quarta-feira, 20 de março de 2019

Matérias - O Início da Dublagem no Brasil


Enviado em 09/08/2011

Nós sabemos que os primeiros trabalhos de dublagem a serem realizados no Brasil foram as dublagens Disney, feita pelos rádioatores da época, mas a dublagem propriamente dita, como trabalho diário e profissional dentro desta arte, começou a acontecer desde 1957.

Havia uma empresa cinematográfica em São Paulo chamada Maristela, fundada em 1950 por Mário Audrá Junior, com também atuação de sua família. Ela teve uma fase boa, lançou filmes conhecidos, mas nada tão famoso como empresas como Vera Cruz, entre outras. Em 1957 a empresa fecha as portas, por decorrência do lucro das bilheterias não dar mais conta dos lucros na empresa com seus funcionários.

 

Nesse mesmo ano chegava ao Brasil o vídeotape pela TV Tupi de São Paulo e pela TV Rio. Ele possibilitou que se passassem séries e filmes legendados, mas o problema era que por se tratar da TV Preto e Branco, as legendas só tinham, logicamente, duas opções de cores, no caso eram brancas, e quando a cena atrás delas também era branca, não se conseguia ler nada, e vice e versa, fora isso a baixa qualidade dos televisores piorava ainda mais essa situação. Foi aí que surgiu a idéia, exportada de outros paises como Estados Unidos, Espanha, Itália, entre outros, de trazer a dublagem ao Brasil.

 

Slogan da Empresa

 

Com isso, essa nova idéia chega aos ouvidos de Mário Audrá, empresário recem-falido, que logo gostou da idéia, e fundou o estúdio GravaSon, usando os equipamentos da antiga cinematográfica Maristela. Fundou a empresa no bairro da Lapa, Zona Oeste de São Paulo, com parceria do representante da Screen Gems no Brasil, subsidiada à Columbia Pictures, Hélios Alvarez, e outros amigos do ramo do cinema. Da início aos testes com rádioatores contratados da Rádio São Paulo, e quando já se tem um cast estruturado comandado pelo diretor artístico da casa, Glauco Laurieli, começa a dublagem no Brasil, o que só se deu início no ano seguinte da criação da empresa, em 1958. As primeiras produções dubladas na empresa foram O Drama de Nora Hale, fazendo parte de Ford na TV, e as séries Rin-Tin-Tin, Lanceiros de Bengala, Papai Sabe Tudo, entre outros.

 

Prédio do Cassino Atlântico aonde ficava a TV-Rio

 

6 meses depois da criação da GravaSon, já no ano de 1958, é fundada a empresa ZIV, uma produtora de dublagem montada dentro dos estúdios da TV Rio, no posto 6, no antigo prédio do Cassino Atlântico na Avenida Atlântica em Copacabana, por Carlos De La Riva Saéz, mandado exclusivamente da Espanha por seu tio Adolfo de La Riva, para gerenciar o estúdio. O estúdio era o resultado da parceria da primeira empresa de dublagem no México, a Rivatón de América S.A., de Adolfo, e a distribuidora americana ZIV Television Programs, Inc, que era detentora de vários títulos americanos famosos na TV na época. Na empresa, Carlos convidou a montadora de filmes, roteirista, cineasta, e diretora de teatro e TV, a italiana Carla Civelli, que trabalhava na TV Rio, para ser diretora na empresa.

 

 Carlos, que acabou vindo pra cáDe La Riva era um técnico de som do cinema nacional que tinha vindo recentemente da Espanha para o Brasil para trabalhar exclusivamente com som, mas que foi conquistado por esse novo mercado que se nascia: A Dublagem.

 

Os filmes e séries eram dublados aqui e mixados no México. Séries dubladas na ZIV podemos citar as seguintes: Cisco Kid, aonde o ator Wilson Vianna dublava o protagonista, Aventura Submarina, aonde o ator Wilton Franco dublava o protagonista, interpretado pelo ator Lloyd Bridges, Bat Masterson, Patrulha Rodoviária, entre outras.

 

Slogan da Richers

 

Já a Herbert Richers como foi citado anteriormente, começou na dublagem em 1958 nos estúdios da CineLab, também usando os estúdios da Cinelândia.

 

Na mesma época, em 1958, surgiu também no cenário da dublagem a Cinematográfica Herbert Richers, que usava os estúdios da CineLab Estúdios e Laboratórios, estúdios esses que trabalhavam para o cinema desde 1940, já que na época a Herbert tinha estúdios pequenos, e somente direcionados para o cinema. A empresa também usava alguns estúdios no bairro da Cinelândia.

