Elcio Sodré (Shiryu)
Ele e o personagem que interpreta são sérios. E aí acabam as coincidências. Elcio Sodré tem 36 anos, é meio calvo, tem bigode e estatura mediana. Ele empresta sua voz e seu talento ao alto e forte Cavaleiro de longos cabelos negros, Shiryu de Dragão.
"Minha formação é de teatro. Trabalhei com a Matilde Mastrangi, viajei pelo Brasil por um ano meio, fiz teatro infantil (Sítio do Pica-Pau Amarelo, Tistu - O Menino do Dedo Verde, Peter Pan). Laranja Mecânica foi a minha última peça, faz uns 3 anos... Participei da novela Cortina de Vidro, mas nunca fui muito atrás de TV. Fiz vários comerciais (uns 20) e filmes institucionais também. O último que foi ao ar acho que foi o do Ticket Restaurante. "
"Comecei a dublar faz uns 5 anos. Hoje ela já toma todo o meu tempo - eu dublo das 22 horas. Sou diretor de dublagem na Marshmallow, onde eu dirijo longas, e à noite trabalho na Álamo. Estamos dublando novelas venezuelanas e mexicanas para mandar para Portugal. Durante o dia tenho que fazer os personagens fixos que tenho por aí, como o Shiryu de Dragão", conta Elcio. Sobre o mercado de dublagem, ele comenta que "de quando eu comecei até hoje, o mercado para a dublagem parece está melhorando. Tem muito trabalho no eixo Rio - São Paulo, que é onde se faz dublagens no Brasil. ".
Não que ele seja um especialista, mas Elcio interpretou vocalmente vários heróis de olhos puxados. "Das séries japonesas, fiz vários personagens. Fiz o Black Kamen Rider, o Sharivan, o Red Flash do Flashman... Fiz algo também para Machine Man e Goggle Five. Comecei a aprender algo de japonês, de tanto que eu ouvia!"
"Eu sou um aficionado por desenho animado. Em desenho também faço a voz do Zé Colmeia, depois que o Cazarré faleceu. Fiz um teste para o personagem na BKS quando essa série nova apareceu e fui aprovado. Eu acho o desenho japonês muito bem feito, muito legal. Eu curto. "
O acaso fez com que Elcio acabasse fazendo o Cavaleiro de Dragão. "O Shiryu não era para ser meu personagem. Era para ser de outra pessoa. Inclusive, se você prestar atenção nos primeiros episódios, a voz era outra. Quando começou a série, eu ajudava o Baroli na direção e fazia o locutor da arena onde estava acontecendo o torneio dos Cavaleiros. Aí o ator que fazia o Shiryu teve um problema de saúde e aí... Daí que eu to fazendo o Shiryu até hoje! Particularmente, eu acho que o mais legal dos Cavaleiros é ele, embora o Seiya seja o protagonista. "
Comentamos com o Elcio que o seu personagem é um dos prediletos do público. De acordo com o dublador, essa simpatia tem fundamento: "Pelo que eu acompanhei da estória, o Shiryu sempre tem um probleminha, como quando ele ficou cego, quem ele teve de lutar nesse estado pelos amigos dele... E acho que isso desperta um sentimento maior nas pessoas. "
Apesar da admiração que tem pela animação japonesa, Elcio faz uma crítica: "Acho que o desenho japonês costuma ser meio agressivo. Se o direcionamento é para crianças, não vejo necessidade de ser exagerado nas cenas de luta, cortando o braço de um cara ou arrancando o coração do outro. Isso é uma violência desnecessária. Dá para se ter ação sem isso. Por isso que acho que o desenho japonês acaba chamando mais a atenção dos adolescentes e dos adultos. "
Sobre a reação do público a respeito da aparência violenta do desenho, comenta Elcio: "Eu soube de um amigo do Rio de Janeiro que recebeu uma carta da escola dos filhos pedindo para que os pais não deixassem as crianças assistir ao desenho. Mas acho que proibir não adianta. Você troca de canal e vai ver outra coisa igualmente violenta. E proibir a criança pode fazer com que ela acabe indo procurar coisas sobre o desenho na rua. Sabe como é que é - aquilo que é proibido causa mais interesse. A coisa depende mais dos pais, da orientação que dá à criança. Eu não acho que ela, depois de assistir a essa série, vai querer sair por aí e furar o olho de alguém. De tudo se tiram coisas boas e ruins e por isso acho importante a orientação dos pais, não só para esse desenho, como em tudo na vida de uma criança. ". "
Leonardo Camilo (Ikki)
Ele é um homem tranquilo, pacato e bem-humorado. Tem 37 anos e 3 filhos. Não parece ter muito em comum com o personagem que interpreta em Cavaleiro, mais sua voz é perfeita para o papel. Ele é Leonardo Camilo, que os telespectadores conhecem mais como o Cavaleiro de Fênix, Ikki.
