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sábado, 23 de março de 2019

Entrevistas - Alfredo Martins

          
Entrevista realizada em 7 de Agosto de 2012.

C.D.: Primeiramente quero agradecer a oportunidade de entrevista-lo Alfredo, sei que você não é muito perito em computador, mas está fazendo um esforço pra responder as minhas perguntas, fico grato por isso. Alfredo, primeiramente queria que você falasse um pouco do seu início de carreira, sabemos que você fez vestibular na Puc de Campinas, e depois acabou voltando para o Rio e cursado Psicologia na Universidade Santa Úrsula. Conte-nos um pouquinho desse início até chegar a ser ator.

Alfredo: A história é outra. Sou carioca e comecei a trabalhar como ator, por mero acaso, em 1962, então com 15 anos de idade, na extinta TV Tupi, canal 6 do Rio de Janeiro. O acaso se deve por ter ido à emissora acompanhando um amigo, meu vizinho, que estava começando na TV. Ele estava indo lá receber um cachet e na saída, parou para conversar com colegas, e eu ao seu lado, até que chegou o José Carlos que fazia produção de elenco do programa “Show de Sorrisos”. José escalou os presentes no papo, ali na calçada, até que chegou pra mim e perguntou se eu gostaria de participar do quadro de lançamento de uma nova dança, o “Hali Gali”. Naquela época a profissão de Ator não era regulamentada, não existia formação nenhuma, bastava ter a oportunidade para iniciar uma carreira. Fiquei trabalhando na TV Tupi até 1978, participando do “Cassio Muniz Show”, “Grande Teatro Infantil” e algumas novelas, como “E Nós Aonde Vamos”, “O Doce Mundo de Guida” etc. Em janeiro de 78 fui convidado para uma participação na novela “O Astro” (1ª montagem), por acaso também participei da 2ª montagem, e não parei de trabalhar na TV Globo até hoje. Já participei de mais de 50 novelas e minisséries na Globo. Também fiz novelas na TV Futura e TV Record. Agora que estou fazendo 50 anos de carreira, penso que sou o ator brasileiro vivo que mais participou de novelas e minisséries na televisão brasileira. Gostaria muito que isso fosse checado.
 
Cartaz de O Astro de 1978


C.D.: Você fez muitas peças de teatro, e faz até hoje. Cite-nos trabalhos que te marcaram, e fale-nos um pouco sobre sua carreira no teatro.

Alfredo: Só participei de uma peça até hoje, “Manoel Isidoro de Tal”, encenado na primeira inauguração do Teatro Casa Grande. Logo após, em 1966, ingressei na Petrobrás e ficou muito difícil arrumar espaço para o Teatro, pois desde 1963 já estava muito envolvido com a Dublagem, na Herbert Richers e outros estúdios do Rio. Também fazia Radio-Teatro na Radio MEC.

C.D.: Nós temos informações que você teria começado na dublagem no final da década de 1960 na Riosom. Quando exatamente você entrou na dublagem, e quem foi que lhe convidou?

Alfredo: Comecei em Dublagem em 1963, quando fui me dublar na 1ª versão de “O Boca de Ouro”, produzido pela Herbert Richers, onde fiz uma pequena participação. Não parei até hoje. Também fui Diretor de Dublagem por mais de 10 anos. A Rio Som surgiu alguns anos depois, e tive a honra de ser um dos onze primeiros atores em dublagem contratados no Rio, não sei se no Brasil. A Herbert Richers só veio contratar alguns anos depois.
 
O Boca de Ouro, de 1962

C.D.: Você se lembra do seu primeiro personagem fixo em algum filme ou série? Nós nos lembramos de William Henry em Mares da China, ao lado de Domício Costa, Sônia de Moraes e Paulo Pereira, acreditamos que foi um de seus primeiros trabalhos, se recorda disso?

Alfredo: Realmente não recordo dos primeiros trabalhos em dublagem porque a produção, na época já era significativa. Lembro de algumas séries em que tinha fixos, como “O Homem de Virgínia”, “Culpado ou Inocente”, “Soldados da Fortuna” etc na Herbert Richers. Na Rio Som fazia “O Homem Aranha” dublava o próprio desde o seu lançamento e foi assim por mais de 20 anos, “Daktari” famoso por seu leão vesgo...etc.