 

Muitos dizem que a Herbert foi a pioneira no Rio, mas isso nós não podemos falar com clareza, já que o próprio Carlos De La Riva mencionou que a ZIV foi a primeira empresa de dublagem do Rio. Em todo o caso, ela entrou para a dublagem praticamente na mesma época. As primeiras séries dubladas na Herbert foram A História de Zane Grey, Maverick e Zorro. Muitos dubladores iniciaram a carreira na Herbert Richers, entre eles Luiz Manoel, Orlando Drummond, Mário Monjardim, entre outros.

 

A Herbert comprou estúdios próprios um tempo depois, mas em 1963 ouve um incêndio, e a empresa os perdeu. No mesmo ano comprou os estúdios no bairro da Tijuca, na Rua Conde de Bonfim, N° 1331, o qual viria a se tornar palco de grandes produções tanto para a dublagem, quanto para o cinema, quanto para a televisão; em especial para a Rede Globo.

 

No decorrer dos anos de 1960, não tendo mais seus estúdios usados pela Herbert, a CineLab  dedicou-se apenas aos cinejornais, sendo comprada pela empresa Líder em 1967, que em 1968/69 também comprou a Cinematográfica Atlântida. Luiz Marano foi o fundador e dono da CineLab até seu encerramento. A empresa localizava-se no bairro de São Cristovão na cidade do Rio de Janeiro.

 

Slogan da Ibrasom

 

No mesmo ano de 1958 surgiu outra empresa que se lançava no ramo da dublagem: A Ibrasom. Estúdio fundado em 1952 na cobertura de um edifício na esquina da Rua Pirineus com a Alameda Barros, na frente da praça Marechal Deodoro em São Paulo, por um grupo norte-americano gerenciado pelo ex-radioator da Radio São Paulo, Adrien Filho, marido da também rádioatriz Mirtys Grizoli. Muitas séries foram dubladas lá em seu início, como: Os Detetives, Roy Rogers, Alem da Imaginação (que foi dublado na empresa à pedido da GravaSon, e era usado o slogan da GravaSon em sua abertura), entre outros. A Ibrasom funcionou até 1966/67, quando foi comprada por Mário Audrá Junior e agregada a AIC (antiga GravaSon), e seus estúdios rebatizados de Íbis. A partir daí a empresa era usada para finalização sonora de filmes dublados na AIC, pequenas dublagens, e sonoplastia para o cinema nacional. Com o tempo, estava ficando dispendioso manter o estúdio, então Mário Audrá Junior resolveu fechar os estúdios da Íbis. Muitos dubladores famosos começaram na Ibrasom como José Soares, Carlos Campanile, dentre outros. Os diretores artísticos da casa foram Cristóvão de Alencar e José Soares.

 

Slogan da Riosom

 

No ano de 1959, surgiu outra empresa: A Riosom. Criada por Pedro Kullock na Rua do Senado, N° 185, no Centro do Rio de Janeiro. A Riosom S.a. foi uma empresa criada tanto para a sonoplastia do cinema nacional, quanto para a dublagem. Nara Leão, Aloysio de Oliveira, entre outros cantores, gravaram seus discos no estúdio. Além disso era um dos estúdios preferidos da Walt Disney para realizar suas dublagens. O Diretor artístico da casa era Ribeiro Santos. Entre suas primeiras dublagens estão: O Rei dos Ladrões, Mares da China, Os Quatro Fantástico, Heróis Marvel, entre outros. Um fato curioso sobre a empresa é que era feita a narração no início das produções citando a lista de dubladores dos protagonistas da produção, algo inédito e pioneiro no Brasil que era único e exclusivamente feito pela Riosom, fato que se tornaria lei décadas mais tarde. Outro fato que deve ser citado, é que a empresa foi a primeira a contratar com carteira assina, começo em 1 de Março de 1966, sendo 11 profissionais os primeiros contratados.

