sexta-feira, 27 de abril de 2018

Artigos de Revistas - Orlando Prado

Nota de falecimento do dublador Orlando Prado para a edição N° 27 de Janeiro / Fevereiro de 2000 da revista TV Séries, falando sobre sua carreira, o problema de saúde que o afastou da dublagem, comentário de amigos sobre ele, e sua dublografia, com os atores e personagens em desenhos mais famosos que dublou.


Orlando Prado, dublador brasileiro, morreu em Novembro. Prado sofreu um derrame em 1992 quando foi forçado a abandonar seu trabalho. Na época, ele dublava Larry Hagman, o Jr, em Dallas, sendo substituído por Nilton Valério. Por ter ficado com sequelas do derrame, Prado permaneceu afastado do trabalho da dublagem.

Orlando Amaro Prado nasceu em 1927 na cidade do Rio de Janeiro. Adulto, formou-se em Contabilidade, profissão que trocou pela de rádioator. Prado trabalhou em vários programas das rádios MEC, Globo, Cruzeiro, Roquette Pinto e Nacional. O rádio forjou a nata do início da dublagem no Brasil, dotando seus artistas com dois requisitos básicos para aquela nova arte: interpretação e uma voz trabalhada; foi na época em que trabalhava na Nacional que prado iniciou sua carreira de dublador trabalhando com a TV Cinesom, CineCastro e Tecnisom, entre outras. Graças a sua interpretação e versatilidade, durante 4 décadas Prado “deu voz” a príncipes, mendigos, adolescentes problemáticos, mocinhos carismáticos, odiosos vilões e dezenas de tipos em desenhos animados.

Orlando Prado era o dublador oficial de vários atores em filmes e séries: “Com relação a filmes seus ‘carros-chefe’ eram Marcelo Mastroiani, Omar Sharrif, Elvis Presley e Clint Eastwood”, recorda-se a dubladora e diretora Maria da Penha. “Me lembro que dirigi o Prado no filme O Cavaleiro Solitário na Herbert Richers”. Comenta Francisco José. “Sei que, infelizmente, este filme já foi redublado”. Nas séries de TV, Prado era “boneco” (voz fixa) de vários atores, como Robert Urich em Veja$, ator que acompanhava desde Swat, passando para a série curta Tabatha. Outro ator que acompanhou foi Joe Penny em séries como Tempo Quente e o 1° ano de Jack e McCabe. Uma série que dublou todos os episódios foi A Mulher Maravilha como Steve Trevor, sem esquecer sua substituição no 2° ano de Jon Bosley de As Panteras. Uma das características de sua interpretação era fazer com que seus personagens atormentados e complexos como Doug Penhall (Anjos da Lei) e Frank McPyke (O Homem da Máfia), caíssem no agrado do público, dotando-os de humanidade e um carisma surpreendentes. Também era chamado para dublar desenhos animados que transitavam da aventura ao humor com tipos inesquecíveis, como Galtar, Zorro, Aquaman e os impagáveis Bicudo – O Lobisomem, Mini-Polegar e a Lula-Lelé, sem esquecer Sander / Shirou Sanada em Patrulha estelar, cuja interpretação é considerada superior ao original.

Uma unanimidade para seus colegas e para o público em geral, foi o inesquecível J.r. Ewing de Dallas. A grande curiosidade deste trabalho está no fato dele ter tido dúvidas acerca da adequação de sua voz ao personagem, como nos contou Ângela Bonatti, a voz de Linda Carter em A Mulher Maravilha: “Quando escolhi o Prado para o J.r., eu era diretora da série, ele ficou inseguro porque achava que a sua voz era muito doce... de galã. Ele só mudou, ficou seguro, quando o programa foi para o ar. O prado era um ator maravilhoso e sofri muito quando ele nos deixou. Fez um trabalho magnífico em Dallas e em outros filmes, marcou muito com J.r. Ewing. Como pessoa era um cara enorme, mas ingênuo, totalmente o inverso do J.r.”.

“Dallas foi a obra-prima do Prado, tornou-se com o tempo a “viga-mestra” do trabalho dele”, acredita seu colega de dublagem José Santana.

Prado trabalhava em todas as casas, denso sabido por todos de seu carinho especial pela Telecine. Por este trânsito livre entre as “casas”, no momento em que Dallas saiu da Herbert Richers, passando à Cinevídeo, Prado acompanhou J.r., quando muitas vozes foram substituídas. Há cerca de uns 10 anos, quase no final da dublagem de Dallas, ele sofreu um derrame que afetou sua dicção. Não podendo concluir o trabalho, foi substituído por Nilton Valério. Prado tentou voltar ao longo dos anos à profissão, porém não conseguiu. No inicio de Outubro de 1999, foi hospitalizado, vindo há falecer um mês depois, entre os dias 7 e 9 de Novembro de 1999.

*Observação do Casa da Dublagem, a dublagem de Dallas não passou para a Cinevídeo como consta nesta matéria, e sim para a Telecine, e por cerca de 5 anos consecutivos. Correção essa feita no final da matéria As Casas de Dublagem (2ª Parte) pelo autor do artigo.

Orlando Prado deixa a imagem de um profissional talentoso e dedicado, como nos conta a dubladora e diretora Maria da Penha Esteves: “Ele tinha uma masculinidade na voz muito grande e conseguia passar isso para a personagem, tinha simbiose e era um profissional por excelência, nunca o vi chegar atrasado para gravar”.

“Orlando Prado foi um ator excepcional. Foi um dublador multifacetado, fazia de tudo, tinha a peculiaridade de trocar de voz com uma facilidade impressionante”, relatou a rádioatriz Ieda Oliveira.

“Trabalhei com ele por 4 ou 5 anos. Quando cheguei ao Rio e Janeiro. Ele me mostrou a cidade e me ajudou a encontrar um lugar pra morar”, recorda-se o dublador Francisco José.

Para Ângela Bonatti, “o Prado era uma pessoa sensível, amigo e dedicado aos colegas que muitas vezes me pediu: ‘Ângela dá uma oportunidade pra fulano. Dá uma oportunidade pra sicrano. Sicrano não está bem, está precisando’. Sempre se lembrou dos colegas dele, passou por cima de qualquer rivalidade pra ajudar as pessoas, além de ser um ator maravilhoso”. A respeito da profissão de contador, carreira inicialmente escolhida por Prado, Ângela Bonatti diz: “Ele era um belo contador de histórias, isso sim”!

FILMOGRAFIA PARCIAL

Filmes:

A Força do Amor – Richard Gere
Lawrence da Arábia – Omar Sharif
Dr. Jivago – Omar Sharif
Invasores de Corpos – Donald Sutherland
Os Doze Condenados – Donald Sutherland
Branca de Neve e Os Três Patetas – Jose DeRita
As Sete Faces do Dr. Lao – Tony Randall
A Doce Vida – Marcelo Mastroiani
Esposamente – Marcelo Mastroiani
Alcatraz Fuga Impossível – Clint Eastwood
Rota Suicida – Clint Eastwood
A Raposa de Fogo – Clint Eastwood
O Desafio das Águias – Clint Eastwood
Três Homens em Conflito – Clint Eastwood
O Cavaleiro Solitário – Clint Eastwood
Cidade Ardente – Clint Eastwood
Hora da Zona Morte – Christopher Walken
Et-O Extraterrestre – Peter Coyote
Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1ª dublagem) – Tetsurou Tamba
Operação Dragão – John Saxon
No Limite da Realidade – Vic Morrow
A Máscara do Zorro – Frank Languela
Rocky, O Lutador – Burt Young
Rock II – A Revanche – Burt Young
Rock III – Burt Young
O Franco Atirador – Robert De Niro
Touro Indomável – Robert De Niro
Capitão Simbad – Guy Williams
Abott & Costello Meet The Captain Kid – Lou Costello
Abott & Costello Meet The Mummy – Lou Costello
O Dragão Chinês – Bruce Lee
O Vôo do Dragão – Bruce Lee
48 Horas – James Remar
Os Canhões de Navarone – James Carren
Inimigo Meu – Dennis Quaid
Mickey – Dennis Quaid
Jovem de Novo – Robert Urich
Era Uma Vez na América – Joe Pesci
Kid Gallahad – Elvis Presley
Inferno na Torre – Steve McQueen
Silverado – Jeff Goldblum
O Xerife do Oeste – Gerry Grimes

Obs.: Prado também dublou Audie Murphy em vários de seus filmes. Também esteve em O Céu Em Teu Amor e O Corcunda de Notre Dame.

