quinta-feira, 26 de abril de 2018

Artigos de Revistas - Fernanda Crispim e Miriam Ficher

Entrevista com Fernanda Crispim e Miriam Ficher para a edição n° 133 de Dezembro de 1997 da Revista Herói, contando suas carreiras, suas personagens em Yu Yu Hakusho e sobre a greve dos dubladores que ocorreu naquele ano.


Elas são de duas gerações diferentes da dublagem, e a Herói aproveitou para bater um rápido papo com as atrizes Miriam Ficher e Fernanda Crispim, dubladoras, respectivamente, das personagens Botan e Keiko do desenho animado Yu Yu Hakusho. Vamos primeiro conversar com a Fernanda.


Quantos anos você tem?

Eu tenho 21 anos.

Como foi seu começo na dublagem?

Meu começo foi praticamente igual ao do dublador Peterson Adriano, que é o meu irmão. Para quem não sabe, ele foi durante muito tempo a voz do Bart Simpson. Eu tinha 11 anos, e nessa época, fazia um curso de dublagem na empresa Herbert Richers. Como todos gostavam muito do trabalho da dupla de irmãos, acabamos sendo chamados para vários trabalhos e posteriormente fomos até contratados.

Dá para você citar alguns trabalhos?

Fiz um seriado alemão chamado Pumukel logo no início da carreira. Também dublei muitos documentários e inúmeras novelas mexicanas, como por exemplo: Carrossel 1 e 2 e Chispita, onde eu dublava a própria Chispita.

Lembra de mais alguma coisa?

Não dá para esquecer minha participação em Power Rangers, onde eu fazia a voz da Aisha, a Ranger Amarela. Além disso, dublei outros desenhos japoneses como G-Force, que passa no Cartoon Network, no qual dublava a personagem Eggie. Também usei minha voz em O Gênio Maluco. Beste último, que foi um trabalho de redublagem, eu era a Beth, a namorada do dono do Gênio.

Mas pelo que estou vendo, a Fernanda é na vida real a namorada de outro dublador da série Yu Yu Hakusho. Dá para explicar?

Na verdade não sou apenas a namorada. Sou casa com Duda Ribeiro, que faz a voz do personagem Kurama.


Foi um casamento que teve origem na dublagem?

Claro!!! Tudo começou quando eu e o Duda trabalhávamos na dublagem de Power Rangers. Como já disse, eu era a Aisha e ele Rocky, o Ranger Vermelho. Começamos a namorar e logo depois casamos. Hoje temos um filhinho de 4 meses.


E como anda a situação de vocês com a greve nacional dos dubladores?

Estamos a mais de um mês em greve por melhores salários, e toda a classe de dubladores se encontra nesse momento paralisada no Rio e em São Paulo, que são os dois grandes centros de trabalho de nossa profissão.


Existe algum perigo da greve prejudicar a exibição de filmes e desenhos na TV?
 
Quanto ao desenho Yu Yu Hakusho, acredito que a emissora comece a reprisar a história, pois acho muito improvável que a distribuidora autorize a legendagem das cópias. Com isso, as crianças perderiam muito da compreensão: alguns telespectadores que assistem o programa em casa, sequer sabem ler!
Mas eu sei por exemplo que, com a falta de novos capítulos dublados, a emissora Cnt está legendando uma de suas novelas mexicanas para que os telespectadores em casa não fiquem sem capítulos inéditos.


O que você acha disso?
 
Realmente isso está acontecendo. O nome dessa novela é Canavial de Paixões. Achamos, porém, que pela falta de tradição na utilização de legendas em filmes estrangeiros na televisão brasileira, os espectadores não devem se acostumar com esse processo.


Voltando ao seu personagem em Yu Yu Hakusho, o que você acha da Keiko?

Adoro fazer a Keiko, embora ache que ela tem um temperamento um pouco explosivo. Uma coisa engraçada é o fato dela ser no desenho a namorada do Yusuke, e eu, na vida real, a mulher do Kuruma. Acho que rola uma certa traição no meio dessa história que ninguém sabia até hoje.

E sobre a relação de Yusuke e Keiko, o que você tem a dizer?

Da mesma forma que acontece comigo e com o Duda, vejo que ela sempre dá a maior força para o namorado e algumas vezes, até o impede de se meter em confusões.



Mudando um pouco de assunto, como é dublar um desenho de origem japonesa?

Tem que haver muita criatividade pois, muitas vezes, as falas que vem no texto são muito pequenas e a gente tem de improvisar. Além disso, quando o áudio vem em inglês ou em espanhol, sempre dá pra entender uma coisa ou outra.

No caso de Yu Yu Hakusho, só podemos mesmo nos guiar pelo pequeno texto disponível. O resto, vai da improvisação e sensibilidade de casa um. Pelo menos quanto a isso, o nosso diretor da Áudio News nos deixa bem a vontade.