 

No mesmo ano a ZIV de Carlos De La Riva fecha as portas, e Carlos monta a empresa Rivaton S.a, com parceria na mesma localidade com o americano recém-chegado dos Estados Unidos, Ralph Norman, que monta no mesmo local a empresa Peri Filmes, e ambas as empresa se localizavam na Rua Alice, no bairro de Laranjeiras. A Rivaton foi criada para ser um estúdio de dublagem para a TV e o Cinema, diferente da Peri Filmes, que na época só trabalhava com o cinema nacional, tendo posteriormente entrado também para o ramo da dublagem para a TV. No início dos anos de 1960 a Peri Filmes entra para a dublagem. Uma de suas primeiras séries foi Bonanza, tendo também Carlos De La Riva como técnico de som, trabalho que também desempenhava na empresa. Em meado dos anos de 1960, ambas as empresas transferem-se para a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, N° 701, Ap. 2. Por volta de 1966/67 a Peri Filmes fecha as portas, reabrindo no início dos anos de 1970. Com o seu fechamento, Ralph manda suas séries para serem dubladas na AIC, em São Paulo. Já nos anos de 1970 dubla séries como O Planeta dos Macacos, M.A.S.H., Mary Tyler Moore (primeira temporada), entre outras. Também nos anos de 1970 abre uma cede da empresa em São Paulo.

 

Nessa mesma época a Rivaton fecha as portas, e inaugura em 1972 a Gravação Tecnisom Ltda., conhecida apenas como Tecnisom, nos estúdios do Museu de Arte Moderna na Avenida Infante Dom Henrique, N° 85, no Parque do Flamengo, Rio de Janeiro. Anos mais tarde mudara para a Rua Eliseu Visconti no bairro do Catumbi (a região também atribuem ao bairro Santa Tereza, por serem visinhos). A nova empresa de Carlos De La Riva continuou trabalhando para o cinema e dublagem. No cinema particularmente atuando nas finalizações de filmes. Já na dublagem, Carlos estava mais atuante do que nas empresas que tivera no passado. Entre seu cast de produções temos filmes como: a trilogia de O Planeta dos Macacos, O Segredo das Jóias, Um Dia Em Nova York, entre outros. A empresa também começa a dublar para a Disney, desde seu início, em produções como Robin Hood, Bernardo e Bianca, Mogli, o Menino Lobo, entre outros. A empresa mudou de nome em meado dos anos de 1980 para Delart, tendo posteriormente mudado seus estúdios para a Tijuca. A confiança no estúdio por parte da Disney continuou, e até os dias de hoje muitos de seus longas são na empresa.

 

Slogan da CineCastro

 

No mesmo ano de 1959, é inaugurado no Rio de Janeiro o estúdio CineCastro, de Aloísio Leite Garcia, convidando Carla Civelli que acabara de sair da ZIV, para trabalhar como diretora artística da empresa, e também como diretora de dublagem. A primeira série a ser dublada na empresa foi Charlie Chan, com Cláudio Corrêa e Castro dublando o personagem principal Charlie Chan, e Adriano Reys dublando Barry Chan,o filho numero 1, ambos atores de televisão na época. Também foram dubladas outras séries de sucesso como I Love Lucy, O Regresso de Ultraman, Nós e o Fantasma, entre outros. Em 1971 a empresa cria uma cede em São Paulo, sendo uma das únicas empresas na história a ter núcleo nos dois pólos: Rio e São Paulo.

 

Por volta de 1960 é inaugurada no Rio de Janeiro outra empresa de dublagem: A Dublasom Guanabara. Empresa criada pelo diretor artístico da Riosom, Ribeiro Santos ao lado de seu amigo Léo Magalhães, que funcionava na Rua da Passagem, em Botafogo, Rio de Janeiro. Lá tivemos Luiz Manoel que foi diretor de dublagem chefe de produção da casa, e também era muito amigo de Ribeiro Santos, alem de sócio do mesmo na empresa. A empresa em seu início dublou produções como: Os Apuros de Penélope Charmosa, Os Monstros, Scooby-Doo, Cadê Você, Mr. Ed, Gunsmoke, entre outros.

 

Em 1961, o então presidente Jânio Quadros, estipulou uma lei de obrigatoriedade de todo o produto estrangeiro para TV ser dublado, o que a partir desse ano viabilizou e muito o trabalho das empresas de dublagem, fazendo muitas se consolidar e outras serem fundadas.