Minisséries:

A Chave Para Rebecca – David Soul
O Holocausto – Karl Weiss
O Bastardo – Andrew Stevens
O Casal Rosemberg – Sr. Rosemberg

Séries:

Tempo Quente – Joe Penny (Nick)
Jake e McKabe (1° Ano) – Joe Penny (Jake)
Dallas – Larry Hagman (Jr)
Vega$ - Robert Urich (Dana Tanna)
Swat – Robert Urich (Oficial Street)
Tabatha – Robert Urich (Paul)
Missão Secreta – Greg Evigan (Danny)
As Panteras – David Doyle (Bosley – 2ª Voz)
Anjos da Lei – Peter DeLuise (Penhall – 1ª Voz)
O Homem da Máfia – Jonathan Banks (frank McPyke – 1ª Voz)
A Mulher Maravilha – Lyle Waggoner (Steve Trevor)
Flipper – Luke Halpin (Sandy)
Combate – Australiano
Cara ou Coroa – David Hugh-Kelly (Mc-Cormick)
Linha Dura – Robert Englund
V – A Batalha Final – Robert Englund
Homem de Virgínia – Doug McClure (Trampas)
Trio Calafrio – Macaco
A Caravana – Robert Fuller
Jornada nas Estrelas esp.: Cidade à Beira da Eternidade – Guardão – 2ª Dublagem

Desenhos:

Zorro (Filmation) – Diego / Zorro
Mini-Polegar – O Próprio
Bicudo – O Lobisomem – O Próprio
Pirata do Espaço – Jayce
Os Flintstones nos Anos Dourados – Fred
Os Super Amigos – Aquaman
O Desafio dos Super Amigos – Aquaman
Super Powers – Aquaman
Lula-Lelé – A Própria
Capitão América (2ª Dublagem) – O Próprio
Os 13 Fantasmas de Scooby Doo – Salsicha
As Novas Aventuras de Batman (Filmation) – Coringa
Galtar e a Lança Dourada – O Próprio
Patrulha Estelar – Shirou Sanada / Sander
Piratas do Espaço – Pirata
A Caverna do Dragão – Demônio das Sombras (1° Ano)
Rambo – Dragão Negro
Filmes de Scooby-Doo – Babú
Os Ewocks – Ewock Lenhador
O Homem-Pássaro – Peixe-Espada
Urswat – Esperto
As Aventuras de Gulliver – Gonzo
Missão Mágica – Rick Springfield

Carlos Amorim

Agradecimentos: Maria da Penha Esteves, Presidente da Versão Brasileira – Cooperativa de Artistas e Interpretes; Spyros Saliveros e Gonçalo do estúdio Telecine; Francisco José; José Valluzi e Ieda Oliveira.

Agradecimentos à Carlos Amorim pelo Material.

Artigos de Revistas - Noeli Santesteban

Entrevista com Noeli Santesteban para a edição N° 110 de Abril de 1997 da Revista Herói, falando sobre sobre seu começo de carreira e seus personagens do mundo do Animê.


Com certeza você já viu a Noeli Santesteban em comerciais ou apresentando algum programa na TV. Talvez o que você não saiba é que ela é a dubladora de alguns dos personagens mais badalados do mundo: Goku, Marine e Fly. Nesta entrevista exclusiva a atriz, cantora, locutora e apresentadora de 38 anos conta sobre sua carreira e sobre seus personagens. 

Quando você iniciou sua carreira?

Antes de começar a minha carreira, eu fiz escola de arte dramática desde 79. Então, eu comecei a fazer um pouco de teatro e comerciais. Depois viajei durante muito tempo cantando em shows do Manolo Otero. Quando voltei, por volta de 88, eu comecei a dublar de novo. Também comecei a apresentar o programa da Casa Centro, fiz vários comerciais - muitos do Estadão - e até cheguei a trabalhar na rádio Jovem Pan 2. Hoje, continuo dublando, apresento o Casa Dentro e o Eletronic's Space e faço muitos comerciais. Alguns ainda estão no ar.

Como pintou a dublagem?

Eu comecei na dublagem cantando na S. c.  São Paulo (vulgo Megassom). As atrizes dublavam as personagens e eu cantava. Isso até o dia que o dono da S. c.  me convidou para fazer o teste para dublar a Olívia Palito no filme do Popeye. Eu dei uma super sorte, porque a dublagem foi aprovada pela própria produtora americana e acabei fazendo a Olívia. Desde então eu não parei mais de dublar.

Quais seus principais trabalhos na dublagem?

Fiz a Shelly no Parker Lewis, a Márcia no desenho do Charlie Brown, a Jane no novo Tarzan. Também fiz várias novelas mexicanas, a Jenifer em Superhuman Samurai, participei daquela série Tudo Em Cima, do Castelo Rá-Tim-Bum e ainda estou apresentando as aulas de matemática no Tele Curso.

       
Você fez alguma personagem em Sailor Moon, Cavaleiros e Shurato?

Eu faço bastante coisa na Dublavídeo, mas não fiz nada no Shurato. Agora na Sailor Moon, eu fiz a Zyocite, que só muito depois fiquei sabendo que originalmente era homem. Nos Cavaleiros fiz a Titis (Tétis).

Conte pra gente como foi fazer a Zyocite e a Tetis.

Adorei a Zyocite, porque ela pegou um lado que eu não exercito muito, que é ser a vilã. É muito gostoso fazer as más, porque você põe seu lado obscuro para fora na hora de interpretar. Eu até pedi para o Baroli para fazer mais vilãs.

Já a Titis foi muito rápida. Eu quase não lembro dela. Eu pouco entendi a história dos Cavaleiros, porque peguei só o final. Eu queria que a participação da Titis tivesse sido maior para curtir mais a personagem.

 

Vamos falar dos seus personagens mais atuais. Primeiro sobre a Marine. O que você achou fazer a Guerreira Mágica?
 
Eu adorei fazer a Marine. Ela tem aquela coisa de ser briguenta que eu também tenho. Inclusive, o Baroli me chamou porque ele sabe que sou assim igual a ela. Quando ia dublar a Marine, eu não via a hora dela ficar brava.

Eu também gostava de fazer a Marine porque ela tinha aquela coisa de ir atrás dos seus idéias, batalhar pelo que queria. E eu sou bem como ela. Pra ser sincera, eu adoraria ter feito o Mokona – “Pupu, pupu!”. Eu adoro bichos e adoro faze-los. Eu amava o Mokona.


E o Fly? Como foi?
 
Eu gostei muito de fazer o Fly, principalmente por causa daquele lado ingênuo e doce que ele tem, que é encantador...

O Fly defendia aquela ilha cheia de monstros feios, porque ele amava a todos de lá. Falta muito disso hoje em dia, um amor incondicional por algo, como o Fly protegendo os bichinhos da ilha.
 
O Fly passa mais que o Goku esse respeito com a natureza, aos humanos, ao planeta. Acho, até que o Fly é mais crinção, aquela coisa irresponsável, tipo primeiro faz e só depois pensa no que fez. E isso era muito legal nele. Embora, o Fly seja de uma certa maneira um clone do Goku, ele tem o seu charme.

Falemos do Goku. O que você achou dele?

O Goku foi muito legal de fazer. Adorei o Mestre Kame, achei superinteressante ter um velhinho tarado no desenho. A Bulma é engraçadíssima. E adoro também o Krilin.

Dragon Ball tem mais enredo. Essa história de ter que juntar as esferas, dá ao Goku um objetivo que o Fly não tinha. O Fly só queria ser herói. Como entretenimento, Dragon Ball prende mais por causa de sua história.

Dos 60 episódios já dublados, qual sua sequência favorita?

Gosto muito quando o Goku começa a comer. Quando eu vou dublar essas cenas, o Baroli deixa o desenho rolando e eu só fico fazendo ruídos. No meio das brigas ele sempre fica com fome.

Também acho uma gracinha o Kamehameha. Agora quando ele começa brigar muito, eu já não gosto. Eu prefiro as partes engraçadas: quando ele está com a Bulma e faz aquelas perguntinhas bem típicas de criancinhas ingênuas.




O que você espera do futuro do Goku? Você pretende continuar a dublá-lo quando ele crescer?

Eu tenho uma super curiosidade de saber onde a série vai chegar, e tenho certeza que o pessoal também está super ansioso com isso. Espero que a distribuidora tenha respeito com o público e traga o resto da série. Eu terminei de dublar sessenta capítulos e onde parou não faz sentido.

Em relação ao Goku adulto, parece que no Japão é a mesma voz dele pequeno e adulto, mais para a nossa cultura não sei se manter a minha voz vai ficar muito legal. A princípio, o Baroli me disse que quando o Goku ficar adultos o Hermes (o Seiya dos Cavaleiros do Zodíaco) é quem vai faze-lo. No caso, eu passaria a fazer um dos filhos do Goku, ainda não sei qual deles.

