4ª edição de Julho de 1995 para a revista Animação, contanto sobre suas carreiras e sobre seus personagens em Os Cavaleiros do Zodíaco.


Animação traz mais uma surpresa para você!

Conheça os responsáveis pelas vozes dos Cavaleiros no Brasil, que só agora são revelados em entrevistas que nos deixam um pouco mais por dentro de suas carreiras, não se restringindo apenas a dublagem. Confira neste número os três primeiros: Seiya, Shun e Hyoga. 

Hermes Baroli (Seiya)


Ele é jovem (19 anos). Até os 14 anos, pretendia ser jogador de futebol, mas acabou seguindo outra carreira. Estuda artes dramáticas e inglês e sua voz normal é grave e ritmada. Apreciador de comida italiana e japonesa, não perde a chance de ir a um restaurante com os amigo. É um rapaz de gestos discretos, apesar da informalidade característica da juventude. Assim é Hermes Baroli, que empresta sua voz ao Cavaleiro de Pégaso, Seiya.

Ser jovem não quer dizer falta de experiência.  "Meu primeiro trabalho foi aos 3 meses de idade, na novela O Julgamento da antiga Tv Tupi. Comecei na dublagem aos 10 anos. Com 14, eu passei a fazer teatro e comerciais. Até então, eu queria ser jogador de futebol, mas aí você sabe, né? Comecei a ganhar dinheiro, pegar mais trabalhos... Depois que se pisa no teatro, não dá mais para sair", conta Hermes, que atualmente participa da peça "Help!", em cartaz em São Paulo.

No teatro, atuou em Os Olhos Cor de Metal de James Dean, ao lado de Patrícia Lucchesi e Kate Hansen, e durante 3 meses fez dublagens no Rio de Janeiro.

Antes mesmo de Cavaleiros, Hermes parecia um especialista em séries japonesas. "Faço dublagem há 9 anos. Fiz o irmão do Jiraiya, o Manabu. A primeira série japonesa que fiz foi Jaspion, fiz a voz do Kenta. Participei também de Changeman, Goggle Five e Machine Man. Mais recentemente fiz o Biker, do Winspector. Foi um personagem brincalhão e foi legal, porque eu podia improvisar algumas falas. Era um sarro, porque os três faziam tudo junto, o Firer, o Riker e o Biker e ficava uma zona no estúdio, cara! Tinha hora que a gente ficava uns 5 minutos rindo e não conseguia gravar! Uma bagunça!".

No caso específico de Cavaleiros do Zodíaco, Hermes tem atuado sob a direção de seu pai Gilberto Baroli. A responsabilidade é dobrada e o pai não lhe facilitou nada. "Nesta série especificamente, meu pai virou para mim e disse: "Você está fazendo essa série contra a minha vontade". Foi o Mário (da Gota Mágica) que quis que eu e a minha irmã "Letícia) fizéssemos a série. Meu pai nem pensou em 9 anos de dublagem; ele primeiro pensou que eu era filho e esse negócio de dar papel principal para o filho... sei lá. Mas é que eu e a Letícia tínhamos feito uma locução para um comercial de rádio (acho que foi para a DB Brinquedos, para o Dia dos Namorados), pela Gota Mágica. O Mário gostou do trabalho e quando pintou os Cavaleiros ele logo chamou a gente. Aliás, em dublagem, já perdi a conta de quantas vezes eu fiz o namorado da minha irmã, que nem agora. Eu faço o Seiya e ela, a Saori. "

A grande dificuldade que Hermes sente ao dublar Seiya, é o fato do personagem ser um desenho.  "Num desenho você tem falar longas. O desenho não respira mas a gente tem que respirar. Às vezes o negócio complica. Até que não tive muito problema com o Seiya. Demorei uma semana para me adaptar ao personagem, mas agora tudo bem. Pelo menos é o que diz meu pai..."

O sucesso da série tem sido gratificante para Hermes, tanto financeira quanto profissionalmente. Interpretando Seiya, ele tem feito muitas locuções, tanto para comerciais como o da inauguração do Shopping 25 de Março, em São Paulo, como para o CD, onde numa das faixas ele grita "Me dê sua força Pégaso!". "Achei o máximo ver o meu nome num CD por causa disso. Fiquei super-feliz!"

Planos para o futuro? Sim - e ambiciosos. "Quero fazer produção de teatro, cuidar da realização de uma peça inteira, do começo ao fim, correr atrás de um patrocínio, elenco, etc. " Fazer na prática é o que Hermes realmente gosta.