 

Em 1961 é fundada também a empresa Odil Fono Brasil S.A., por Ademar de Barros Filho, filho do ex-governador paulista Ademar de Barros, na Rua Petrópolis, N° 111, no bairro de Sumaré em São Paulo. No início a empresa só dublava filmes nacionais, só mais tarde que ingressou na dublagem para a TV. A Odil nunca foi única e exclusivamente empresa de dublagem para a TV, dividia muito esse tipo de trabalho com o cinema nacional e outros trabalhos sonoros diversos. Em 1982 tentaram levantar a empresa que não estava boa, mas acabou vindo a fechar em 1985. Entre seus primeiros trabalhos estão: Vila Sésamo, Ufo, Os Batutinhas (1ª Dublagem), entre outros.

 

Primeiro Slogan da AIC

 

Voltando a falar sobre a pioneira GravaSon, por volta de 1962, a Columbia Pictures faz uma parceria com a empresa, mudando inclusive seu nome para AIC, Arte Industrial Cinematográfica, que seria a empresa que se tornaria uma das melhores de sua época. Dublou séries famosíssimas para a TV como Jeannie é Um Gênio, A Feiticeira, Viagem ao Fundo do Mar, Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, Jornada nas Estrelas, entre muitas outras.

 

Em 1963 foi inaugurado outro estúdio de dublagem, chamado TV Cinesom. Criado pelo dublador Victor Berbara, a empresa localizava-se na Rua Voluntário da Pátria, N° 449, no bairro de Botafogo. Em 1966 foi vendida para o dublador paulista Hélio Brasil Porto, com sociedade com Amaury Costa. Nessa época o estúdio contava com um grande elenco de dubladores de São Paulo, cerca de 15 profissionais da AIC São Paulo, incluindo os próprios donos, alem de dubladores do Rio. Havia uma certa hostilidade de alguns dubladores do Rio naquela época em dublar nesse estúdio, pois era uma invasão de outro pólo, e na época não era bem aceito, mesmo se tivesse ocorrido de forma contrária, alguma empresa do Rio indo para São Paulo, mas mesmo assim a empresa foi seguindo seu trabalho. Outro fator que pesava foi que a empresa começo após a greve de 1966, a contratar os dublador com carteira assinada, o que era uma afronta aos outros estúdios, e os dubladores que lá trabalhavam, eram considerados traidores. Uma de suas primeiras produções foram: A Família Addams, James West, Batman (3ª Temporada), Os Cavaleiros da Arábia, Maquinas Voadoras, entre outros.

 

No início dos anos de 1970 há uma crise muito séria, não só nas empresas de dublagem como nas emissoras de televisão. Nessa época o Brasil estava vivendo tantas mudanças, que é até difícil enumera-las. Alem da ditadura militar, e uma mudança econômica no país, houve também empresas como TV Paulista, TV Continental, TV Rio e TV Excelsior que haviam falido em final dos anos de 1960, início dos anos de 1970. Também houve a inauguração da Rede Globo em 1966 e a parceria dela com a Herbert Richers no início dos anos de 1970, parceria essa que fazia com que a Rede Globo mandasse suas produção para serem dubladas na Richers, e a empresa cedia seus estúdios para a gravação de suas novelas. Era um elo muito poderoso na época, Herbert com sua empresa cinematográfica muito forte ainda no cinema nacional, e Roberto Marinho, herdeiro de um jornal também muito forte que era o Globo, e agora também dono da emissora de mesmo nome. Isso fez com que essa parceria desse certo por cerca de 25 anos. Com isso as empresas de dublagem também foram falindo, à começar pela Riosom em 1970, seguido da TV Cinesom em 1971, CineCastro em 1974 e Dublasom Guanabara por volta de 1975/76.

 

A empresa CineCastro chegou a ser comprada em 1973 por decorrência de dívidas, por Paulo Amaral. O técnico de som Alberto Elias sai da empresa e vai para a Rede Globo, apenas Spyros Saliveros e Carla Civelli continuam na empresa. Em 1974 a empresa muda o nome para Televox, mas mesmo assim não conseguiu resistir as pressões do mercado, e fecha as portas em 1975.

 

Slogan do Site da Álamo

 

Em 1972 surgiu outra empresa de dublagem que se tornaria um marco, principalmente na mixagem e técnica de som: A Álamo. Criada pelo Inglês Michael Stoll, ex-técnico de som da Vera Cruz nos anos de 1950 e ex-dono da empresa de sonoplastia para a Televisão, Brascontinental, Michael revolucionou a técnica de som no Brasil, trazendo equipamentos de última geração para a empresa. A empresa inicialmente começa a trabalhar para o cinema nacional, depois abrange esse trabalho também para a dublagem. A empresa lançou vários nomes no mercado, e dublou diversas séries e filmes marcantes. Entre eles estão os clássicos Anos Incríveis, Muppets Show, O Mundo de Beakman, e desenhos como A Família Addams (1974), Bob Esponja, Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco, entre outros.