Marcelo Del Greco

Contate a Noeli

A Noeli ta muito a fim de saber a opinião sobre os personagens que ela já dublou. Assim, a dubladora nos deixou seu e-mail para você dizer o que achou das vozes de Goku, do Fly, da Marine e dos outros personagens diretamente para ela. Então anotem: santist@br. homeshopping. com. br 

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Artigos de Revistas - Márcio Seixas

Entrevista com Márcio Seixas para a 2ª edição de 1995 da Revista Animação, aonde ele conta o começo de sua carreira, seus personagens e seu ponto de vista sobre vários aspectos da dublagem. 

Uma boa dublagem é fundamental para que um desenho animado torne-se um sucesso. Nos EUA, Batman, As séries animadas recebeu vozes ilustres, das quais podemos destacar Mark Hammil, o Luke Skywalker de Guerra nas Estrelas, como o Coringa. No Brasil, teve-se o mesmo carinho e preocupação. Tanto, que chamaram um dos profissionais mais competentes da área para ser o Batman. Animação traz em primeira mão uma entrevista exclusiva com


Eu comecei na dublagem em abril de 74, vindo do rádio, em Belo Horizonte. O Herbert Richers publicou um anúncio no Globo, oferecendo chance para pessoas que tivessem boa leitura. Eu estava desempregado no Rio e corri para me inscrever; fiz a inscrição junto com 330 candidatos – quem pode dar o número com mais exatidão é o Waldir Fiori, o organizador de um curso de dublagem que só pecou por ser curto, já que tinha tudo para ser uma escola de aprendizado e aperfeiçoamento de dublagem.
 
Na primeira seleção, que era a leitura, sobraram 30 e poucos candidatos; numa nova peneirada, sobraram 16 com condições de ler, interpretar e aprender. Desses, 14 abandonaram o período de adaptação, pelos mais variados motivos. A maioria foi pelo clima grande de hostilidade contra essa escolinha, a ponto de se verbaliza-la. Quando nós entrávamos no estúdio para fazer aquelas participações tímidas em vozerio de festa, vozerio de rua e outros papéis pequenos – por onde se começa a dublar -, os veteranos diziam: “Lá vêm os alunos do divino Mestre. ”, parafraseando o mestre chinês da série Kung Fu, que fazia sucesso na época. E o Fiori ficou sendo chamado jocosamente de “Mestre” pelos colegas, veteranos como ele, porque ensinava a gente. Eu lamento por muitos desses que desistiram, pois iam dar excelentes profissionais. Tinha uma dona-de-casa que era formidável, cantores de ópera, um ator teatral...E essas pessoas não aguentaram o clima de hostilidade lá dentro. Então, ficamos só dois, aguentando. Quando os 14 foram embora, aí nos deram o privilégio de nos cumprimentar de vez em vez, um ou outro dava uma explicação. E a gente muito timidamente foi chegando.


Mas enfim, nós conseguimos superar tudo isso; aqueles que nos hostilizaram, hoje são colegas maravilhosos de quem gosto muito, mas eu tenho vontade de perguntar para que isso tudo.

Por causa do que eu sofri, hoje tenho muita paciência e procuro ensinar àquele que tem vontade de ser profissional. Porque não se engane. Agora a minha visão é outra. Estou com 20 anos de dublagem e vejo pessoas de uma arrogância, de uma falta de respeito, entrando nesses cursinhos que andaram fazendo, que se estivessem na época talvez fossem eliminadas pela própria arrogância. Dubladores novos, sem a menor experiência... Mas têm outros pelos quais eu tenho muita simpatia, admiro e ajudo, dando indicações. Dentre estes, eu computo o Guilherme Briggs, de um talento extraordinário, um dublador muito bom, tal a facilidade dele em mudar de voz e assumir a personalidade do "boneco" que está na tela.

Então, eu comecei a dublar em 1974. No mesmo instante, entrei na Rádio Jornal do Brasil, de onde saí em Novembro passado. Atualmente estou na CBN, apresentando o Plantão CBN Brasil Especial. É Raro eu dublar nas outras casas, por causa dos meus afazeres: eu gravo comerciais, sou locutor, gravo vinhetas para a Transamérica. Daí, por opção, preferi fazer da Herbert a minha casa de trabalho na dublagem. Sempre que as outras me chamavam, eu estava ocupado em outros filmes, e nisso elas, por fim, passaram a não me procurar mais.



Como foi a redublagem de Jornada nas Estrelas?
 
Houve resistência, porque a série já estava consagrada. Os trekkers acompanharam de perto esse processo, inclusive indo todos os dias de dublagem e fornecendo uma assessoria que foi muito útil, porque tinham coisas que não entendia, como terminologia, filosofia, aspectos do personagem (eu fui chamado num dia, e no outro já estava dublando).
 
Eles manifestaram temor quando fui chamado para fazer o Spock e me disseram isso. Não houve clima de animosidade. Houve desconfiança. Eu dublava e eles ficavam na técnica, acompanhando. Eu me sentia muito mal e perguntava se era assim, se estavam gostando. Mas à medida em que eles foram acompanhando e dando assessoria à diretora, foram relaxando e o trabalho pôde prosseguir bem. Acho que nós conseguimos redublar a série sem fugir. Tínhamos a nossa própria adaptação de texto em função do movimento labial. E foi bem fácil dublar o Spock. E agradável. Adorei dublar o Leonard Nimoy.

Dentre os seus personagens, qual foi um verdadeiro desafio fazer?

O computador Hal, do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço. Computador não respira. O Hal tinha textos enormes, principalmente na partida de xadrez com o astronauta. Eu enchia os pulmões, tivemos de usar os recursos de edição, porque eu não podia mostrar respiração na fala, nenhuma inflexão, nenhuma emoção. Tinha de fazer uma coisa bem linear.

Em desenho animado a dificuldade é a mesma?

Não. Desenho é bom de fazer.

Eu sempre tive muito preconceito contra desenho, sempre achei desenho uma coisa meio sem respeito com criança. Qualquer voz que você fizesse estava bom, sabe? Vi muita criança brincando com as expressões da dublagem, repetindo frases que idiotizavam a brincadeira. Acho isso muito chato. Eu procurei na medida do possível me afastar desse tipo de desenho sem nenhum movimento a não ser da boca do personagem, onde você não podia exercer a sua criatividade. Era muito raro surgir algo como Barbapapa, dublado pelo Pietro Mário (Capitão Furação), uma obra-prima, uma coisa extremamente agradável de se fazer. Eu babava vendo aquilo. Mais para cada Barbapapa que surgia na dublagem, apareciam outros duzentos porcarias para a gente dublar.

Então, com a desculpa de fazer narrações dos filmes da Disney e eventualmente participar na ação do narrador com o desenho, eu sempre consegui sair das escalações dos demais. Eu preferia não misturar minha voz com os outros desenhos e isso o pessoal, até para minha surpresa, respeitou e eu passei a maioria dos anos da minha vida profissional sem dublar desenho animado.



E quanto a Batman?

Batman foi um prêmio na minha vida profissional. Eu acho que não vou fazer mais nada melhor que Batman. Eu sempre disse para o pessoal da Disney: "Para vocês terem uma ideia do que é a minha paixão pelo meu trabalho da Disney, eu trabalho porque sou profissional, é daí que eu mantenho a minha família. Mas se um dia vocês disserem que vou passar a dublar Disney sem receber um centavo eu continuo gravando pelo amor que eu tenho pela série". Falo a mesma coisa do Batman. 

Sua primeira série foi...

Arquivo Confidencial. Eu conheci a maquiadora do James Garner aqui Rio, aonde ela veio acompanhando o marido, um dos managers da Disney. E ela me falou muito bem dele.

Eu sinto pelo James Garner uma gratidão enorme, porque quando comecei a dublar Arquivo, a minha vida mudou radicalmente. Eu trabalhava com orçamento apertado - ninguém hoje em sã consciência pode viver exclusivamente da dublagem, a não ser que viva num padrão muito modesto. Tem que gostar muito, como eu gosto. Então, a minha vida sofreu uma transformação imediata. Tão logo a série estreou, começaram a me chamar para trabalhos de publicidade; as pessoas da área adoravam o Jim Rockford e as minhas brincadeiras em cima daqueles textos. A partir daí, eu passei a ter um pouquinho mais de conforto. Graças ao James Garner.

Eu sinto por ele o carinho pelo benfeitor. Eu adorava o antigo Maverick, que eu via na cabine de locução da TV onde eu trabalhava, em Belo Horizonte. E adorava a dublagem do Milton Rangel (Zandor). E olha o destino: eu aqui aprendendo dublagem, faço o teste para o Arquivo e ganho o papel.

Sempre dublei o James Garner. Quando, por acaso ele é dublado por outro colega, chega a dar uma dorzinha no coração. No bom sentido.

Mas cada dublador não tem o seu "boneco" determinado?