Ulisses Bezerra (Shun)

Elegante, jovial e inteligente. Essas são algumas das muitas qualidades pessoais de Ulisses Bezerra, o jovem ator e executivo de 25 anos que empresta seu talento e voz ao Cavaleiro de Andrômeda, Shun.

Seu currículo em dublagem inclui o Charlie Brown (versão para vídeo, mais de 100 capítulos), o Jerry da série Parker Lewis e Anos Incríveis, onde fez a voz de um dos amigos do adolescente Kevin Arnold. Começou a trabalhar como ator ainda bem pequeno, atuando para comerciais "Bebê Johnson", em Essa Gente Inocente da antiga TV Tupi e Meu pé de Laranja Lima. Participou de vários Telecontos da TV Cultura e da minissérie Anarquistas Graças a Deys, da Rede Globo. Foi premiado como ator revelação por seu desempenho na novela Os Imigrantes da TV Bandeirantes de 1982, onde fez o papel do filho da personagem de Ioná Magalhães, a quem ele admira pelos ensinamentos sobre a profissão de ator.

De lá para cá, Ulisses concluiu seus estudos em arte dramática em administração de empresas. Como o campo para a atividade de ator diminuiu nos últimos anos, atualmente ele tem se dedicado à dublagem e a carreira de administrador, trabalhando na Asea Brown Boveri. Difícil tem sido administrar o tempo para conciliar a carreira na empresa, a dublagem, atenção para a namorada e ainda "encaixar" uma peça de teatro e outra.

Nem sempre Ulisses levou uma vida tranquila.  "Eu não tenho pai, então fui obrigado a trabalhar muito para ajudar a minha mãe. Com isso, você chega a uma certa idade que você tem que trabalhar. Não dava para segurar a barra só dublando. Precisei arranjar um emprego fixo para manter a coisa. Aí me formei e fora isso está dando para fazer dublagem", conta o intérprete de Shun.

Sobre o trabalho de dublagem propriamente dito Ulisses comenta que "cada personagem que fazemos, a gente não percebe, mais sai com uma voz diferente. Tem gente que fala que eu tenho um vozeirão, mais geralmente eu faço voz de menininho, de jovenzinho. É engraçado, mais você olha para o personagem e a voz vem naturalmente. A gente busca algo que se associe ao personagem, sempre respeitando a originalidade da pessoa que fez o filme. ".

Dublar Cavaleiros do Zodíaco tem sido um desafio.  "Trabalhamos por hora no estúdio e isso exige uma grande concentração do dublador. A gente vê a sequência do desenho duas vezes e na terceira já tem de estar gravado. Tem dias que a gente está meio ruim também e como se trabalha com o lado emocional do intérprete, a coisa demora para dar certo, explica Ulisses.

Sobre os Cavaleiros, Ulisses fala abertamente: "Eu gosto muito da série e do personagem que eu faço. Dois heróis, ele não é aquele super-herói agressivo, mais aquele cara apaziguador. Eu gosto disso, porque é uma coisa que a gente precisa na vida. Gosto muito de trabalhar com meu lado emocional e me identifico com o Shun. Não precisamos levar tudo a extremos. Procurando tentar entender as outras pessoas, resolvemos problemas e só ganhamos com isso. ".

Planos para o futuro: "No ano que vem, espero poder voltar ao teatro e às novelas, pois este ano pretendo ficar apenas na dublagem e me desenvolver mais em administração. Mas não quero deixar a dublagem, que é uma coisa muito gostosa de se fazer, apesar do pequeno reconhecimento que se tem pela área. A gente consegue transmitir algo permanecendo no anonimato e nos divertindo ao mesmo tempo. ".

Ulisses deixa um recado para as crianças: "Embora agora elas possam não entender isso, eu queria explicar que a nobreza do Shun, o que faz ele ser um Cavaleiro é justamente o fato dele não querer brigar, de ser um cara que procura a paz e a amizade de todos. Sei que a criançada gosta de luta, mais é importante que a gente cultive a amizade para o futuro. Agora a gente tem um monte de amigos na escola, no colégio, mais no futuro, quando crescemos, a gente sem ninguém... Um vira engenheiro, outro vira advogado e a gente fica sozinho. ".

Francisco Brêtas (Hyoga)

O microfone parece tremer e gelar quando ele grita "Pó de Diamante!".  Quem chegou a assistir a versão original dos Cavaleiros do Zodíaco em japonês, comenta que a interpretação que ele deu a Hyoga ficou até melhor. É alto, esguio, tem 34 anos e expressa calma na maneira de falar e agir. Ele é Francisco Bretãs, a voz do Cavaleiro de Cisne.