Obrigado Fernanda. 

Agora vamos bater um papo com a dubladora Miriam Ficher, que faz a voz da personagem Botan. 


Como foi o começo de sua carreira?

Comecei com 13 anos na TV Globo, onde fazia novelas. Nessa época pintou um seriado chamado Família, e fui convidada para dublar a personagem Buddy, uma adolescente que tinha a mesma idade que eu. Naquela época, não existiam dubladoras crianças, ou adolescentes, e eu praticamente inaugurei esse segmento de trabalho juntamente com outros dubladores indicados pela atriz Guta. Estou hoje com 33 anos e de lá para cá, já se passaram 20 anos.

Qual a diferença das crianças que dublavam nos anos 70 e as de hoje em dia?

Não acho que essa pergunta deva se restringir apenas às crianças dubladoras, mas a todas elas. A minha geração foi muito reprimida em todos os sentidos. Hoje, como existe um grau de informação muito maior, acho que isto acaba até influenciando no trabalho que vai ao ar.


As crianças quem dublam hoje em dia, como já são mais espertas, aprendem e desenvolvem seu trabalho com muito mais facilidade. Me lembro que, logo quando estava começando a dublar, houve uma greve de dubladores, e eu só parei porque meus colegas estavam também parados. Não sabia nem direito o que vinha a ser a palavra greve, e olha que eu já estou na minha segunda.


Quem você já dublou?

As atrizes Uma Thurman, Linda Blair, Wynonna Rider e Jodie Foster. Sou inclusive a dubladora oficial da "Jodie" no Brasil. Também fiz a Valerie em Barrados no Baile e a Lilíca de Tiny Toons. É claro que não dá para esquecer a Botan de Yu Yu Hakusho. Hoje, além de dublar, também faço direção de dublagem.


Você pode falar um pouco da Botan?

Ela faz parte do Mundo Sobrenatural, tem uma missão específica dentro da história e é uma grande heroína, mais eu a encaro como qualquer garota de sua idade. Está sendo um dos trabalhos que mais estou gostando de fazer.


E como anda a greve dos dubladores do Rio e São Paulo?

Como não temos aumento de salário a dois anos e meio, acho que nossa greve é mais do que justa. Inclusive, ela já foi declarada legal pelas autoridades. Vou tentar explicar o que acontece: o trabalho dos dubladores movimenta, direta e indiretamente, uma grande quantidade de dinheiro e quando fazemos o nosso trabalho recebemos apenas uma vez. Hoje estou sem trabalhar, e a minha voz continua em todas as emissoras do país. É aí que entra também a lei do direito de intérprete que existe desde 1978 e diz que devemos ganhar cada vez que um trabalho nosso é exibido. Existem trabalhos como o filme Bell, onde fiz a voz da Jodie Foster, que vão passar na Globo, já foram exibidos em canais a cabo e estão à disposição na locadora.


Como já falei antes, nesse processo todo ganhei apenas uma vez, e mal por sinal. Se pensarmos que, no caso de um desenho como Yu Yu Hakusho ainda são vendidos brinquedos, dá para imaginar os milhões de dólares que o nosso trabalho acaba gerando.

Há também o problema do excesso de horas trabalhadas e mal remuneradas. Para ganharmos algum dinheiro com dublagem, temos de trabalhar 14 ou 15 horas por dia, pelo menos, o que é muito exaustivo! Estamos lutando por uma melhoria de salários e resolvemos cruzar os braços. O triste é que só a greve me fez arrumar um tempo para ver as minhas duas filhas, que passam a maior parte do tempo com uma babá. Estamos pedindo apenas uma compensação por todas as perdas salariais dos últimos anos. Gostaria de pedir desculpas ao público que sofre com a falta de capítulos inéditos e dublados de seu programa favorito, mais somos uma classe de trabalhadores como qualquer outra, e precisamos sobreviver com salários dignos.

Marcelo Del Greco.

As entrevistas que você acabou de conferir foi realizada no final de Outubro. Na época os dubladores de São Paulo e Rio estavam em greve lutando por seus direitos como a Miriam Ficher explicou. Mas a situação já está resolvida. Desde Novembro os estúdios de dublagem já voltaram a funcionar com força total. Logo, Yu Yu Hakusho já está tendo seus últimos episódios sendo dublados pela Áudio News. Com isso, se tudo correr bem, na próxima edição já teremos capítulos inéditos das aventuras de Yusuke e seus amigos, mostrando o Torneio final no inferno, com as presenças de Raizen, Yomi e Mukuro entre outros capetões. Até lá, e não se esqueça que ninguém conheceu o outro mundo por querer!!!

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Um comentário:

  1. Caramba eu não sabia que acontecera uma greve nessa época. Meu deus... ainda bem que tudo se resolveu rapidamente nesse ano de 97.

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