quarta-feira, 20 de março de 2019

Entrevistas - Jomeri Pozzoli

  

Entrevista realizada em 29 Junho de 2009. 

C.D.: Primeiramente muito obrigado por ceder esta entrevista ao site Casa da Dublagem. Jomeri, você nasceu em Campina Grande na Paraíba e começou bem sedo o trabalho de radio, passou pela Radio Tamandaré em Recife e anos depois foi para a Radio Nacional do Rio, conte-nos um pouco do começo da sua carreira pela radio.

Jomeri: Quem nasceu em Campina Grande foi minha mãe, poeta, atriz e declamadora Marili Poz. Eu nasci em Teresina, em 3 de junho de 1928. Meu primeiro aniversário foi comemorado no Rio J e eu já tinha percorrido 18 estados do Brasil. O meu início portanto não foi no rádio, eu vim do teatro para o rádio, para a rádio Tamandaré do Recife, e de lá me transferi para a Rádio e TV Tupi, no Rio, em 30 de janeiro de 1956. (Informações Pegas no Wikipedia!)
 
C.D.: Você também fez cinema: O Homem do Sputnik em 1959 e Pintando o Sete em 1960. De novelas, na Rede Globo, fez Irmãos Coragem em 1970 e Os Ossos do Barão em 1973. Por qual razão você não continuou na dramaturgia? (Informações Pegas no IMDB!)
 
Jomeri: Não fiz nenhuma dessas duas últimas. Fiz da Janete Clair, Rosa Rebelde, e do Dias Gomes, duas: Assim na Terra Como no Céu e Bandeira 2. A última vez que atuei em novela foi no Carinhoso, da J Clair, e depois passai a atuar somente nos programas humorísticos, da Tupi, e da Globo, como o Balança Mas Não Cai, Na Tupi atuei em vários programas, como o Teatro de Comédia, que fazíamos uma peça por semana, todo sábado. Aí atuei com Jayme Costa, Dulcina de Morais, Eva Tudor e tanta gente.
Quando eu cheguei no Rio nem telefone eu tinha e todo mundo vinha me buscar, me encontrava. Os trabalhos chegavam até mim: Francisco Dantas, diz e diz Dulcina quer Hoje em dia precisa pedir e não estou mais em idade de estar pedindo nada. É por isso que continuo dublando, na dublagem me chamam.
 
C.D.: Como, quando e em que empresa você foi chamado para dublar pela primeira vez?

Jomeri: A primeira empresa foi a CineCastro, com a diretora Carla Civelli, a professora de quase todo mundo, como Natália Timberg, Ida Gomes, Teresa Amaio, Hugo Carvana, Maria Fernanda, da Cecília Meirelies, Jardel Filho, Roberto Maia, Diana Morel. Os grandes nomes do teatro, todos dublavam na CineCastro.
Não lembro do primeiro personagem.

C.D.: Agora vamos aos personagens: você tem uma lista enorme de personagens principalmente em desenhos animados. Nos anos 70 eternizou as vozes do Capitão Mike Murphy em Laboratório Submarino, Harry Boyle em Papai Sabe Nada e ainda substituiu Ênio Santos no papel de Chefe Pondo em O Poderoso Mightor. Você sabe o porque que você era muito chamado para dublar em desenhos?

Jomeri: Sim, é verdade, eu nem me lembrava desses personagens. Provavelmente me chamavam pelo mesmo motivo de hoje, pergunte a eles.


C.D.: Nos anos 80 você eternizou uma das produções mais marcantes da juventude dos anos 80 e 90, que foi o coelho Abel, amigo do Ursinho Puff em Ursinho Puff ,e o eterno Firmino, porteiro da escola em Carrossel. Você gostava de dublar esses personagens? Você tem boas recordações dessa época?

Jomeri: Sim, gostava e continuo dublando até hoje, na Herbert Richers. O Ursinho Puff continuo fazendo até hoje.
 
C.D.: Na Herbert Richers você também era muito chamado para dublar em novelas. Fazia como ninguém a voz do saudoso ator Tito Guizar, que dublou em Marimar como Papai Pancho, o avô de Marimar e na Usurpadora como Chico o jardineiro da família, também fez o pai da Lety, o Erasmo Padilla em A Feia Mais Bela. Você se lembra de outras novelas que dublou?

Jomeri: Dublei muitas novelas do SBT, para enumerá-las é difícil. Uma Ernani, a menina da mochila azul, em que dublei o pai da menina, interpretado pelo ator Pedro Armendari.

*ele se referiu ao Capitão Matías Granados interpretado por Pedro Armendáriz Jr. em Amy, a Menina da Mochila Azul.
 