Formado em artes dramáticas e trabalhando com teatro há 17 anos, Brêtas é um profissional experiente.  "Agora estou na peça Verás Que Tudo é Mentira, que estreia dia 14 na Sala São Judas, em São Paulo, e diz a carreira de dublagem paralela à carreira de teatro. "

Sua lista de personagens é grande.  "Desde heróis a vilões, filmes e desenhos. Fiz o cachorrinho Sarnento de Todos Os Cães Merecem o Céu; fui o Red Goggle de Goggle Five; o Red Flash dos Flashman; o Shadowmoon em Black Kamen Rider; o Pompadour em Babar na Tv Cultura e no Animaid do Bosque dos Vinténs eu faço o Sapo. De filmes, eu fiz o Jesef K. em O Processo do Kafka. "

A respeito da fama que os Cavaleiros estão dando aos seus dubladores brasileiros, Bretãs comenta eufórico: "Eu estou adorando, porque como eu estava dizendo, o trabalho de dublagem no Brasil é anônimo, não aparece nos créditos. É um absurdo, porque é um trabalho de um profissional e de repente você tem anos e anos de carreira e pessoas que conhecem o personagem, sabem identificar a voz, mais não conhecem o nome do ator. No Brasil seria importante que isso pudesse ser revertido, para que os atores em dublagem pudessem ser reconhecidos. Eu estou adorando, porque eu não sabia que essa série teria um impacto tão grande. ".

Curiosidades e situações engraçadas, Brêtas cita várias.  "Cavaleiros do Zodíaco é uma febre. Às vezes estou dentro dum ônibus e vejo crianças conversando a respeito da série, a respeito do Cisne, do Hyoga. Dá vontade de dizer "Escuta, a voz dele é minha!". Às vezes comento isso com algumas crianças. Recentemente estive numa festa e comentei com um garoto que estava emburrado. Comecei a conversar com ele dizendo que eu fazia a voz. Aí ele não acreditou.  'Então faz par eu ver'.  E eu disse: 'Fecha os olhos e escuta:'.  Eu comecei a imitar os personagens e ele foi reconhecendo o Pompadour, o Hyoga..."

"Tenho um sobrinho de 6 anos que acha que o desenho sou eu! Minha irmã explica para ele que é só a voz, mas ele acha que aquele cara de cabeleira loura é o tio dele. Quando eu vou lá eu passo o maior apuro, porque ele quer que eu dê o tal salto, o tal golpe, que eu não faço a menor ideia de como é. E aí a gente vai brincando com isso. Para mim está sendo muito legal fazer essa série, está tendo um retorno muito grande. E é legal o trabalho dessa revista de poder colocar o rosto dos dubladores, quem são, o que pensam, o que fazem, para essa geração toda acompanhar. "

"A gente não assiste a série inteira. De repente o teu personagem aparece já no meio da aventura e você não sabe de onde ele veio. Quando eu vi o Hyoga, comparando com os outros heróis da série, os outros me pareceram mais inquietos e ele é muito sereno, ele não se abala facilmente, é calculista, frio, tem aquela coisa da mãe que vai para o fundo do mar, os inimigos e o próprio mestre dele o provocam com essa história da mãe. Ele também é muito sensível, solitário, silencioso - mais também quando ele fala, todos os outros ouvem. Resolvi partir para uma voz mais branda, reta, sem grandes nuances, em tons baixos, a não ser nos gritos de guerra: 'Pó de Diamante!' 'Trovão Aurora!' Me parece que tive uma certa felicidade nisso porque combinou essa coisa um pouco gélida com a cara do Hyoga. Depois, uma menina me escreveu dizendo que achou fantástica essa voz que eu fiz, já que ele veio do gelo. De fato, eu não pensei nisso - eu não sabia que ele tinha vindo do gelo..."

Brêtas identifica uma mensagem muito positiva nos Cavaleiro: "Ele têm amor um pelo outro e não se importam de dar a vida deles quantas vezes forem necessárias para alcançar um objetivo e eu acho isso uma mensagem bem legal. Aconteça o que acontecer, não desista de seus objetivos. Vá até o fim, se você acredita neles.  'Enquanto houver vida em meu corpo, lutarei até o fim por você', é a frase predileta dele. É herói, né?".

Ao encerrar esta entrevista, Bretãs nos passou o seguinte recado: "Um beijo para os fãs dos Cavaleiros! Nós também gostamos deles!".

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

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