C.D.: Nos anos de 1970 você se tornou conhecido por ter dublado um famoso longa-metragem Disney, Bianca e Bernardo, fazendo o Bernardo. Como era trabalhar com Telmo de Avelar, esse monstro sagrado da Disney? E como foi dublar esse longa?

Alfredo: Telmo era, na época, o melhor diretor de dublagem de filmes para cinema. A Disney exigia a direção dele nos seus filmes e eram todos dublados na Tecnisom, que funcionava no Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo. Tanto Telmo como a Tecnisom, que hoje se chama Delart, apresentavam um trabalho final de excelente qualidade. Aprendi muito com ele e tenho a sorte de trabalhar com Telmo até hoje. A dublagem naquela época era muito mais difícil e trabalhosa, não existiam as facilidades da computação que temos hoje, era verdadeiramente artesanal.
 
Bernardo e Bianca (1976)

C.D.: Sobre a Herbert Richers, muitos dizem que você só começou a trabalha na empresa nos anos de 1990. Quando você ingressou na Richers?

Alfredo: Comecei na Herbert Richers em 1963.

C.D.: Tinha um ator que eu gostava muito que você dublava que se chamava Arturo Peniche, se lembra dele? Você o dublou em A Alma Não Tem Cor e em uma participação em A Usurpadora. Pra mim era um dos atores que mais a sua voz casava. Você vê alguma diferença nas dublagens de novelas e filmes?

Alfredo: Não me lembro de Arturo. Já não tenho idéia dos milhares de atores que dublei até hoje. Dublar novelas latinas é mais difícil. Temos de ter o cuidado para não sermos influenciado pela forma usual de interpretação deles, é mais incisiva, mais dramatizada, o que seria para o nosso publico algo muito canastrão.
 
Arturo Peniche

C.D.: Donald Sutherland talvez tenha sido o seu maior presente na dublagem, pois é um ator gabaritado e famoso, e coincidentemente começou a carreira como ator na mesma época que você começou como dublador, poderia tê-lo dublado desde jovem, já que a sua voz nele casa de forma tão perfeita (risos). Quando você começou a dublar o Donald? E você gosta de dublá-lo mais do que outros atores?

Alfredo: Gosto muito de dublar o Donald, penso que comecei a dublar ele no filme “MASH”, ou será que estou enganado?
 
Donald Sutherland

C.D.: O que não era pra ser diferente, em seu currículo você tem diversos atores que dublou, entre os já citados temos John Spencer, Robert Forster, John Cleese, Eugene Levy, Kevin Spacey, Terence Stamp, entre outros. Quais atores e trabalhos que lhe vem à memória, e que pra você foram importantes?

Alfredo: Todos esses que você citou foram importantes, mas não posso esquecer de Frank Sinatra, Phill Colins, “Sir” Ben Kingsley em Ganghi, vencedor de 8 Oscar, e muitos outros.

C.D.: Você dublou uma série que particularmente eu gosto muito, se chama Kenan e Kel, aonde você fazia o pai do Kenan, um cara alto e careca, se chamava Roger Rockmore. O que você acha de fazer comédias? Acha que se sai bem? Eu particularmente achava a dublagem do Roger muito engraçada, aquele jeito todo espontâneo e exaltado dele, você passava muito bem.

Alfredo: Comédia é realmente o estilo mais difícil de se fazer. Mas com o tempo, fui fazendo vários filmes e séries, como também já participei de vários programas da “Turma do Didi” da TV Globo.
 
Roger Rockmore, interpretado por Ken Foree

C.D.: Você tem uma filha na dublagem, a Fabíola Martins. Ela me disse que entrou bem nova na dublagem, saindo pouco tempo depois e retornando já adulta. Foi você que sugeriu que ela começasse a dublar, ou por ver o pai trabalhando ela se interessou e decidiu tentar essa arte?

Alfredo: Tenho 3 filhos, Fabiola, Leonardo (Leo Martins) e Ana Paula Martins, todos trabalham também com dublagem, são atores profissionais e começaram por vontade própria, talvez por gostarem do trabalho que viam quando iam aos estúdios comigo. Leo também é Musico, formado na UNIRIO.