C.D.: Anthony Hopinks, você o dublou nos filmes Bobby (Redublagem), Dragão Vermelho, Encontro Marcado, Em Má Companhia, Hannibal e O Fantástico Dr. Kellogg. Você substituiu o ator Darcy Pedrosa após seu falecimento; você já havia feito a voz do Anthony Hopinks antes da morte do Darcy? E, falando um pouco do personagem, você nota alguma diferença em dublar ele em relação a outros atores?

Jomeri: Encontro Marcado lembro que não dublei, os outros dublei sim. O Darcy era meu grande amigo na dublagem, e vários atores foram chamados para substituí-lo, ninguém foi aprovado, e quem me aprovou foi ele lá de cima, porque eu era grande amigo dele. Cada ator tem sua maneira de interpretar e a virtude do dublador é exatamente essa, é se adaptar a cada interpretação, é preciso copiar a interpretação do ator que está sendo dublado. Cada ator é diferente. O papel mais difícil do Anthony Hopkins que dublei foi o Titus, em peça de Shakespeare, em estúdio de São Paulo.
C.D.: Você fazia a voz do Jack Lemmon como ninguém: o dublou em Dois Velhos Rabugentos e Meu Melhor Inimigo, e em outros filmes além desses? Como foi esse “casamento” com o ator, você logo de cara pegou as inflexões dele?

Jomeri: Dublei também um filme que ele fez um dos dois personagens do filme inteiro, A vida é um teatro. Não tive problema para fazer o personagem mais velho, um ator veterano que dialoga com um novato.
C.D.: Além desses já citados você já fez a voz também de Marlon Brando, Richard Harris, Christopher Plummer, Howard Hesseman, Gene Hackman, Wilford Brimley e uma infinidade de outros atores. Você tem algum ator em especial que você mais gostou de fazer?

Jomeri: Lawrence Olivier, em Jogo mortal. Que o Paulo Gracindo levou no teatro com o filho.

C.D.: Repetindo a pergunta acima, para desenhos, além dos já citados você também fez outros personagens marcantes como Luigi em Super Mario Bros, Cerebelo em Freakazoid, Professor na segunda e mais conhecida dublagem do Gato Félix o clássico, Kamaji em A Viagem de Chihiro, e muitos outros. Qual o personagem que lhe marcou mais?

Jomeri: (pulamos)
C.D.: Recentemente dublou três personagens para o cinema: Ben Parker nos três filmes do Homem Aranha; o presidente dos Estados Unidos no filme X-Men 3 - O Confronto Final e o Chefe em Agente 86. Fazia um tempo que não víamos nada seu nos cinemas, você acha que tem sido chamado menos para dublagem, que ocorre aquele preconceito com você em relação a chamarem veteranos para dublar ou que não, que você continua sendo chamado com a mesma frequência de antes?

Jomeri: Continuo sendo chamado com a mesma frequência. Recentemente fiz o Spock Prime em Star Trek, a tartaruga Oggie, em Kung Fu Panda; o presidente Lincoln em Uma noite no museu II, e o Up - Altas Aventuras, em que dublei um personagem no original dublado pelo Christopher Plummer (da Noviça Rebelde), o Charlies Mont. Todos esses personagens foram ganhos através de testes julgados nos Estados Unidos. O estúdio brasileiro que vai fazer a dublagem faz testes e manda para os EUA, para ser julgado lá.
 
C.D.: Jomeri, como você analisa o cenário atual da dublagem brasileira? O que você acha que melhorou e o que você acha que está em falta hoje em dia? Você acha que hoje em dia a interpretação tem deixado a desejar por alguns profissionais graças também à facilidade de se dublar que há hoje em dia?

Jomeri: Antigamente, no meu tempo o mais importante de tudo era a interpretação, hoje valorizam mais o sincronismo total e absoluto, o que às vezes sacrifica um pouco a interpretação. Eu gostava mais do critério antigo, em que o principal é a interpretação, ninguém assiste vigiando a boca do ator, só dubladores fazem isso.

C.D.: Atualmente, além de dublagem, você trabalha com mais alguma coisa?

Jomeri: Não, nem gostaria. Aos 81 anos, estou muito bem na minha casa, assistindo à minha coleção de DVD's, hoje com 978 títulos. E continuo indo dublar sempre que me chamam.

C.D.: Jomeri Pozzoli, o site Casa da Dublagem agradece imensamente pela entrevista com você que é um dos maiores e mais clássicos dubladores do nosso País. Muito Obrigado!

Jomeri: Obrigado a você!
 
Agradecimentos a Tereza Pozzoli pela mediação entre o Casa da Dublagem e Jomeri Pozzoli.

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