quinta-feira, 26 de abril de 2018

Artigos de Revistas - Marli Bortoletto

Entrevista com Marli Bortoletto para a 3ª edição de 1995 da Revista Animação, aonde ela conta o começo de sua carreira na dublagem, sobre a Mônica de a Turma da Mônica, de seus personagens mais famosos do momento e da Serena de Sailor Moon. 
 

Aos 37 anos, Marli Bortoletto, é uma das dubladoras mais requisitadas pelos estúdios paulistanos. E não é à toa. Além de uma belíssima e inconfundível voz, suas atuações sempre arrancam elogios de colegas de profissão, fãs dos personagens que faz e dos mais comum telespectador. Seja filme, desenho, série, boas ou más produções, Marli sempre dá um toque todos especial com suas interpretações sempre precisas e marcantes. Como se não bastasse, Marli é uma das principais diretoras de dublagem da Álamo, um dos maiores estúdios de São Paulo.


Quando você começou a dublar?

Foi há 12 anos atrás quando eu fiz A Princesa e o Robô para o Maurício de Souza. Nessa época eu fazia a voz da Mônica em shows, peças e propagandas, por isso fui chamada para o longa.
Você fez o Natal da Turma da Mônica (desenho produzido pela Cica no final dos anos 70)?

Feliz Natal pra todos, feliz natal!

Por que você resolveu seguir a carreira de dubladora?

A dublagem me atraia como uma outra opção para o meu trabalho de atriz. Na época, eu estava meio parada, e casou com o momento em que eu comecei a fazer filmes para o Maurício de Souza. De seis anos pra cá, comecei a trabalhar mais com minha voz. Quis experimentar a dublagem. Eu pedi para o Viggiani (o dublador o Ryu do Street Fighter) me indicar alguns estúdios e acabei indo fazer na S.C São Paulo (Megassom) a Chapeuzinho Vermelho num daqueles especiais que a TV Cultura exibia.

Qual foi seu primeiro personagem?

Demorei para pegar séries mesmo. Minhas primeiras personagens foram na série Contos de Fadas da Cultura. Além da Chapeuzinho Vermelho eu fiz a Branca de Neve, a Cachinhos Dourados e a Mary Poppins. Como os diretores achavam que eu servia melhor para fazer crianças, teve uma época que eu só fazia meninos e garotinhas e só mais tarde comecei a fazer mulheres mesmo.

Quais os principais personagens e atrizes que você dublou?

Acabando o Contos de Fadas fiz os Ursinhos Carinhosos, a Jojoaninha, a Gozalin (a filha do Darkwin Duck), Kurazo do National Kid, a Patrine, a Pedrita no especial O Casamento de Pedrita, a Angélica nos Anjinhos e redublei desenhos do Gasparzinho. Dos japoneses fiz também a princesa Aska e a vilã Deboner nas Guerreiras Mágicas de Rayearth. Entre as atrizes já fiz a Sharon Stone, a Mia Farrow, a Winona Ryder em Drácula, a Brooke Shields, a Julia Ormond em Lancelott, Lendas da Paixão e faço a personagem Shane Vansen em Spac - Comando Espacial.

É diferente fazer desenhos e filmes?

É muito diferente. No filme, a atriz condiciona você a fazer próximo do que ela faz. As feições humanas têm tantas nuances que você não pode mudar muito se não fica artificial. Você tem que ser fiel aos impulsos da atriz. Já o desenho não te condiciona tanto, dando espaço para você acrescentar mais a ele.

Como foi fazer a Hilda nos Cavaleiros do Zodíaco?

Foi muito interessante. Em geral eu não faço mulheres más por causa da minha voz. Mas, pelo fato de ser desenho o Baroli (o diretor de dublagem da Gota Mágica) achou que dava para eu fazer a personagem. Gosto muito desses desenhos japoneses tipo dos Cavaleiros, porque eles têm um grande imaginário. Com a Hilda eu pude explorar a maldade numa personagem, o que nem sempre eu tenho a oportunidade de fazer, porque sempre sou escalada para fazer as boazinhas das histórias.


E a Serena, foi legal fazer?

Foi muito legal, porque ela é quase uma anti-heroína. Ela cumpre sua missão, mas só quando ela vê que não tem jeito de escapar. Aí é que ela usa seus poderes para se dar bem. Mesmo assim, ela não tem certeza se é capaz de ser a Sailor Moon. Ela enfrenta seu medo e acaba conseguindo lutar contra violões, mas na verdade ela é uma criança que quer viver a vida e não ser uma heroína.

Eu gosto muito de fazer Sailor Moon também por causa do humor que a série tem. A Serena é uma heroína e ao mesmo tempo tem todos os defeitos dos reles mortais, ou seja, ela é uma heroína extremamente humana, criançona, imatura e preguiçosa. Ela tem todos os defeitos que um super-herói não teria, no entanto ela continua sendo super.

O que você acha que faz com que a Serena siga como Sailor Moon?
 
Apesar dos apelos da Lua ela custa a aceitar que tem uma missão de proteger a Terra. Mesmo sendo uma coisa que ela não gostaria de ser ela segue enfrente movida pela paixão, seja por alguém ou por um ideal, que é exatamente o sentimento humano que leva a Serena a ser uma heroína.

O que você mais gosta na Serena?
 
As paixonites agudas dela, o olhinho brilhando mesmo que seja por uma ideia, um momento, uma amiga.

Tem alguma coisa que você não gosta nela?

Não tem nada que eu não goste nela. Eu achava muito divertido aquele negócio dela chorar toda a hora. Achava muito poético a paixão dela pelo Texudo Mask e todo aquele simbolismo com as rosas vermelhas que ele usava.

Você chegou a se emocionar com algum episódio?

Eu cheguei a chorar nos momentos em que ela lembrava do grande amor que perdeu no Reino Lunar e que ela busca viver de novo com o Darien. Esses momentos em que ela lembrava da vida que levava na Lua com sua mãe, com o próprio Texudo Mask, eu achava muito comovente.


Qual a personagem de Sailor Moon você mais gostou?

Gostei mais foi da própria Sailor Moon.

Porquê?

Por que a Serena não é certinha em nada. As outras cinco são comprometidas, mais sérias.

Fora a Serena, se você fosse escolher outra personagem, qual faria?

Talvez a Lua, a gatinha, que era uma personagem bem legal. Mas eu adorei fazer a Serena porque ela era bem maluca.

O que você espera das próximas aventuras da Sailor Moon?

Eu gostaria que a Serena entrasse mais no passado dela. Quero ver revelado seus mistérios. É um eterno retorno: ela veio do Reino Lunar para a Terra para equilibrar os cosmos. Gostaria de saber direito o motivo que a fez sair do Reino Lunar, vir para a Terra e vivenciar um grande amor. Acho que ela deve continuar aquela menininha se questionando o motivo de ser super-heroína. Esse é um contraponto legal na história: se ela não aceitar de cara ser uma heroína ela mantém suas características humanas dando margem para ela e quem assiste discutir vivenciar tais sentimentos. Ela quer ser heroína, mais tem medo: ela quer ser a primeira da classe, mas quer brincar. Se ela fosse certinha seria uma história de acertos, como ela não é vai ter a chance de descobrir como enfrentar suas dificuldades, seus limites, o medo para se tornar corajosa. É o que espero para as próximas aventuras da Serena como Sailor Moon e suas amigas.

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

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