Entrevista com Carlos Marques para a 6ª edição da Revista Animação em 1995, aonde ele conta sobre o seu início na dublagem e a dublagem de produções japonesas.
Uma voz sonora, emotiva e jovem, quem transita entre o convencimento de um Patolino, a precipitação de um D’artagnan e a seriedade de Jesse Vasquez, este tranqüilo e simpático senhor com quem bati um papo para a Animação. Do time da primeira geração de dubladores, Carlos (ou “Carlinhos”, para os amigos) construiu uma sólida carreira fazendo as vozes de diversos “bonecos” famosos (alguns citados na 1ª parte da matéria de Yamato e outros mais, aqui), emprestando o seu talento a Derek Wildstar, menos conhecido como Susumu Kodai, o jovem oficial de armas da Argo, mais conhecida como Yamato.
Eu sou de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais. Vou fazer 62 anos em Março. Comecei a minha carreira em Minas, nas Emissoras Associadas (Rádio Mineira, Rádio Guarani); depois fui para a Tupi, onde passei um ano. Na Nacional, eu fiquei de 1956 até 1981, como rádioator, aí me aposentei em 87 e desde então só faço dublagem.
Logo que começou a dublagem obrigatória para a televisão, eu comecei a atuar, na antiga TV Rio (na ZIV, estúdio da própria emissora), e continuei em outros estúdios que vieram depois, que até já não existem mais, como CineCastro, Riosom, Dublasom... E atualmente estou aqui na Richers, que predomina na dublagem no Brasil, onde se tem mais trabalho.
Você dublou alguns desenhos japoneses. Podia citá-los e dar a sua impressão?
Olha, eu dublei muito filme japonês, mas não me recordo de nomes. Na antiga CineCastro se dublava bastante material japonês, não só desenho, mais filmes mesmo. Eram desenhos bonitos. Os desenhos japoneses são muito bons.
E como era dublar esse material?
A gente que tinha mais prática fazia com mais facilidade. Alguns, mais difíceis, n’outros a gente acrescentava, diminuía frases, e com o tempo pegava o modo japonês de falar. Alguns vinham dublados em inglês e você redublava. Mais muitos vinham mesmo no original.
Pelo que eu já pude ouvir de você, creio que os personagens que mais lhe deram um certo trabalho de voz foram o Patolino e o Hércules (da série Spiff e Hércules).
Não. Também fiz outros tipos, mudando a voz: Tatoo, d’A Ilha da Fantasia; Garfield, que eu ganhei num teste muito concorrido, onde entraram até diretores. Por sinal, ele não aparece tanto na televisão. Sem falar no Gafanhoto, da série Kung Fu.
No meio desse cotidiano há algum trabalho que você tenha curtido?
Tem filmes onde há personagens bons que você tem até prazer em fazer e procura dublar da melhor maneira – aliás, eu procuro dar o melhor de mim em tudo. Outros você dubla porque tem de trabalhar. Estou fazendo agora uma novela mexicana para Portugal, Coração Selvagem. É boa, pelo que vi até agora, o que não acontece geralmente.
Há quem diga que na dublagem dessas novelas mexicanas vocês não usam o fone. Até onde é assim?
Usamos. Mas é melhor não se usar mesmo o fone. Fica mais natural dublar assim, para não passar aquele jeito forte de representação deles. O fone às vezes contamina. Depois, você se acostuma com o personagem e aí já vai do seu jeito mesmo.
Não se sente frustrado fazendo somente dublagem?
Não. Mesmo porque já me chamaram para outras coisas. Acontece que é mais conveniente para mim dublar. Em televisão você não tem continuidade: você vai fazer um papel e depois não entra na outra novela. Dublagem eu tenho sempre, é um trabalho mais estável. Por isso que eu preferi fazer. Pelo menos, tem-se uma estabilidade: você trabalha, aparece mais, e sempre. Já fiz alguma coisa de televisão e teatro, mas não continuei por essa incerteza.
Não tem havido carência de pessoal na área?
Não. Pode haver até excesso, agora, falta não.
Tem muita gente nova aí no momento. E outros vão ficando mais esquecidos. Às vezes, aparecem. O que existe também é qualidade. Há bastante gente, mas nem todos têm uma capacidade aproveitável. Mas toda profissão tem isso: os melhores e os piores.
O que seria uma boa dublagem para você?
Seria uma boa tradução, um filme bom também ajuda, e um bom diretor e elenco também. Se você trabalhar com gente fraca, o geral não fica satisfatório. O melhor é que todos sejam bons, o que nem sempre acontece.
Quais os critérios para a seleção de um elenco?
De um modo geral, varia de diretor para diretor. Cada um tem a sua particularidade.
O critério é que sejam bons. A qualidade do trabalho de cada um também, porque não é só jogar a voz em cima da imagem, tem de representar da melhor maneira possível, para convencer o telespectador. Sem esses fatores, não sai...
No final, bons votos: Eu quero agradecer você e desejar que a sua revista faça um sucesso muito grande, a minha torcida fica aqui. E um abração para vocês todos aí. E muito sucesso.
Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.