Leonardo estudou Direito pela Universidade Católica em Recife, por influência de seu pais advogado. Mas sua verdadeira vocação era ser ator. "Quando eu era criança em Recife, eu tinha um amigo que morava do lado do Teatro da Praça. Da casa dele dava para escutar o pessoal ensaiando todos os dias. Comecei a ter interesse pela coisa e passei a assistir aos ensaios. Durante um ano fui a todos. E eles produziam muito, cerca de 3 peças infantis por ano e várias outras para adultos. Um dia, um dos atores teve que viajar e me pegaram para substituir o cara, já que eu tinha assistido aos ensaio. Eu tinha uns 14 anos. Aí peguei gosto pela coisa. "
De Recife, Leonardo foi para o Rio de Janeiro, para a Faculdade de Teatro. Formando e decidido que este era seu caminho, foi para São Paulo, onde sua carreira de ator começou a prosperar. "Fui ator do Sesi; fiz um filme com o Mazzaropi, A Banda das Velhas Virgens; participei dos Telecontos e dos Teledramas da TV Cultura e da novela Os Imigrantes, que está passando de novo na TV Bandeirantes, onde eu sou o Vandinho na 3ª fase da estória. Só que faz uns anos que eu não faço teatro.
Não que faltem convites ou que eu não queira, mais é que a remuneração no teatro anda meio fraca e infelizmente as contas de casa têm data certa de vencimento. Espero que essa situação se reverta, como está dando sinais, de uns tempos para cá. "
Em 1978, Leonardo trabalhava na TV Tupi, quando lhe comentaram que estavam fazendo testes para dubladores na BKS (antiga AIC). Fez o teste e logo foi chamado para dublar. "De 80 para cá a dublagem se tornou minha principal atividade. Dublei tantos filmes que mal me lembro de metade deles. Fiz também muitas locuções para comerciais, rádio, enfim, passei a trabalhar mais com a voz. Em Anos Incríveis eu fiz o pai do Kevin. Fui também o próprio Incrível Hulk, o da série de Tv, e em Jurassic Park eu fiz o Ian. Atualmente além de fazer o Ikki, sou diretor de dublagem na Dublavídeo. "
"Dublar o Ikki foi fácil. No início, com a estória confusa, a gente sabia muito pouco a respeito dos personagens. Mas logo a coisa ficou mais clara e criei um padrão de atuação para o personagem", conta Leonardo. Ele se mostra impressionado com o sucesso da série e cita alguns casos domésticos: "Meu filho menor me comenta como ele gosta do Ikki. Ele é indestrutível; renasce das cinzas. Acho legal a magia que isso passa. Meu outro filho desenho e ele tem copiado desenhos dos Cavaleiros e vendido na escola. Tem coleguinhas dele que fazem até encomendas de desenhos. É engraçado isso. "
Sobre o fato de Ikki defender o irmão mais novo, Shun, Leonardo faz uma observação: "Isso é legal no desenho. É o que devia acontecer sempre, mais eu tenho 3 filhos e vejo que a coisa não é bem assim. Em casa, o mais velho detona o mais novo. O do meio é quem defende o mais novo. Sei lá, coisas de família...".
Leonardo vê em Cavaleiros do Zodíaco pontos negativos e positivos. "Eu mesmo ainda me assusto com umas sequências sanguinárias que aparecem no desenho. Acho que não precisava ser assim. Mas existe muita coisa boa nessa estória e o mais legal é ver o lado da vontade que os Cavaleiros têm de querer dar certo na vida, de usar o poder que eles têm para coisas melhores. "
Letícia Quinto (Saori)
O nome completo dela é Letícia Rodrigues Quinto. Tem 21 anos, gosta de doces, é religiosa (evangélica), formou-se nos 2° grau, é solteira, mais já tem planos para casamento. Morena, gentil e bem-humorada, ela é a voz de Atena (ou Saori), a heroína de cabelos lilás de Cavaleiros do Zodíaco.