C.D.: Alfredo, você que está desde o início da dublagem no Brasil, qual a sua cotação de tudo o que se passou nesse tempo, o que melhorou, o que piorou, e como você vê o mercado hoje em dia?

Alfredo: A tecnologia transformou totalmente o mundo da dublagem, melhorou muito a qualidade do som e imagem, a velocidade em que se realiza o trabalho, mas quanto a qualidade artística, como hoje todos gravam separadamente, penso que caiu muito.

C.D.: Eu vou deixar essa última pergunta a seu critério. O que você gostaria de ter falado nessa conversa que não foi perguntado? Algo que você queira expor aos seus fãs, e são muitos os que gostam da sua voz, ou apenas algo para acrescentar de tudo o que foi dito. Fique a vontade.

Alfredo: Agora em setembro, faço 50 anos de profissão, são muitas as histórias, penso que daria um livro. Mas a minha vida como Psicólogo não ficou clara, vou esclarecer. A situação financeira dos atores no Brasil sempre foi bastante instável, ainda é até hoje. Em 1966, fui convencido por amigos a fazer concurso para Petrobras, passei e como trabalhava em turno de 6 horas, não atrapalhou muito a minha vida artística. Em 1969, voltei a estudar e fui fazer Psicologia na Universidade Santa Úrsula no Rio. Em 1973, transferido pela Petrobras para Campinas, SP, fiz 1 ano na PUC-Campinas, onde me formei em Licenciatura em Psicologia e no ano seguinte voltei pro Rio e pra Santa Úrsula, onde me formei Psicólogo. Me aposentei como Psicólogo da Petrobras mas mantenho até hoje o consultório, onde atendo uma vez por semana. Frequentemente faço cursos de Pós graduação para me manter atualizado.

C.D.: Alfredo, eu quero te agradecer imensamente pela entrevista, e também pelo intermédio da Fabíola, que foi simpaticíssima comigo desde a primeira vez que conversamos.

Alfredo: Foi um prazer, me coloco à sua disposição para outros esclarecimentos, um abraço...

Agradecimentos à Fabíola Martins, que mediou essa entrevista entre o Casa da Dublagem e Alfredo Martins.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Entrevistas

Entrevistas - José Santana


Entrevista realizada em 24 de Julho de 2011.

C.D.: José, é um prazer muito grande poder entrevista-lo e saber um pouco mais sobre sua carreira. Como você começou a sua carreira?, foi no Rádio?

José: Sim foi na Rádio Agulhas Negras em Resende, Estado do Rio. Mas antes de continuarmos gostaria de pedir mil desculpas pela resposta tão tardia e dizer que estou honrado por ser entrevistado.

C.D.: E a dublagem, quando surgiu pra você?

José: Em 1972 ou 3, convidado pelos diretores Telmo de Avellar e Nilton Valério na Tecnisom (Museu de Arte Moderna), hoje Delart.

C.D.: Você se lembra do primeiro personagem que dublou?

José: Na verdade eu e Márcio Seixas iniciantes na época, fazíamos as narrações da Disney e acredito que comecei a dublar realmente no “Planeta dos Macacos”.


C.D.: Você sabe que você é conhecido pelo grande publico, principalmente os que tiveram a infância nos anos 80 e 90 pelo desenho Super Amigos, no qual você narrava brilhantemente. Fale-nos um pouco sobre esse desenho, foram dezenas de episódios que você narrou não é?

José: Realmente foram sim. Acontece que além de rádio-ator, também fui narrador de esportes – inclusive corridas de cavalos – e quase todos os filmes e seriados que precisavam de determinada ação, lá estava eu!
Além dos “Super Amigos” fiz ainda “Corrida Maluca” e quase todos com o bordão que na época criei e hoje é conhecido por todos: ENQUANTO ISSO NA SALA DE JUSTIÇA...
 

Sala de Justiça, local que aparecia sempre junto com a narração clássica de José

C.D.: Lembra-se de Willie Tanner o dono do Alf?, outro de seus grandes trabalhos, como foi pra você dubla-lo?, havia alguma dificuldade no personagem?