Não. Cada ator tem duas ou três opções. Eu dublo o James Garner, mais tem dois outros colegas que dublam. A mesma coisa com o Charlton Heston, Timothy Dalton, Gregory Peck. Isso é porque o elenco é pequeno e às vezes o cara está viajando, ou está ocupado em outros filme, e o filme é urgente. E aí vai a segunda ou terceira opção.

Márcio, de uns anos para cá, tem surgido uma geração nova que como que tem sido privilegiada, em prejuízo dos veteranos. O que acontece com esse pessoal? Você sente que poderia estar trabalhando com muito mais gente?

Poderíamos. Se a dublagem tivesse uma remuneração melhor, nós teríamos mais candidatos. Nesses 20 anos, vi muitos profissionais se aproximando da dublagem, como, por exemplo, Ary Coslov, Selton Mello, Danton Mello... Muitos como eles chegaram, trabalharam, e pegaram o seu contra-cheque no fim do mês e acharam que não valia a pena. No caso do Selton, é um dos profissionais mais perfeitos com quem eu já dublei. A gente perde um valor como esse! É o que está acontecendo com o Patrick de Oliveira, o Fievel. O Patrick encanta tanto as pessoas com quem ele vai trabalhar, pelo profissionalismo, que a dublagem já não está conseguindo leva-lo. O trabalho dele é maravilhoso; mas aí ele vai descobrindo outros caminhos e começa a perceber que lá fora ele ganha tão mais, que se desestimula, não sente mais vontade, passa a não ter mais tempo para a dublagem, embora goste.

Eu vou citar alguns personagens seus e gostaria de suas considerações sobre eles. Vamos iniciar pelo seu "karma", o Homem-Pássaro.

Isso aí eu computo como a pior coisa que já fiz na dublagem. Eu odiava e odeio aquilo. Ainda mais na época em que eu estava em lua-de-metal com a Disney.

Eu posso dizer que o Homem-Pássaro foi uma sacanagem do Luiz Manoel (Dorno). Luiz Manoel era o rei do desenho animado: ele dublava e dirigia todos. E aí ele me comunicou: "Olha, tem aí um desenho que você vai gostar de fazer. "; "não, não vou gostar não. Nem pense, que eu não vou fazer. "; "não? Aguarda!". Aí, foi lá no Herbert dizer para ele que eu sistematicamente recusava os desenhos onde ele me escalava. E o Herbert um dia chegou mal-humorado na empresa e quis saber comigo sobre eu não gostar de dublar desenhos que não fossem Disney. Eu confirmei, e tomei o maior esporro. E fui dublar o Homem-Pássaro.

Quando entrei muito danado da vida no estúdio o Luís já estava rindo. Na realidade, ele já estava achando graça a minha reação quando eu começasse a dar aqueles gritos ridículos. E a cada grito meu, ele gritava numa águia atrás de mim. Então, o Homem-Pássaro eu devo ao Luiz Manoel. Foi a pior coisa que já fiz na minha vida. Aquilo era uma idiotice.

Balu.

Balu é um carinho. Foi fácil e muito agradável fazer o Balu. Quando você trabalha com um diretor que gosta do material; quando em comum acordo com os outros dubladores você se encarrega de modificar os vícios da tradução ou adaptar uma situação que pede um outro texto naquela cena; e quando todo mundo se gosta, o trabalho fica maravilhoso. E assim foi a Esquadrilha Parafuso, com a direção de Francisco José. A Esquadrilha Parafuso fez o sucesso que merecia. Era fácil fazer o Balu, era fácil fazer o Beck, a filha dela... Difícil eram o Damião, feito pelo Carlos Seidl (Seu Madruga - Chaves), o Khan, dublado pelo Joaquim Motta (Kojak), o Loius, dublado pelo Antônio Patiño (Tio Patinhas - Duck Tales) com aquela malandragem carioca, e o personagem do Orlando Drummond. 


O Tick.

Eu não me lembro de em vinte anos de profissão ter me divertido tanto, como eu me diverti fazendo o Tick. Para você ter uma ideia, a gente começava a dublar e parava, porque não conseguíamos chegar ao fim. Ríamos tanto, que não conseguíamos fazer. 

Hoje não há mais problemas em se improvisar?

Há bom senso, porque um filme é visto por uma família. O locutor Howard Handupme, da Família Dinossauros, falou "bunda". Eu gravei e a Globo não devolveu. Mas pode devolver. Eles não deixavam falar "cocaína". Esse é um dos momentos mais ridículos da dublagem, repetido à exaustão. Todo mundo está vendo na tela uma apreensão de cocaína. Aí nós somos obrigados a dizer "É muamba da boa. ". Imposição do cliente. No noticiário pode, mas na dublagem não.

Você certa vez desabafou que a dublagem era inglória, que dentre outros fatores submetia o profissional a péssimas condições técnicas. Apesar dos avanços, ainda existe esse problema?

É, porque só aqui se dubla da maneira como nós fazemos. Fora do Brasil dubla-se por linha: o dublador tem uma fita para ele, não precisa dialogar com ninguém. Faz-se depois a mixagem das vozes. Nós não! Nós dublamos 8, 10 pessoas de uma vez, numa única pista. Muitas vezes não se consegue entender. Ao passo que no cinema, na mesma cena, você ouve nitidamente todas as vozes. Mas se a dublagem for utilizar uma fita para cada uma, vão ser tantas cabeças de gravação quantos forem os dubladores. Para quê, se é mais econômico uma cabeça só para todo mundo? Então, somos cinco pessoas discutindo; quando chegamos ao fim, um erra. Voltamos, fazendo o mesmo esforço para acertar tudo. Ele erra de novo, coitado. Voltamos de novo. Agora erro eu. Volta. Eu acerto, esse aqui erra. Até dar certo. Ao passo que se fizéssemos por linha era só mixar depois: ganhava-se tempo, interpretação e qualidade técnica. Mas isso é uma grande utopia.


O que você diria ao final da nossa conversa?

Eu gostaria muito de ver um curso de dublagem administrado pelo Waldir Fiori, para a formação de bons profissionais. Quem tem talento, entra; quem é picareta, vai embora. Mas é uma utopia, porque quando a pessoa que a gente prepara começa a comparar o que recebe todo mês, prefere partir para outras iniciativas. Adoraria ver a dublagem bem paga, porque o nosso elenco seria bem maior. Teríamos muito mais talentos.

E quanto aos detratores?

Os detratores vão existir sempre. Jornalistas antigos, jornalistas novos... Mas para mim, o detrator mais antipático da dublagem chama-se Jô Soares.

Como é que pode um sujeito inteligente, culto como ele, que assiste a espetáculos na Broadway sem intérprete, implicar com a dublagem? A dublagem não é feita para o Jô Soares: é para o povão. Ele mora em mansões. E está sempre nos sacaneando, de uma forma muito antipática. Eu fico muito magoado com isso. Ele recebeu o meu amigo Murilo Salles falando mal da dublagem. Gratuitamente! O Murilo nem se interessa pela coisa e foi induzido a falar mal.

Então, eu queria dizer para ele (e para os outros): deixe a dublagem em paz, pelo amor de Deus. 

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Artigos de Revistas - Marco Ribeiro

Entrevista com Marco Ribeiro para edição N° 137 de Novembro de 1997 para Revista Herói, falando um pouco de sua carreira, de seu personagem em Yu Yu Hakusho e de seu estúdio de dublagem, a Audio News. 

O enviado especial da Herói, P. H, invade os estúdios da Áudio News no Rio de Janeiro para prazer para você uma super-entrevista com Marco Ribeiro, o dublador do Detetive Sobrenatural Yusuke Urameshi de Yu Yu Hakusho.


Com muita sorte, conseguimos furar a greve nacional de dubladores, que interrompeu inclusive a dublagem de Yu Yu Hakusho, para bater um rápido papo com Marco Ribeiro, voz do personagem principal do desenho febre do momento, Yusuke Urameshi.

Quanto à greve, não é necessário ficar com receio de faltarem episódios dublados para passar na TV. Marco garante que apesar da paralisação dos trabalhos, uma quantidade grande de desenhos já havia sido dublada com antecedência, o que não deverá comprometer sua exibição. Para felicidade geral dos fãs, que vão continuar por muito tempo assistindo seu programa favorito, aí vão os melhores momentos dessa entrevista realizada no prédio da empresa Áudio News, no bairro carioca da Tijuca.

Como começou sua carreira de dublador?

Eu comecei em 1986 com meu tio na empresa Herbert Richers, dublando filmes evangélicos para home vídeo. Nessa época eu tinha 16 anos e resolvi procurar um curso de atores para me aperfeiçoar, pois só é possível ser um profissional legalizado na área de dublagem quem tem um curso de ator.

Quais foram os principais personagens que você já fez?