 

Em 1976 surge outra empresa: A Telecine. Criada por Spyros Saliveros e Alberto Elias, a empresa veio com a intenção de concorrer com a Herbert Richers, e chegou a ser por cerca de 15 anos uma boa concorrente. Alberto Elias também criou na mesma época e no mesmo local da Telecine, a empresa Elias Som. Ele se desliga da Telecine em 1986, quando sai para criar a Cinevídeo. Nos anos de 1990 a Telecine trabalhava com parceria com a Mastersound de São Paulo, criando algo inédito na dublagem brasileira, uma dublagem mista Rio-São Paulo, mas sempre creditada pelo nome da Mastersound. Entre suas produções famosas estão: Os Flintstones nos Anos Dourados, Gata em Teto de Zinco Quente, Maquina Mortífera 4, Robocop – O Policial do Futuro, entre outros. Veio a fechar as portas em 2006.

 

Slogan do Site da BKS

 

O ano de 1976 marcou também por outro acontecimento, o fim do estúdio AIC. Desde o início dos anos de 1970 e até antes disso, a empresa já passava por problemas salariais, e chegou a um ponto em que caiu nas mãos dos funcionários, e os empresários, entre eles Mário Audrá, deixaram a empresa. Quem à comprou foi um técnico de som da própria empresa chamado Bodham Kostiw, e deu o seu nome a empresa, sendo Bodham Kostiw Studios, o qual ficou BKS. Posteriormente, nos anos de 1980 a empresa foi comprada por Pierângela Piquet, que não quis se desfazer da sigla BKS e à transformou em Brás Kino Som.

 

Dubladores em Greve em São Paulo

 

A greve de 1977 foi uma das, se não a pior greve no meio da dublagem. Rio e São Paulo pararam, vários donos de estúdios não queriam reajustar o salário dos dubladores, até diziam que eles não eram atores e que não tinham direitos conexos. Foi algo muito sério. Então com isso após a greve, no ano de 1978, é criada uma cooperativa de dubladores que resolvem abandonar as empresas que foram contra os dubladores ;apesar de terem sido obrigadas depois a pagá-los da devida forma que mereciam; e com isso os mesmos foram impedidos de voltar a dublar nessas empresas. Foi criado em São Paulo a Com Arte, cooperativa que tinha a frente o dublador João Ângelo, e que começou a funcionar dentro do Núcleo de Dublagem da TVS, liderado e implantado por Salathiel Lage, que revolucionou a dublagem a partir da fundação do núcleo em Junho do mesmo ano, sendo pioneiro na dublagem para Videotape. Esse núcleo existiu por pouco mais de 10 anos, tendo funcionado a maior parte do tempo dentro dos estúdios Silvio Santos no Carandiru, sede da TVS, futuro SBT.

 

No Rio após a greve foi criada a Cooperativa Mista Brasileira de Artistas e Técnicos, a Combate, liderada entre outros pelo dublador Luiz Manoel, e tinha como presidente do conselho fiscal Alfredo Martins. Ela usava os estúdios da Peri Filmes para realizar suas dublagens. Seus escritórios eram na Rua Santa Amélia, no bairro de Praça da Bandeira.

 

A Com Arte permaneceu até 1983, ficando inativa. Em seu lugar surgiram outras prestadoras, também dentro da TVS, como a Elenco e a Maga. Já a Combate durou até 1984, e seus funcionários tiveram que migrar para outras empresas.

 

Slogan do Site da Delart

 

Por volta de 1985, Carlos De La Riva transforma o estúdio da Tecnisom em Delart Estúdios Cinematográficos, aquela que 2 décadas mais tarde se tornaria uma das empresas mais famosas do país. Em seu início ela funcionava na Rua Elizeu Visconti no bairro de Santa Tereza. Posteriormente muda de endereço para a Rua Dr. Otávio Kelly, N° 71, no bairro da Tijuca, no qual está até hoje.

 

Por volta do mesmo ano a Peri Filmes fecha as portas definitivamente, depois de não conseguir competir com a gigante Herbert Richers.