José: Foi muito gratificante dubla-lo porque naquele tempo trabalhávamos juntos na bancada e principalmente ao lado de Orlando Drumond, Ilka Pinheiro – depois Nelly Amaral – e direção de Ângela Bonati que faziam com que eu me sentisse em casa, tal o carinho e dedicação com que estes profissionais trabalhavam, sem levar em conta que era a série do momento assistida por todo o país.

Willie Tanner em Alf, o Eteimoso

C.D.: Você sempre teve um timbre forte, e por isso sempre eram escalados personagens fortes fisicamente e de gênio forte muitas vezes, o José Santana também tem uma personalidade forte?

José: Tem sim. Muito divertido, brincalhão e amigo mesmo de todos, tem um limite pra tudo. Se gosto de um amigo, me entrego, senão é só um mero colega. Ouço mais do que falo e não discuto sobre nada.

Delroy Lindo, ator que José dubla até os dias de hoje.

C.D.: José, você também dublou atores fantásticos em filmes que acredito que muitos ainda estão em sua memória como trabalhos prazerosos que fez. Você já dublou Vigh Rhames, Delroy Lindo, Hulk Hohan, Richard Pryor, Peter Sellers, Richard Harris, Christopher Lee, George Kennedy, e muitos outros. Qual o ator que te deu mais satisfação em dublar?

José: Lance Henriksen (Frank Black) na série “Millennium”.
  
a primeira voz do Doc nas primeiras temporadas de Todo Mundo Odeia o Chris.

C.D.: Na série Todo Mundo Odeia o Chris, você foi a primeira voz do Doc, dono da venda aonde o Chris trabalhava. Particularmente achei você o melhor dublador para ele, porque ouve a troca de vozes no personagem?

José: Eu sempre lutei pelo que eu considero como: ”instrumento oficial de trabalho do dublador” que é ou deveria ser, a obrigatoriedade de empresas e diretores de dublagem manterem a voz do dublador em determinado personagem como uma regra geral, tanto no Rio como em São Paulo e não como acontece hoje. Houve uma época em que a Globo mantinha um fichário dessa natureza e garantia o trabalho do dublador, mas isso acabou e tanto empresas como diretores (poucos) nem querem saber quem faz quem. O negócio é entregar o filme ao cliente.... Talvez essa tenha a sido a causa de outro fazer aquele papel.

C.D.: Nesses mais de 30 anos de dublagem devem ter ocorrido muitas coisas curiosas e engraçadas na dublagem, você se lembra de alguma para nos contar?

José: Ah, meu amigo, fatos curiosos e engraçados foram muitos, mas muitos mesmos e como cada um teria de ser contado com todos os detalhes – o que seria muito extenso – em outra ocasião e com mais tempo eu prometo que conto não só um, mas vários.

C.D.: Outro personagem marcante dos anos 80 foi o robô Starscream de Transformers. Como era dublar ao lado daquele elenco maravilhoso que era composto por Celso Vasconcellos, Garcia Neto, Ionei Silva, Antônio Patiño, André Luiz, Paulo Pinheiro e tantos outros?

José: Como mencionei acima, dublar com outros colegas na mesma bancada é muito gratificante: pela amizade, pela energia contagiante, pelo profissionalismo, onde você alia o prazer e a felicidade de poder fazer.

Starscream em Transformers.

C.D.: E ó José Santana diretor, quando surgiu?

José: Em meados de 76, 7, pouco antes da greve de 1978, da Herbert Richers e Telecine.

C.D.: Atualmente você dirige e dubla em quais casas?

José: Dublo praticamente em todas as casas do Rio e estou como diretor até então na Audio News.


C.D.: José, foi um prazer conversar com você e mais uma vez muito obrigado.

José: Por favor, eu é quem agradeço a gentileza, carinho e principalmente a paciência que tiveram comigo. Se precisarem de mais alguma coisa, qualquer coisa, estou à disposição.
Enquanto isso, aqui, deixo o meu abraço.

Entrevistas - Henrique Ogalla

 

Entrevista feita em 07 de Setembro de 2010. 

C.D.: Hoje vamos entrevistar o ator, radioator, dublador, diretor de dublagem, publicitário, apresentador, técnico em avicultura, coordenador, diretor de comerciais e diretor de teatro Henrique Ogalla. Quanta coisa em Henrique rsrs, tudo bom? É um prazer poder entrevistar você que é um dos grandes profissionais da dublagem do nosso país. Você começou a carreira como ator ainda criança, com apenas 12 anos na TV Paulista, como você chegou lá?
 