Tudo começou com uma série para o Sbt chamada Combate no Vietnan. Logo após veio a chance de trabalhar com As Tartarugas Ninjas, onde eu fazia a voz do Rafael. Alem disso, fiz Barrados no Baile, Plantão Médico e as vozes de Antonio Bandeiras, Sean Penn e Keanu Reeves em Velocidade Máxima. Atualmente um de meus trabalhos que tem feito bastante sucesso, é a dublagem do desenho do Máskara.

A série Tartarugas Ninjas fez muito sucesso. Você lembra de algum fato interessante durante esse trabalho?

Claro!!! Achamos que uma expressão original em inglês não funcionaria bem no Brasil. Por isso o bordão americano "Kawabanga", uma gíria surfista, foi substituído por "Santa Tartaruga", resultado de uma brincadeira feita pela equipe dentro do estúdio de gravação. A frase ficou tão popular que mais tarde foi utilizada na campanha de vacinação.


Como é sua relação com desenhos animados e séries japonesas?

Quando era pequeno assistia alguns desenhos como Marco, Speed Racer e especialmente O Judoca, que era o que mais gostava. Me lembro também do Ultraman e Spectreman.

Voltando a Yu Yu Hakusho, como foram as negociações para que o desenho fosse dublado pela Áudio News?

Eu sou diretor artístico da empresa e também trabalho na parte comercial, muitas vezes negociando filmes para serem dublados aqui. Numa dessas coincidências da vida, tive a sorte de contatar a distribuidora Tikara Filmes, justamente no momento em que a série estava chegando ao Brasil. Gravamos um piloto que foi aprovado e passamos a dublar o desenho.


Como é feita a dublagem de Yu Yu Hakusho?

Geralmente fazemos uma boa seleção de profissionais, sempre procurando evitar a repetição de vozes. Por exemplo: Se alguém faz o papel de um monstro em um determinado capítulo, só depois de aproximadamente 10 episódios é que volta a dublar. Aí, escalamos um novo personagem para este dublador. Com isso, o público em casa não fica saturado das mesmas vozes.

Quem são os dubladores fixos da série?

O ator Eduardo Ribeiro faz o Kurama, eu - Marco Ribeiro - faço o Yusuke, Christiano Torreão dubla Riei, José Luiz Barbeito é o Kuwabara, Fernanda Crispim é a Keiko, Nelly Amaral é a Genkai, Miriam Ficher faz Botan e Peterson Adriano o Koenma.


Quais trabalhos importantes fizeram os outros dubladores?

O Peterson, por exemplo, ficou bem conhecido pela dublagem de Bart Simpson e Macauley Culkin. Miriam Ficher é a voz da Jodie Foster e da Lilica do desenho Tiny Toons.

Você acha Yu Yu Hakusho uma série violenta?

Eu acho que existem coisas que passam na Tv muito mais violentas, e em horários terrivelmente impróprios. Muitas vezes essas violências vão muito além do plano físico e não envolvem necessariamente sangue. Eu acho, particularmente, que a violência, seja ela qual for, faz parte do cotidiano dos adolescentes em geral e de todo mundo. Eu por exemplo tenho um filho de 3 anos que naturalmente tem suas brincadeirinhas envolvendo socos e tapas, e não acho que o desenho Yu Yu Hakusho seja o responsável por isso. Acho que essa coisa de violência é algo enraizado em nossa cultura.


Como você acompanha a repercussão de todo esse sucesso junto aos fãs? E o seu filho?

Certamente ele é o meu maior fã e acompanha o desenho repetindo as falas do Yusuke ou falando toda hora o velho e conhecido bordão de dublagem, "Versão Brasileira..."

Sei que o desenho tem feito um grande sucesso junto ao público e acho que nosso trabalho na Áudio News tem contribuído muito para isso.

A única coisa que eu peço é para que os fãs parem de ligar a cobrar para a empresa. Não queremos ser antipático, mais vamos acabar indo a falência com a conta do telefone. No começo fomos gentis e até atendemos telefonemas, mas algumas fãs do Rio Grande do Norte, por exemplo, tem abusado um pouco de nossa boa vontade. Elas têm ligado sem parar, querendo falar comigo e com o resto dos dubladores e não é sempre que estamos todos reunidos aqui ou podemos atender. Vou fazer um apelo para que, pelo menos, não liguem mais a cobrar, ou que mandem suas opiniões para a revista Herói. Tenho certeza que o pessoal da redação em São Paulo terá o maior carinho em divulga-las. Não é?

Foi criada alguma expressão própria para ser utilizada em Yu Yu Hakusho como em As Tartarugas Ninjas?

Em Yu Yu foi diferente. Em vez de criarmos algo específico, passamos a utilizar expressões bem comuns em nosso país como "Ah! Eu to Maluco!!" Foi numa cena de luta em um estádio lotado, e deu super certo. Acho que esse é um diferencial em nosso trabalho, pois tentamos chegar o mais perto possível do público.

E o Yusuke, seu personagem, o que você acha dele?

Eu acho que ele é um garotão que gosta muito de matar aula, embora eu não aconselhe isso para ninguém, e que acabou através do mundo espiritual se tornando um herói bem diferente do normal. Acho também que ele tem uma coisa de às vezes ficar sério e às vezes do nada começar a brincar.


Existe a possibilidade de vocês dublarem um outro desenho ou filme japonês de sucesso brevemente?

Estamos investindo bastante em equipamentos digitais de gravação e estamos com bons contatos em distribuidoras em filmes. Além disso todos estão gostando de nosso trabalho. Por isso, acho que muitos filmes japoneses, ou não, devem pintar. Como o segredo é a alma do negócio, prefiro aguardar, mas tenho certeza que a galerinha em casa não vai se decepcionar com o que vem por aí.

Se alguém ou alguma distribuidora interessada em nosso trabalho quiser ligar para a Áudio News, é só anotar os telefones: (021) 567-1230 ou (021) 569-0588 ramal 2507. Só não vale a cobrar!!!

Se você se amarrou na entrevista, se ligue brevemente a Herói estará entrevistando o restante da galera de dubladores que faz de Yu Yu Hakusho um dos maiores sucessos da TV atualmente.

Na sequência, mais Yu Yu Hakusho episódio a episódio, para você não perder nenhum detalhezinho deste incrível anime exibido em novo horário, às 19h na Manchete.

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Artigos de Revistas - Mônica Rossi

Entrevista com Mônica Rossi na edição N° 115 da Revista Henshin em Maio de 1997, aonde ela fala de sua personagem Lois Lane e sobre seu trabalho na dublagem.


A Herói apresenta Mônica Pinho, a dubladora da Lois Lane da série Super-Homem. Ela conversou com Heitor Pitombo sobre como é emprestar a voz para Teri Hatcher.

  

A voz de Mônica Pinho já é bastante conhecida de quem assiste televisão com freqüência. Além de dublar atrizes como Demi Moore, Madonna e Kim Basinger, essa talentosa profissional de 33 anos tem se destacado como a voz brasileira de Teri Hatcher, a atriz que faz o papel de Lois Lane na série As Aventuras do Superman. Mônica está tão ligada aos estúdios de dublagem que, quando deu a luz a sua primeira filha, saiu direto de um deles para a maternidade. A propósito, Caroline Pinho, que tem dês anos de idade já dubla há três.

Quando começou a sua carreira de dubladora?

Meu marido, Mário Jorge de Andrade, já era dublador (costuma fazer as vozes de Eddie Murphy e John Travolta) e me levou para fazer um teste para a escola de dublagem da Herbert Richers, que não existe mais. Fui aprovada e comecei a trabalhar. 

Qual foi a sua primeira personagem?
 
Fazia a Liz, do seriado As Prisioneiras, que foi ao ar em 1983.
 
Muitos outros papéis devem ter vindo na sequência, não?
 
Sem dúvida. Fiz muitos seriados legais como A Bela e a Fera, Hóspede do Barulho, Jogo Duplo, etc. Mas acho que méis melhores trabalhos foram dublagens de filmes.

Normalmente, a TV Globo exige que a voz de determinados atores seja feita sempre pela mesma pessoa, dublo a Demi Moore, minha atriz favorita, Madonna, a minha artista pop predileta, Kim Basinger, Daryl Hannah, Whitneu Houston, etc. Apesar de possíveis eventualidades, procura-se manter essa disciplina. As outras emissoras não são tão exigentes, mas quando o filme é importante, tenho até que viajar para São Paulo.

Entre tantos trabalhos, quais os seus favoritos?

Muitos. Entre as atrizes que eu duplo está a Kristie Alley, e foi ótimo fazer seu papel em Olha Quem Está Falando, já que acabei trabalhando com meu marido (que fez a voz do John Travolta). Outro trabalho bem legal foi criar a voz da Priscila da TV Colosso, pois me dava a possibilidade de interpretar também, já que as falas dos bonecos eram colocadas depois. Mas meus trabalho favorito foi no filme Ghost, em que dublei a Demi Moore.