 

A segunda prestadora do Núcleo de Dublagem da TVS, a Elenco, foi criada pelo dublador Felipe Di Nardo, a qual como a Com Arte dublou em muitas produções para a TVS. Ela dura até final dos anos de 1980. A Maga, do também dublador Marcelo Gastaldi, já foi uma prestadora que teve o seu diferencial, dublou muitas séries conhecidas para a TVS como Chaves, Chapolin, Snoopy, entre outros. No final dos anos de 1980 a Maga se transfere para os estúdios da Marshmellow em São Paulo, o qual deixou de existir após o falecimento de seu fundador, Marcelo Gastaldi, em 1995, durando pouco mais de 10 anos. Essas prestadoras funcionaram dentro do Núcleo de Dublagem da TVS, eram pequenas empresas que tinham a sua marca e abriam suas produções com seus slogans.

 

Estúdio da VTI

 

Outra empresa surge no cenário da dublagem do Rio: A VTI. A empresa foi fundada em 1950 por Victor Berbara trabalhando no ambiente publicitário. A partir de 1960 Victor fundou a Network, que foi a distribuidora da Abc Films, distribuindo várias séries de sucesso para serem dubladas no Rio. Em 1984 Victor fundou a VTI, só para dublagem. Entre suas primeiras produções dubladas estão a 6ª Temporada de Profissão Perigo, Jornada nas Estrelas IV, a redublagem de alguns episódios de Alem da Imaginação, Arquivo X, entre outros. Essa empresa veio também com a intenção de concorrer com a Herbert Richers, e em muitos momentos teve uma concorrência acirrada, passando a também concorrente Telecine.

 

Outra empresa também que teve o seu destaque nessa época, foi: A Sincrovídeo. Criada por Luiz Manoel que havia saído da Peri Filmes após seu fechamento, cria a empresa por volta de 1988, empresa essa que fez grandes trabalhos, principalmente infanto-juvenis como Jambo e Ruivão, CatDog, Blossom, Garfield, entre outros.

 

Slogan da Sigma

 

Também nos anos de 1980 houve uma empresa que principalmente fazia dublagens Disney para TV, era a S&C Produções Artísticas, de propriedade de Antonio Carlos Alvim Coelho e do dublador Carlos Alberto Seidl. Com a saída de Carlos Seidl de São Paulo em 1985, Antonio toma conta sozinho da empresa, e no início dos anos de 1990 modifica o nome da empresa para Megassom. Jorge Barcellos, que era diretor artístico da S&C, continua exercendo esse cargo na empresa, e também continua sendo um de seus principais diretores de dublagem. Em 1989 Jorge monta a Sigma, que no início trabalhava apenas com vídeos empresariais, filmes institucionais e didáticos, e documentários, e só a partir de 1995, com o fechamento da Megasom que Jorge lança a Sigma no mercado da dublagem para TV e Cinema, implantando na empresa o trabalho que fazia na Megasom desde os tempos de S&C. Com ele também vão as produções Disney, e a confiança da mesma na continuação de seu trabalho. Também fechou contrato com as distribuidoras Hbo e Buenas Vistas, com as quais também trabalha até os dias de hoje.

 

Slogan da Dublavídeo

 

Nos anos de 1990 nós temos um novo ambiente na dublagem nacional, vários estúdios nascem, e com o advento da TV a Cabo, muitas outras produções aparecem e fazem crescer esse mercado. Empresas como Mashmellow, Mastersound, Clone, Sigma, Dublavídeo, DPN Santos, Parisi Vídeo, Centauro, Gota Mágica, entre outras, começaram a surgir, todas com um ritmo considerável de trabalho.

 

Slogan da Wan Macher, uma das maiores empresas de dublagem hoje em dia

 

Em contra partida surgia no Rio empresas como Áudio News, Áudiocorp, Wan Macher, Cinevídeo, Som de Vera Cruz, Doublesound, entre outras, e começam inclusive a bater forte na poderosa Herbert Richers.

 

Não podemos deixar de citar que em meado dos anos de 1990, a Globo cria o Projac, e deixa os estúdios da Herbert Richers, o que fez a empresa cair um pouco. Nos anos 2000 com a preferência de Silvio Santos pela Delart e Wan Macher para realizar suas dublagens, a Herbert cai ainda mais, já que praticamente 80% do que era dublado para o canal era feito em sua empresa, o que fez com que a empresa caísse ano a ano, vindo a sua falência total no início de 2010, alguns meses após a morte do dono, o fundador e cineasta Herbert Richers.