Henrique: Comecei em 1955 no Zaz-Traz, com Délio Santos, Gislaine e Marco Antônio. No mesmo ano, meses depois Alvaro Moya me encontrou junto com Nilton Paz, produtor do Zaz-Traz, e disse "Nilton, preciso de um garoto esperto pra fazer o meu programa de sexta-feira, tem que ser bom ator." O Nilton disse "Este aqui, trabalha no Zaz-Traz como apresentador, é um pequeno gênio" Aí estrei como ator no programa "Meu Filho, Meu Orgulho" Arrebentei.
 
C.D.: Na época você apresentou um programa infantil de muito sucesso chamado Zas-Traz. Como foi essa época pra você?
 
Henrique: Meses depois trabalhando na TV Paulista, eu fui a direção e pedi pra receber salário pelo meu trabalho. Não senti firmeza com as promessas, e fui a TV Tupi canal 3, depois canal 4, e fui atendido pelo ilustre e saudoso Heitor de Andrade, uma figura maravilhosa e ele me reconheceu da TV, pois existia uma TV para cada canal na sala do Cassiano Gabus Mendes, e me apresentou em seguida ao Cassiano. O Cassiano me perguntou se eu já sabia ler. (Eu sempre aparentei ter menos idade) Eu respondi que sim e ele agendou uma reunião com todos os produtores da casa, e pediu para escreverem um programa para a minha estréia.

Isso foi numa terça feira, na sexta estreei no programa "Coração a Dois" com Cachita Stuart e Fabio Cardoso, depois do ensaio recebi um script pra participar do "TV de Vanguarda" ensaiei e participei no domingo, três dias depois. Foi uma celeuma, todos comentavam pelos corredores "vocês viram o garoto gênio que a Tupi contratou? " No domingo seguinte fui convidado pelo Julio Gouveia para participar do "Teatro da Juventude", sob produção e direção dele, na peça: "O Peru de Natal". Era o papel principal. Na quarta recebi o troféu "Os Melhores da Semana" troféu Walita.
 
C.D.: Você também participou de outros programas infantis na época como Ciranda Cirandinha, Pim-Pam-Pum e Almoço Com As Estrelinhas. Você participou de programas infantis até quase os 20 anos, não é?, e quando foi que você partiu disso para as novelas?
 
Henrique: No programa Pim Pam Pum eu era o Pim, e Ciranda Cirandinha era um programa às sextas-feiras dentro do Pim Pam Pum.

Henrique Ogalla em Ciranda Cirandinha
 
C.D.: Você fez várias novelas na TV Tupi, Excelsior, Bandeirantes.Qual papel te marcou mais na dramaturgia?
 
Henrique: Eu Tabalhei na TV Excelsior e TV Bandeirantes até 1969, quando fui convidado pra dublar na TV Cinesom no Rio de Janeiro. Aí fiquei na dublagem, pois a TV passou a ser um emprego incerto e inseguro, eu já era casado e com um filho e precisava ter os pés no chão.
Vários programas me marcaram, mas os mais importantes foram: "A Flecha no Flanco" , no TV de Vanguarda, onde ganhei o troféu "Os Melhores da Semana", trofeu Nestle, "O Pequeno Lord", primeira edição, onde eu fazia o falso lord, o garoto que queria tomar o lugar do verdadeiro herdeiro. Fiz um garoto tão antipático e odiado, que não podia sair as ruas, pois os telespectadores queriam me linchar. Rsrsrs...e "Uma Lágrima Pequena", de Sylas Roberg, no Contador de Estórias onde também fui premiado com "Os Menores da Semana", uma réplica de "Os Melhores da Semana” desses troféus eu recebi vários.
 
Rafael Neto e Henrique Ogalla em O Falso Lord
 
C.D.: Na dublagem você iniciou na AIC – São Paulo.Como surgiu o convite para trabalhar lá?
 