E dublar desenhos animados? É diferente?

Não tem tanta diferença assim. A relação entre desenhos e filmes é a mesma que existe entre teatro adulto e teatro infantil. Já fiz alguns trabalhos bacanas em desenhos como a Daphne da turma do Scooby-Doo, e recentemente, a Esmeralda de O Corcunda de Notre Dame. Foi o primeiro desenho da Disney que eu fiz.


E a Lois Lane? Você já conhecia a personagem?

Nunca fui muito ligada a história em quadrinhos, mais já havia dublado a Teri Hatcher quando ela fez o papel de irmã do Stallone em Tango & Cash. O que sabia sobre Lois Lane é que ela era uma mulher charmosa, dinâmica e ao mesmo tempo romântica e carente.

Como ela surgiu em sua vida?

Fiz um teste, fui aprovada e gravei meu primeiro episódio como Lois. Depois que fiz esse trabalho, voltei para casa assustada pensando que "esse negócio de Super-Homem é uma bobagem, essa série vai ser um fracasso. "Mas depois do terceiro episódio passei a adorar o seriado. Acho a Teri uma atriz maravilhosa.

Algum episódio te comoveu?

Muitos. Em todas as vezes nas quais eles tentavam ficar juntos e não conseguiam eu ficava desesperada. Foi especialmente marcante para mim o episódio de natal do ano passado, no qual o Clark fez a Lois acreditar no espírito natalino, pois sou muito ligada a data.

Na sua opinião qual é o grande atrativo de As Aventuras de Superman?

Além do Dean Cain...o clima de romance e a falta de compromisso com a realidade da série são coisas muito legais. Aqueles que acham a série pouco heroica, vale lembrar que o nome original do seriado não é Super-Homem, é Lois & Clark. No início, o Clark falava pouco, e a ação ficava centrada na Lois. Acho que com o tempo, Dean foi ficando mais seguro como ator e passou a dividir mais a cena com ela, que era a protagonista.

Como é trabalhar com Alexandre (a voz de Dean Cain)?

Atualmente, a gente não tem gravado junto, ele está muito ocupado com a novela que vem fazendo (Xica da Silva). Era melhor conosco juntos, podíamos fazer adaptações no texto e brincar mais. Somos amigos a muito tempo. A semelhança física dele com o Dean Cain era motivo de muitas brincadeiras.

PS: Um tempo depois dessa entrevista Mônica Pinho mudou seu nome artístico para Mônica Rossi, e sua filha Caroline Pinho para Carol Capfer.

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Artigos de Revistas - Marli Bortoletto

Entrevista com Marli Bortoletto para a 3ª edição de 1995 da Revista Animação, aonde ela conta o começo de sua carreira na dublagem, sobre a Mônica de a Turma da Mônica, de seus personagens mais famosos do momento e da Serena de Sailor Moon. 
 

Aos 37 anos, Marli Bortoletto, é uma das dubladoras mais requisitadas pelos estúdios paulistanos. E não é à toa. Além de uma belíssima e inconfundível voz, suas atuações sempre arrancam elogios de colegas de profissão, fãs dos personagens que faz e dos mais comum telespectador. Seja filme, desenho, série, boas ou más produções, Marli sempre dá um toque todos especial com suas interpretações sempre precisas e marcantes. Como se não bastasse, Marli é uma das principais diretoras de dublagem da Álamo, um dos maiores estúdios de São Paulo.


Quando você começou a dublar?

Foi há 12 anos atrás quando eu fiz A Princesa e o Robô para o Maurício de Souza. Nessa época eu fazia a voz da Mônica em shows, peças e propagandas, por isso fui chamada para o longa.
Você fez o Natal da Turma da Mônica (desenho produzido pela Cica no final dos anos 70)?

Feliz Natal pra todos, feliz natal!

Por que você resolveu seguir a carreira de dubladora?

A dublagem me atraia como uma outra opção para o meu trabalho de atriz. Na época, eu estava meio parada, e casou com o momento em que eu comecei a fazer filmes para o Maurício de Souza. De seis anos pra cá, comecei a trabalhar mais com minha voz. Quis experimentar a dublagem. Eu pedi para o Viggiani (o dublador o Ryu do Street Fighter) me indicar alguns estúdios e acabei indo fazer na S.C São Paulo (Megassom) a Chapeuzinho Vermelho num daqueles especiais que a TV Cultura exibia.

Qual foi seu primeiro personagem?

Demorei para pegar séries mesmo. Minhas primeiras personagens foram na série Contos de Fadas da Cultura. Além da Chapeuzinho Vermelho eu fiz a Branca de Neve, a Cachinhos Dourados e a Mary Poppins. Como os diretores achavam que eu servia melhor para fazer crianças, teve uma época que eu só fazia meninos e garotinhas e só mais tarde comecei a fazer mulheres mesmo.

Quais os principais personagens e atrizes que você dublou?

Acabando o Contos de Fadas fiz os Ursinhos Carinhosos, a Jojoaninha, a Gozalin (a filha do Darkwin Duck), Kurazo do National Kid, a Patrine, a Pedrita no especial O Casamento de Pedrita, a Angélica nos Anjinhos e redublei desenhos do Gasparzinho. Dos japoneses fiz também a princesa Aska e a vilã Deboner nas Guerreiras Mágicas de Rayearth. Entre as atrizes já fiz a Sharon Stone, a Mia Farrow, a Winona Ryder em Drácula, a Brooke Shields, a Julia Ormond em Lancelott, Lendas da Paixão e faço a personagem Shane Vansen em Spac - Comando Espacial.

É diferente fazer desenhos e filmes?

É muito diferente. No filme, a atriz condiciona você a fazer próximo do que ela faz. As feições humanas têm tantas nuances que você não pode mudar muito se não fica artificial. Você tem que ser fiel aos impulsos da atriz. Já o desenho não te condiciona tanto, dando espaço para você acrescentar mais a ele.

Como foi fazer a Hilda nos Cavaleiros do Zodíaco?

Foi muito interessante. Em geral eu não faço mulheres más por causa da minha voz. Mas, pelo fato de ser desenho o Baroli (o diretor de dublagem da Gota Mágica) achou que dava para eu fazer a personagem. Gosto muito desses desenhos japoneses tipo dos Cavaleiros, porque eles têm um grande imaginário. Com a Hilda eu pude explorar a maldade numa personagem, o que nem sempre eu tenho a oportunidade de fazer, porque sempre sou escalada para fazer as boazinhas das histórias.


E a Serena, foi legal fazer?

Foi muito legal, porque ela é quase uma anti-heroína. Ela cumpre sua missão, mas só quando ela vê que não tem jeito de escapar. Aí é que ela usa seus poderes para se dar bem. Mesmo assim, ela não tem certeza se é capaz de ser a Sailor Moon. Ela enfrenta seu medo e acaba conseguindo lutar contra violões, mas na verdade ela é uma criança que quer viver a vida e não ser uma heroína.

Eu gosto muito de fazer Sailor Moon também por causa do humor que a série tem. A Serena é uma heroína e ao mesmo tempo tem todos os defeitos dos reles mortais, ou seja, ela é uma heroína extremamente humana, criançona, imatura e preguiçosa. Ela tem todos os defeitos que um super-herói não teria, no entanto ela continua sendo super.

O que você acha que faz com que a Serena siga como Sailor Moon?
 
Apesar dos apelos da Lua ela custa a aceitar que tem uma missão de proteger a Terra. Mesmo sendo uma coisa que ela não gostaria de ser ela segue enfrente movida pela paixão, seja por alguém ou por um ideal, que é exatamente o sentimento humano que leva a Serena a ser uma heroína.

O que você mais gosta na Serena?
 
As paixonites agudas dela, o olhinho brilhando mesmo que seja por uma ideia, um momento, uma amiga.

Tem alguma coisa que você não gosta nela?

Não tem nada que eu não goste nela. Eu achava muito divertido aquele negócio dela chorar toda a hora. Achava muito poético a paixão dela pelo Texudo Mask e todo aquele simbolismo com as rosas vermelhas que ele usava.

Você chegou a se emocionar com algum episódio?

Eu cheguei a chorar nos momentos em que ela lembrava do grande amor que perdeu no Reino Lunar e que ela busca viver de novo com o Darien. Esses momentos em que ela lembrava da vida que levava na Lua com sua mãe, com o próprio Texudo Mask, eu achava muito comovente.


Qual a personagem de Sailor Moon você mais gostou?

Gostei mais foi da própria Sailor Moon.

Porquê?

Por que a Serena não é certinha em nada. As outras cinco são comprometidas, mais sérias.

Fora a Serena, se você fosse escolher outra personagem, qual faria?