 

Cede da Parisi Vídeo, um bom estúdio mas com vida curta

 

Com a invasão de tantas empresas, muitas não aguentaram, foi o caso da Gota Mágica no final dos anos de 1990. Após o fechamento da Telecine em 2006, a sua parceira Mastersound também não aguentou e fechou suas portas em 2009. Nem a VTI escapou, em 2008 era ela quem também fechava suas portas. Também foi fechada uns anos antes em 2006 a Parisi Vídeo, e em 2011 terminava o reinado de mais uma poderosa, a Álamo.

 

Com um cenário tão instável na dublagem nacional, há vários pontos a serem ressaltados, principalmente do cenário de 1990 em diante. Alem do advento da TV à Cabo no ano de 1990, há também o material que canais de TV aberta como Manchete, Record, Bandeirantes e Cultura, começaram a adquirir, e que ajudaram as empresas a crescer. Por outro lado entravamos em uma década aonde exibir filmes dublados nos cinemas estava se tornando uma coisa cada vez mais comum, o que fez entrar outra modalidade na dublagem: A de ganhar mais dublando para o cinema. Como se não fosse o bastante começaram a aumentar os canais de documentários, séries e filmes dublados na TV à Cabo, até muitos canais que eram contra esse tipo de programação, aderiram à ela.

 

Tivemos logicamente pontos bons também na tecnologia e rapidez na dublagem. Foram passados para apenas 1 dublador por vez, realizando depois a mixagem de todas as vozes, programas que ajudam a encaixar a voz melhor na boca do personagem, M&E, que significa Música e Efeitos (Music And Effects), que são todos os sons que foram feitos para a produção em questão, e que são mixados com o filme, sem alteração alguma com as vozes, o que já não acontecia em tempos passados. Mas também com essa rapidez e competitividade, foi se perdendo a maestria com que se dublava antigamente, o que não era nem só técnica nem só boa leitura, era boa interpretação.

 

Claro que as produção dessa nova época também não eram ricas de interpretação, coisa que se seguiu em um certo nível equilibrado, mas faz falta e muito o profissionalismo que tínhamos no passado. Claro que os anos de 1990 e também de 2000 trouxeram muitos talentos para a dublagem, muitas crianças boas na arte, muitas vozes bonitas, muitos profissionais de primeira linha, mas por outro lado, surgiu muita gente sem talento, sem interpretação e sem boa leitura, muitas dublagens com famosos para se ganhar em bilheteria nos cinemas, muitas empresas que se abriram em Miami, e muitas delas fizeram parcerias com empresas brasileiras, e que acabava trazendo profissionais muito piores do que nós já tínhamos no Brasil. Trouxeram profissionais que não eram atores, pois como em Miami não se exige nada para trabalhar com dublagem, essa contratação traz menores preços, e assim foi andando a coisa.

 

O que não podemos perder são os bons dubladores e diretores, e também o ouvido atento de diretores de canais de televisão com esses profissionais no comando, para que sempre se possa escolher o que tem de melhor em suas produções, e não deixar morrer o que os primórdios da dublagem lutaram tanto nesse pais, a arte com que se dubla, a boa leitura, a interpretação, a tradução, a mixagem, em outras palavras: O Profissionalismo.

 

Fontes: Acervo Pessoal, Carlos Amorim, Alfredo Martins, Wikipédia, Ohayo, Marco Antônio Silva Santos, Orlando Drummond, Luiz Manoel, IMDB, Livro 40.000 no Comando da Economia Brasileira, Waldir Barbosa, Rafael de Luna Freire, Álamo, Wan Macher, Ohayo!, David Denis Lobão, Falando de Dublagem, Dublavideo, Flávio Dias, Wikia, Camaroon Rod, Beto Anoniman, Augusto Bisson, Izaias Correia.

2 comentários:

  1. Bom dia. Sabe me dizer com clareza sobre a dublagem de Além da Imaginação? A GravaSon pediu para a Ibrasom dubla-la? Sabe como foi isso? Desde já, obrigado.

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  2. Rapaz, foi falado isso no antigo blog Universo AIC, por algum dublador da época. Mas o que me lembro foi exatamente isso. Parece que a Helena Samara quem disse isso, que a GravaSon fez uma parceria com a Ibrasom. Talvez estava com algum problema em seus estúdios, não sei. Até dá pra entar procurar isso no Universo AIC no Wayback Machine, mas leva um dia todo kkkkk, é um saco.

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