Henrique: Não, não comecei na AIC, porque fui indicado pela Vida Alves em 1956, para dublar o papel de um menino no filme nacional "O Preço da Ilusão", nessa época ainda não se dublava pra TV.
Em 1958 o meu amigo Silas Roberg foi convidado pra trabalhar na GravaSon, mais tarde AIC, como diretor de dublagem e para dirigir um espetáculo de dança flamenca, produzido pelo dono da AIC Mario Audrá, chamado "O Primeiro Festival da Espanha", onde ajudei como assistente. Aí comecei a dublar e lá foi uma grande escola no que diz respeito a cinema, aprendi de tudo, a gravar, montar, editar etc...para ser um verdadeiro diretor.

C.D.: Você se lembra de seu primeiro personagem na dublagem?
 
Henrique: Só me lembro do papel em "O Preço da Ilusão", "Os Guerrilheiros", e um ano de Batman dublando o Robin, e não podendo esquecer "Barrados no Baile" o Brandon.
 
C.D.: Por volta de 1967 você partiu para o Rio de Janeiro, foi dublar na TV Cinesom, CineCastro e outras empresas. Porque você saiu de São Paulo?
 
Henrique: Eu me recuso a trabalhar em empresas que possuem "panelinhas" onde eu via alguns diretores negociando trabalho, ex.: vou dirigir terça feira e o personagem principal é seu, você dirige na segunda e o personagem principal é meu, e assim por diante. Diretores que se auto escalam nos seus filmes etc...Aí surgiu a oportunidade de trabalhar no Rio, a empresa foi fiadora do apto., então por que recusar? Na TV Cinesom dublei as melhores séries para TV na época.
 
Zilly em Máquinas Voadoras
 
C.D.: Vamos falar agora de seus personagens na dublagem.Os seus trabalhos mais conhecidos e consagrados foram nos desenhos.Podemos citar o Alan de Josie e As Gatinhas, o Principe Turan em Os Cavaleiros da Arábia, o Zilly de Maquinas Voadoras, o Gordinho em Bicudo, O Lobisomem e muitos outros. Você guarda com você algum personagem em desenho que tenha te marcado ou simplesmente que você adorou em fazer?
 
Henrique: Como profissional eu guardo quase todos os trabalhos que fiz, não tenho preferidos, mas o trabalho que mais me realizou foi "Barrados no Baile" que além de dublar Jason Prietley eu dirigi a série, e Telletubies, no papel de Dipsy, que me rendeu um bom dinheiro.
 
Alan em Josie e As Gatinhas
 
C.D.: No seu início de carreira na dublador você deve ter tido a ajuda de alguns companheiros. Quem foram os seus grandes professores e incentivadores na dublagem?
 
Henrique: Não tive ajuda de ninguém em particular, mesmo porque eu já era considerado veterano na TV.
O ator nasce com talento, não se forma em curso. Apenas se aprimora, a mesma coisa na dublagem, os cursos só ensinam a sincronizar, mas não a interpretar. Se não for ator, não adianta. Note a qualidade da dublagem de hoje, muitos fizeram cursinho de dublagem e o que vemos e ouvimos são verdadeiros técnicos em sincronismo com interpretação amadora, cantam paca. Claro há exceções.
 
Turan em Os Cavaleiros da Arábia

C.D.: Nos anos de 1980 você dublou uma série chamada Barrados no Baile, aonde você fazia um dos principais, o Brandon. Como foi pra você dublar o Brandon e como era trabalhar ao lado daquele grande elenco?
 
Henrique: Foi feito testes pra série, o que eu acho uma estupidez, um ator e diretor com o currículo como o meu, ter que fazer a vontade de um aspone do setor de cinema da televisão, um espectador que nada entende de interpretação, escolher as vozes para os filmes e series. Foi escolhido um colega, mas o Boni pediu novos teste e eu fui convocado, não tinha muito tempo pois eu era diretor da Herbert com vários filmes e séries pra dirigir. Fiz o teste e fui escolhido, então o Herbert me mandou dirigir a série, porque eu ficava o tempo todo da dublagem dentro do estúdio.
 
Brandon em Barrados no Baile

C.D.: Direção de dublagem. Entre seus trabalhos de direção temos a série A Família Soprano, a série Emergencia 911, entre outros. Desde que ano você começou a dirigir?, e em quais casas você já dirigiu?
 