Talvez a Lua, a gatinha, que era uma personagem bem legal. Mas eu adorei fazer a Serena porque ela era bem maluca.

O que você espera das próximas aventuras da Sailor Moon?

Eu gostaria que a Serena entrasse mais no passado dela. Quero ver revelado seus mistérios. É um eterno retorno: ela veio do Reino Lunar para a Terra para equilibrar os cosmos. Gostaria de saber direito o motivo que a fez sair do Reino Lunar, vir para a Terra e vivenciar um grande amor. Acho que ela deve continuar aquela menininha se questionando o motivo de ser super-heroína. Esse é um contraponto legal na história: se ela não aceitar de cara ser uma heroína ela mantém suas características humanas dando margem para ela e quem assiste discutir vivenciar tais sentimentos. Ela quer ser heroína, mais tem medo: ela quer ser a primeira da classe, mas quer brincar. Se ela fosse certinha seria uma história de acertos, como ela não é vai ter a chance de descobrir como enfrentar suas dificuldades, seus limites, o medo para se tornar corajosa. É o que espero para as próximas aventuras da Serena como Sailor Moon e suas amigas.

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Artigos de Revistas - José Luiz Barbeito

Entrevista com José Luiz Barbeito para a edição N° 136 de Março de 1998 da Revista Herói, falando sobre seu começo de carreira e sobre seus personagens do momento.

Em mais uma visita à dubladora Áudio News no Rio de Janeiro, P. H. conversou com o dublador José Luiz Barbeito que faz a voz do Kuwabara em Yu Yu Hakusho


Como foi o começo da sua carreira?

Foi na Herbert Richers, onde fiz um curso de dublagem com duração de dois meses com o dublador Newton da Matta. Isso faz uns nove anos mais ou menos e me lembro que fui contratado imediatamente após o curso.

E o que fazia antes de dublagem?

Sempre fui ator, mais também sou cantor e trabalhei durante um bom tempo com o Ivon Curi em seus shows pelo Brasil a fora. Quanto ao teatro, integrei o ensaio de várias peças, mas a vida agitada da dublagem nunca deixou que eu participasse das estreias!


Fale um pouco do seu personagem Kuwabara.

É um herói meio bobão, simpático, bonzão, metido e brigão. Tem um incrível lado criança e doce. Acho que essas são as suas principais características. Ele se firma na força que tem, e é o braço direito do Yusuke. Eu adoro dublar o Kuwabara.


Lembra de outros trabalhos marcantes?

Fiz a redublagem do antigo Gato Félix, e empresto minha voz para o desenho Laboratório de Dexter do Cartoon Network. Quanto a esse último, faço eu mesmo a dublagem do Dexter, neste desenho que já se tornou cult e é bastante moderno. Trabalhei também dublando os Power Rangers, onde eu fazia o vilão Rito, e não posso esquecer do desenho Samurai Pizza Cats que, se não me engano, é uma produção japonesa.

Existe algum trabalho recente que ainda não foi ao ar?

Já dublei 30 episódios de um desenho animado chamado Michel Vaillant, que deve estrear brevemente no canal da Fox. O desenho conta as aventuras do piloto de competição Michel Vaillant e sua família, todos loucos por automóveis. Eu faço a voz do Kramer, que é o vilão e arqui-inimigo do herói.

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Artigos de Revistas - Jorge Eduardo (Jorge Lucas)

Entrevista com Jorge Eduardo para a Revista Animação, 8ª edição de 1995, falando um pouco de seu personagem em Arquivo X, de sua saída do personagem e do começo de sua carreira.
Jovial, espontâneo, talentoso. . .  Assim pode-se definir à primeira vista este que é um dos mais promissores nomes da nova geração de dubladores brasileiros que, quando entrava nos estúdios da VTI, aqui no Rio, assumia a personalidade inquieta de Fox Mulder, o agente do FBI envolvido nos mais bizarros casos do “Arquivos X”.  Entrava, pois que, com o mesmo mistério de um caso não solucionado, ele foi mandado embora sem mais aquela, deixando no ar uma grande expectativa e revolta por parte dos fãs da série.  Esta entrevista foi feita bem antes de sabermos que caberia a Eduardo Borgerth a nova voz de Mulder.  Vamos então conhecer o trabalho de

Eu comecei há 3 anos, fazendo estágio. Tinha feito um curso na Urca e de lá fui para a VTI: comecei fazendo o que a gente chama de dublagem de vozerio, personagens pequenos.

Eu saí do vozerio e fui fazer o Simon do Alvin And The Chipmunks, o intelectual dos três irmãos. Foi quando comecei a pegar personagens maiores.
 
Entre os quais...
 
Fox Mulder.
 
Foi uma coroação, vamos assim dizer.
 
Foi um presente, cara. Eu ganhei ele. Tinha ido um diretor da Herbert pra VTI, Francisco José, que não me conhecia, e haviam chegado três séries – X-Files, Deep Space Nine e Os Novos Intocáveis. Eu estava no estúdio dublando os Chipmunks, fazendo aquela voz de falsete, e ele entrou, ficou olhando o meu trabalho, mas não pôde comparar – uma coisa é desenho, outra é filme. Aí ele chegou pra mim e disse que eu ganhara um fixo com ele no Arquivo X. Não cheguei a fazer um teste, mais gravei um loop enorme pro Chico avaliar. E fomos...
 

Falando em DS9 você fez o Q, não foi? (Episódio Q’s Lance).
 
Fiz. E adorei. Q é maravilhoso. Ele é bobo: é uma criança cheia de poder, que estala o dedo e você ta em Vênus...
 
Fora o Mulder, algum outro papel de destaque?
 
Eu dublo na Herbert um garotão, Tod, de um seriado chamado Sweet Balley Hein, que deve entrar no lugar de Barrados.

Ouvi dizer que você não está mais fazendo o Mulder. O que houve?
 
Eu fui demitido da VTI.

Assim, sem mais nem menos?

Fui demitido. Uma empresa, eu era funcionário, não precisamos mais dos seus serviços, aviso prévio, demitido. Pronto! Só isso!
 
Sabe quem vai dublar o personagem daqui em diante?
 
Não sei... Espero que seja eu... Porque é a coisa que eu faço com maior prazer em dublagem. Faço feliz...  Porque é muito bom. Dublar aquilo é paradisíaco... Ainda mais com a Jura (Juraciara Diácovo, a dubladora de Scully, no próximo número) do lado. Ela me ensinou muito. Tenho uma gratidão eterna a ela.
 
Vocês estão praticamente casados no trabalho, então!
 
Como o Fox e a Scully lá, também os dois dubladores do lado de cá se dão muito bem. Uma parceria enorme.
 
Você é mais dublador ou mais ator teatral?
 
Antes de tudo, eu sou ator. E como ator eu faço de tudo. A gente tem que dar tiro pra tudo quanto é canto: pra dublagem, pra televisão, pra teatro, cinema – que eu sou louco pra fazer.


E por enquanto é só esse seriado na Herbert, mas a expectativa de voltar a dublar o Mulder...
 
Se me chamarem pra continuar, eu faço com o maior prazer, o maior carinho...  Gente, eu conheço ele dos pés à cabeça. Não tem uma piada dele que eu não entenda, uma coçada de cabelo que eu não saiba o que ele vai dizer, onde vai entrar...
 
Dublagem é um hobby pra você?
 
Não. É mais um tentáculo da profissão, que não é mole. A gente ganha uma miséria. Daí que eu falo que a gente tem que dar tiro para todos os lados.
 
Tem gente que adora. Tem um dublador da minha geração, o Guilherme Briggs: ele ama dublagem, tem uma admiração que é louca, muito maior que a minha.
 
Bom, Jorge, resolvidas as questões, a gente chega ao final. Algum recado para os nossos leitores?
 
Eu queria mandar um recado pra galera que gosta de Arquivo X: em meu nome e no nome da Jura, eu queria agradecer o carinho das pessoas. O que eu mais ouço é que está muito bom: quando a Gillian Anderson vai falar, as pessoas só conseguem ouvir a voz da Jura, e quando o David Duchovny vai falar, só ouvem a minha. Eu queria agradecer mesmo.
 
E um aviso importante: A verdade está lá fora.

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

Artigos de Revistas - Fernanda Crispim e Miriam Ficher

Entrevista com Fernanda Crispim e Miriam Ficher para a edição n° 133 de Dezembro de 1997 da Revista Herói, contando suas carreiras, suas personagens em Yu Yu Hakusho e sobre a greve dos dubladores que ocorreu naquele ano.


Elas são de duas gerações diferentes da dublagem, e a Herói aproveitou para bater um rápido papo com as atrizes Miriam Ficher e Fernanda Crispim, dubladoras, respectivamente, das personagens Botan e Keiko do desenho animado Yu Yu Hakusho. Vamos primeiro conversar com a Fernanda.