Apesar de jovem, Letícia possui um considerável currículo como dubladora. "Participei da regravação da dublagem de National Kid, lançado em vídeo. Eu fiz a namorada do National. Fiz a rebelde Karen, irmã do Kevin Arnold em Ano Incríveis; a filha mais velha do Robin Williams em Uma Babá Quase Perfeita; a irmã do 'Doug', desenho que está no ar pela TV Cultura; a Bizzy de Tudo Em Cima, série exibida pela Globo e a Julian de O Quinteto, na Record. Isso sem contar várias pontinhas, pequenas participações que a gente sempre faz em outros filmes e desenhos. "
Sobre o início de sua carreira na dublagem e sua rotina atual, Letícia nos conta que a coisa vem de longa data. "Eu convivo com a dublagem desde a barriga da minha mãe. Minha mãe, a Rosa Maria, também é dubladora (a voz do 130 - relógio da Telesp). Ela ia gravar e eu ficava no estúdio. Minha escola foi em casa: pai diretor e mãe dubladora. Fui crescendo nisso, mas comecei a fazer dublagem por acaso. Eu estava lá no estúdio da Álamo. O Líbero Miguel, que já faleceu, virou para mim e perguntou se eu não queria aprender. Na época eu tinha 14 anos e não tinha muita gente com o meu tipo de voz. Aí começou uma pontinha, uma coisinha ali, outra aqui... Daí eu fui trabalhar na recepção de uma dubladora que hoje se chama Megassom. Como eu conhecia todo mundo e sempre tinha uma pontinha ou outra para ser preenchida, o pessoal me chamava. Isso foi crescendo tanto que eu fui pegando personagens para dublar e tive que optar. Acabei indo para a dublagem. E a coisa começou a deslanchar. Eu prestei a Faap - Artes Plásticas. Só que não pude fazer o curso por causa dos horários de dublagem. É uma correria o dia inteiro, mas tem dia que você não tem nada. Vou tentar estudar à noite. Se a gente não faz um esforço, a gente não consegue nada, né?"
Esta é a primeira vez que Letícia faz uma personagem de grande sucesso de público. "Eu gosto muito disso, dessa coisa de que a cada dia você é uma pessoa. E a fama até é um negócio gostoso. Eu moro num prédio. Minha vizinha descobriu que eu era a Saori e veio pedir autógrafo para o filho. Engraçado isso, mas as pessoas acabam enxergando a gente como se fosse o próprio herói. "
Da convivência que Letícia tem com sua personagem, ela explica que "a Saori é uma personagem muito serena e ao mesmo tempo muito forte, porque ela comanda os Cavaleiros. Eles vivem para proteger a Saori. Eu tento passar o máximo que posso de serenidade. Serenidade e ao mesmo tempo uma força de vontade para que eles vençam, para que eles não desistam. É divertido fazer a Saori. De repente ela ta ali, no meio do confronto dos Cavaleiros, e tomou uma flechada. Agora tá numa geleira. Ela tá sempre numa situação de risco. Ela vem sempre falando mansinho e de repente ela dá um berro e isso muitas vezes estoura na gravação, porque o pessoal na mesa de som não estava preparado para 'pegar' quando ela fala alto. Ela sempre fala no mesmo tom. ".
Feliz, mas também preocupada com o impacto de público que os Cavaleiros estão tendo, Letícia comenta com bom humor que "a série é uma coisa importante pelo divertimento. Espero que as crianças não se deixem levar pela coisa da violência, mas mais pelo lance de querer ajudar o amigo, salvar o amigo. Eu soube de crianças que não querem fazer mais nada a não ser assistir a desenho. Não deixem de estudar, de brincar também. Mas não deixem de assistir à série, por favor!".
Agradecemos a Gota Mágica e os dubladores pelas entrevistas e, principalmente, pela acolhida que tivemos através da Cristiane, a qual proporcionou um maior conhecimento destes tão "misteriosos" profissionais e do igualmente ignorado mundo da dublagem. Conheça seus dubladores! Escreva-nos, dando sugestões de novas entrevistas. O endereço você já sabe!
Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.
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