Henrique: Dirigi na TV Cinesom, e tempos depois ela fechou, faliu, aí fui pra Cinecastro onde conheci uma pessoa maravilhosa chamada Carla Civelli, ela me mandou pra São Paulo reabrir a Cinecastro que se encontrava fechada. Aí comecei a dirigir uma série japonesa que eu dublava no Rio "Guzula" um monstro que comia ferro. Me orgulho de ter trabalhado na TV Cinesom, Cinecastro, Telecine e claro Herbert Richers.
 
Guzula

C.D.: Em meados da década de 2000, você se afastou da dublagem, você me disse uma vez que foi por motivos trabalhistas contra a Herbert Richers. Como anda essa ação trabalhista (se é que você pode comentar sobre isso)? Você também comentou que outro motivo do seu afastamento é porque há uma certa tabela na dublagem aonde são chamados sempre os mesmo dubladores.Porque ocorre isso?, e você pretende voltar a dublagem?
 
Henrique: Em 2002 já não aguentava as vozes de colegas (com interpretação amadora, colegas tentando imitar a interpretação do inimitável André Filho, Newton da Matta.., etc). Hoje estou aposentado e proprietário de uma fazenda na Bahia, onde pretendo passar o resto dos meus dias, longe da má qualidade da dublagem de hoje.
 
C.D.: Muito obrigado Henrique pela entrevista, foi um prazer.
 
Henrique: Abraço.

Entrevistas - Luiz Manoel

 

Pequena conversa que tive com Luiz Manoel no final do Oscar da Dublagem em 10 de Julho 2010. 

C.D.: Você dirigiu na Herbert Richers, Sincrovídeo, agora na Wan Macher...
 
Luiz: na Herbert dirigiu de 76 à 78, a Sincrovídeo eu era dono.
 
C.D.: Você veio do rádio né Luiz, e depois surgiu a dublagem...
 
Luiz: comecei no rádio criança, trabalhei 10 anos no rádio, aí me chamaram pra dublagem, tinha 16 anos, fui convidado para fazer um personagem na Herbert Richers, que usava o estúdio de cinema CineLab pra dublar, que era um teatro, trabalhávamos com projetor de carvão, faz tempo isso (risos).
 
C.D.: e o Fred?
 
Luiz: Fiz muitos anos o Fred, fui eu quem escalou o elenco de dublagem do desenho.
 
C.D.: Na Dublasom Guanabara.
 
Luiz: Isso.
 
C.D.: Isso em 1971, né?

Luiz: é, por aí. Trabalhei também em outras empresas, uma das primeiras foi a ZIV, que mais tarde se dividiu em duas empresas, uma delas foi a Peri Filmes. Eu fui chefe de produção e diretor de dublagem da Dublasom Guanabara. A Dublasom Guanabara foi criada pelo Ribeiro Santos e um amigo dele. Ribeiro Santos foi o meu melhor amigo, tenho muitas saudades dele.

C.D.: A Peri Filmes era do Carlos de La Riva?
 
Luiz: Não, lá ele só era técnico de som, depois que ele saiu de lá ele criou a Delart. Na Peri Filmes eu dirigi uma grande produção chamada The Sound of Music... A Noviça Rebelde.
 
C.D.: Foi você quem dirigiu a Noviça Rebelde?, nossa, foi uma grande dublagem... inclusive a Peri Filmes tinha uma sonoplastia incrível pra época.
 
Luiz: É verdade. Então, eu fiz Herbert, depois Peri e depois eu montei a Sincrovídeo.
 
 
C.D.: Sincrovídeo... que inclusive dublou muitas coisas boas, muitos desenhos.
 
Luiz: É. Eu sempre dublei muitos desenhos, fiz Os Herculoides, Flipper, e muitas outras coisas. Lá eu fiz vários também, tinha o CatDog, eu fazia o Gato e fazia o ratinho, e também fazia um cachorro bobão que aparecia.
 
 
C.D.: Você fazia o Gato?, não era o Rodney Gomes?

Luiz: Não, o Rodney fazia só o Dog. Eu no desenho fazia o Gato, o ratinho e um cachorro da gangue que tinha no desenho, isso ninguém sabe (risos). O Rodney tinha a voz muito parecida com a minha.

C.D.: E o Fred? Veio um longa-metragem em 1998 e reuniu todos os dubladores de novo, você, a Juraciara e etc... Porque você largou o personagem?
 