Quantos anos você tem?

Eu tenho 21 anos.

Como foi seu começo na dublagem?

Meu começo foi praticamente igual ao do dublador Peterson Adriano, que é o meu irmão. Para quem não sabe, ele foi durante muito tempo a voz do Bart Simpson. Eu tinha 11 anos, e nessa época, fazia um curso de dublagem na empresa Herbert Richers. Como todos gostavam muito do trabalho da dupla de irmãos, acabamos sendo chamados para vários trabalhos e posteriormente fomos até contratados.

Dá para você citar alguns trabalhos?

Fiz um seriado alemão chamado Pumukel logo no início da carreira. Também dublei muitos documentários e inúmeras novelas mexicanas, como por exemplo: Carrossel 1 e 2 e Chispita, onde eu dublava a própria Chispita.

Lembra de mais alguma coisa?

Não dá para esquecer minha participação em Power Rangers, onde eu fazia a voz da Aisha, a Ranger Amarela. Além disso, dublei outros desenhos japoneses como G-Force, que passa no Cartoon Network, no qual dublava a personagem Eggie. Também usei minha voz em O Gênio Maluco. Beste último, que foi um trabalho de redublagem, eu era a Beth, a namorada do dono do Gênio.

Mas pelo que estou vendo, a Fernanda é na vida real a namorada de outro dublador da série Yu Yu Hakusho. Dá para explicar?

Na verdade não sou apenas a namorada. Sou casa com Duda Ribeiro, que faz a voz do personagem Kurama.


Foi um casamento que teve origem na dublagem?

Claro!!! Tudo começou quando eu e o Duda trabalhávamos na dublagem de Power Rangers. Como já disse, eu era a Aisha e ele Rocky, o Ranger Vermelho. Começamos a namorar e logo depois casamos. Hoje temos um filhinho de 4 meses.


E como anda a situação de vocês com a greve nacional dos dubladores?

Estamos a mais de um mês em greve por melhores salários, e toda a classe de dubladores se encontra nesse momento paralisada no Rio e em São Paulo, que são os dois grandes centros de trabalho de nossa profissão.


Existe algum perigo da greve prejudicar a exibição de filmes e desenhos na TV?
 
Quanto ao desenho Yu Yu Hakusho, acredito que a emissora comece a reprisar a história, pois acho muito improvável que a distribuidora autorize a legendagem das cópias. Com isso, as crianças perderiam muito da compreensão: alguns telespectadores que assistem o programa em casa, sequer sabem ler!
Mas eu sei por exemplo que, com a falta de novos capítulos dublados, a emissora Cnt está legendando uma de suas novelas mexicanas para que os telespectadores em casa não fiquem sem capítulos inéditos.


O que você acha disso?
 
Realmente isso está acontecendo. O nome dessa novela é Canavial de Paixões. Achamos, porém, que pela falta de tradição na utilização de legendas em filmes estrangeiros na televisão brasileira, os espectadores não devem se acostumar com esse processo.


Voltando ao seu personagem em Yu Yu Hakusho, o que você acha da Keiko?

Adoro fazer a Keiko, embora ache que ela tem um temperamento um pouco explosivo. Uma coisa engraçada é o fato dela ser no desenho a namorada do Yusuke, e eu, na vida real, a mulher do Kuruma. Acho que rola uma certa traição no meio dessa história que ninguém sabia até hoje.

E sobre a relação de Yusuke e Keiko, o que você tem a dizer?

Da mesma forma que acontece comigo e com o Duda, vejo que ela sempre dá a maior força para o namorado e algumas vezes, até o impede de se meter em confusões.



Mudando um pouco de assunto, como é dublar um desenho de origem japonesa?

Tem que haver muita criatividade pois, muitas vezes, as falas que vem no texto são muito pequenas e a gente tem de improvisar. Além disso, quando o áudio vem em inglês ou em espanhol, sempre dá pra entender uma coisa ou outra.

No caso de Yu Yu Hakusho, só podemos mesmo nos guiar pelo pequeno texto disponível. O resto, vai da improvisação e sensibilidade de casa um. Pelo menos quanto a isso, o nosso diretor da Áudio News nos deixa bem a vontade.

Obrigado Fernanda. 

Agora vamos bater um papo com a dubladora Miriam Ficher, que faz a voz da personagem Botan. 


Como foi o começo de sua carreira?

Comecei com 13 anos na TV Globo, onde fazia novelas. Nessa época pintou um seriado chamado Família, e fui convidada para dublar a personagem Buddy, uma adolescente que tinha a mesma idade que eu. Naquela época, não existiam dubladoras crianças, ou adolescentes, e eu praticamente inaugurei esse segmento de trabalho juntamente com outros dubladores indicados pela atriz Guta. Estou hoje com 33 anos e de lá para cá, já se passaram 20 anos.

Qual a diferença das crianças que dublavam nos anos 70 e as de hoje em dia?

Não acho que essa pergunta deva se restringir apenas às crianças dubladoras, mas a todas elas. A minha geração foi muito reprimida em todos os sentidos. Hoje, como existe um grau de informação muito maior, acho que isto acaba até influenciando no trabalho que vai ao ar.


As crianças quem dublam hoje em dia, como já são mais espertas, aprendem e desenvolvem seu trabalho com muito mais facilidade. Me lembro que, logo quando estava começando a dublar, houve uma greve de dubladores, e eu só parei porque meus colegas estavam também parados. Não sabia nem direito o que vinha a ser a palavra greve, e olha que eu já estou na minha segunda.


Quem você já dublou?

As atrizes Uma Thurman, Linda Blair, Wynonna Rider e Jodie Foster. Sou inclusive a dubladora oficial da "Jodie" no Brasil. Também fiz a Valerie em Barrados no Baile e a Lilíca de Tiny Toons. É claro que não dá para esquecer a Botan de Yu Yu Hakusho. Hoje, além de dublar, também faço direção de dublagem.


Você pode falar um pouco da Botan?

Ela faz parte do Mundo Sobrenatural, tem uma missão específica dentro da história e é uma grande heroína, mais eu a encaro como qualquer garota de sua idade. Está sendo um dos trabalhos que mais estou gostando de fazer.


E como anda a greve dos dubladores do Rio e São Paulo?

Como não temos aumento de salário a dois anos e meio, acho que nossa greve é mais do que justa. Inclusive, ela já foi declarada legal pelas autoridades. Vou tentar explicar o que acontece: o trabalho dos dubladores movimenta, direta e indiretamente, uma grande quantidade de dinheiro e quando fazemos o nosso trabalho recebemos apenas uma vez. Hoje estou sem trabalhar, e a minha voz continua em todas as emissoras do país. É aí que entra também a lei do direito de intérprete que existe desde 1978 e diz que devemos ganhar cada vez que um trabalho nosso é exibido. Existem trabalhos como o filme Bell, onde fiz a voz da Jodie Foster, que vão passar na Globo, já foram exibidos em canais a cabo e estão à disposição na locadora.


Como já falei antes, nesse processo todo ganhei apenas uma vez, e mal por sinal. Se pensarmos que, no caso de um desenho como Yu Yu Hakusho ainda são vendidos brinquedos, dá para imaginar os milhões de dólares que o nosso trabalho acaba gerando.

Há também o problema do excesso de horas trabalhadas e mal remuneradas. Para ganharmos algum dinheiro com dublagem, temos de trabalhar 14 ou 15 horas por dia, pelo menos, o que é muito exaustivo! Estamos lutando por uma melhoria de salários e resolvemos cruzar os braços. O triste é que só a greve me fez arrumar um tempo para ver as minhas duas filhas, que passam a maior parte do tempo com uma babá. Estamos pedindo apenas uma compensação por todas as perdas salariais dos últimos anos. Gostaria de pedir desculpas ao público que sofre com a falta de capítulos inéditos e dublados de seu programa favorito, mais somos uma classe de trabalhadores como qualquer outra, e precisamos sobreviver com salários dignos.

Marcelo Del Greco.

As entrevistas que você acabou de conferir foi realizada no final de Outubro. Na época os dubladores de São Paulo e Rio estavam em greve lutando por seus direitos como a Miriam Ficher explicou. Mas a situação já está resolvida. Desde Novembro os estúdios de dublagem já voltaram a funcionar com força total. Logo, Yu Yu Hakusho já está tendo seus últimos episódios sendo dublados pela Áudio News. Com isso, se tudo correr bem, na próxima edição já teremos capítulos inéditos das aventuras de Yusuke e seus amigos, mostrando o Torneio final no inferno, com as presenças de Raizen, Yomi e Mukuro entre outros capetões. Até lá, e não se esqueça que ninguém conheceu o outro mundo por querer!!!

Agradecimentos ao Centro Cultural da Juventude de São Paulo pelo Material.

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