Luiz: Eu fiz o Fred e depois larguei porque tinha muito trabalho na minha empresa (Sincrovídeo). Aí reuni todos os dubladores de Scooby-Doo e passei o personagem pro Peterson, até porque fui eu quem escalou aquele elenco.
 
C.D.: Eles tiveram até um respeito com você né, em deixar você decidir.
 
Luiz: É. Aí deixei o Peterson, mostrei como fazia e ele aprendeu e ta fazendo até hoje. Ta com a voz igualzinha a minha, até eu as vezes confundo com a minha voz (risos).
É muita coisa. Eu criei uma comunidade minha outro dia, tava tomando cerveja, conversando de repente virei pra minha filha e disse: “bota ai no computador, cria uma comunidade minha.”, e contei toda a minha história. Toda não né porque não da, mais um pedaço dela (risos). Eu to até ajudando o Mário Monjardim no livro que ele ta escrevendo sobre dublagem.
                               

C.D.: Falando nisso o Mário não ia vir?
 
Luiz: Ia nada, o Mário ta velho, nem aguentaria essa viagem (risos).
 
C.D.: (risos) Mas o Mário ainda ta aí dirigindo e tal.
 
Luiz: É. Mas ele ta velho, ele só fica enchendo o saco da mulher dele (risos). [brincando com o amigo]
 
C.D.: E o Drummond aguentaria a viagem?
 
Luiz: Também não. A única que aguentou foi a Selma Lopes que ta aí hoje. [se referindo a viagem de ônibus do Rio de Janeiro pra São Paulo de duração de 6 horas]
 
C.D.: A grafia do seu nome é Luís Manoel ou Manuel?
 
Luiz: Manu, Manuel, português. Eu sou português, vim pequeno pro Brasil. É Luiz com S e Manuel com U.

PS: Preferi posteriormente adotar a grafia Luiz Manoel como costumava ser listado pelos estúdios de dublagem no final das produções em que participava.
 
C.D.: Eu havia posto exatamente assim também no meu site.
 
Luiz: A minha filha até mudou lá na minha comunidade porque tava com O.
 
C.D.: Vamos falar de Disney, você dublou o Mickey Mouse.
 
Luiz: Sim, dublei ele por 45 anos.

 
C.D.: Mas o Mickey depois num foi pro Cleonir?
 
Luiz: Foi nada, o Pato Donald que passou pra ele porque o outro dublador tinha morrido. Mas o Cleonir não sabia fazia o Pato Donald, eu quem sabia, eu tinha experiência, era igual como fazer o Patinho Duque, que fui eu quem dublei, eu até mostrei pra eles que sabia, mas a Disney não me deixou fazer porque já fazia o Mickey (risos). [ele imitou um pedaço do Patinho Duque]

PS: Luiz você diz que dublou por 45 anos o Mickey, pois além de tê-lo dublado nos anos de 1960 e algumas vezes nos anos de 1970, também o dublou em alguns longas nos anos 1990 que foram para a Sincrovídeo, por isso essa afirmação.
 
C.D.: Você ainda faz muita voz de garoto pra dublar?
 
Luiz: Não, só se for desenho mesmo.
 
 
C.D.: Hoje em dia você dirige na Wan Macher, e é o maior diretor de dublagem do país.
 
Luiz: Modéstia a parte eu sou sim.Dirijo muitas séries lá, Sobrenatural, Chuck, entre outras. Eu estou com 68 anos, eu faço o que gosto, dirijo, dublo, dublar não tanto, mais dirijo mesmo.
 
C.D.: É Isso aí...Sobrenatural ta sendo dublado a última temporada?
 
Luiz: Não, eles pararam de mandar...também, depois que eles matam até Deus rsrs.
 
C.D.: Rsrs é verdade....Bom, vai lá que estão te esperando, obrigado, viu Luiz?
 
Luiz: Obrigado eu.
 
C.D.: Boa viagem.

Essa conversa não foi anotada, apenas passada de cabeça. Há alguns detalhes que não me recordo com precisão, mas o contexto como um todo e o principal foi resumido nesse texto. Agradecimentos à ajuda e colaboração indireta de Pablo de Oliveira e Bruno Neon.

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