Entrevista
feita em 07 de Setembro de 2010.
C.D.:
Hoje vamos entrevistar o ator, radioator,
dublador, diretor de dublagem, publicitário,
apresentador, técnico em avicultura, coordenador,
diretor de comerciais e diretor de teatro Henrique
Ogalla. Quanta coisa em Henrique rsrs, tudo bom? É
um prazer poder entrevistar você que é um dos
grandes profissionais da dublagem do nosso país. Você
começou a carreira como ator ainda criança, com
apenas 12 anos na TV Paulista, como você chegou lá?
Henrique:
Comecei em 1955 no Zaz-Traz, com Délio Santos,
Gislaine e Marco Antônio. No mesmo ano, meses
depois Alvaro Moya me encontrou junto com Nilton
Paz, produtor do Zaz-Traz, e disse
"Nilton,
preciso de um garoto esperto pra fazer o meu
programa de sexta-feira, tem que ser bom ator."
O Nilton disse "Este
aqui, trabalha no Zaz-Traz como apresentador, é
um pequeno gênio"
Aí estrei como ator no programa "Meu
Filho, Meu Orgulho"
Arrebentei.
C.D.:
Na época você apresentou um programa infantil de
muito sucesso chamado Zas-Traz. Como foi essa época pra você?
Henrique:
Meses depois trabalhando na TV Paulista, eu fui a
direção e pedi pra receber salário pelo meu
trabalho. Não senti firmeza com as promessas, e
fui a TV Tupi canal 3, depois canal 4, e fui
atendido pelo ilustre e saudoso Heitor de Andrade,
uma figura maravilhosa e ele me reconheceu da TV,
pois existia uma TV para cada canal na sala do
Cassiano Gabus Mendes, e me apresentou em seguida
ao Cassiano. O Cassiano me perguntou se eu já
sabia ler. (Eu sempre aparentei ter menos idade)
Eu respondi que sim e ele agendou uma reunião com
todos os produtores da casa, e pediu para
escreverem um programa para a minha estréia.
Isso
foi numa terça feira, na sexta estreei no programa
"Coração
a Dois"
com Cachita Stuart e Fabio Cardoso, depois do
ensaio recebi um script pra participar do "TV
de Vanguarda"
ensaiei e participei no domingo, três dias
depois. Foi uma celeuma, todos comentavam pelos
corredores "vocês
viram o garoto gênio que a Tupi contratou?
" No
domingo seguinte fui convidado pelo Julio Gouveia
para participar do "Teatro
da Juventude",
sob produção e direção dele, na peça: "O
Peru de Natal".
Era o papel principal. Na quarta recebi o troféu "Os
Melhores da Semana"
troféu Walita.
C.D.:
Você também participou de outros programas
infantis na época como Ciranda Cirandinha, Pim-Pam-Pum e Almoço Com As Estrelinhas. Você
participou de programas infantis até quase os 20
anos, não é?, e quando foi que você partiu
disso para as novelas?
Henrique:
No programa Pim Pam Pum eu era o Pim, e Ciranda
Cirandinha era um programa às sextas-feiras dentro
do Pim Pam Pum.
Henrique
Ogalla em Ciranda Cirandinha
C.D.:
Você fez várias novelas na TV Tupi, Excelsior,
Bandeirantes.Qual papel te marcou mais na
dramaturgia?
Henrique:
Eu Tabalhei na TV Excelsior e TV Bandeirantes até
1969, quando fui convidado pra dublar na TV
Cinesom no Rio de Janeiro. Aí fiquei na dublagem,
pois a TV passou a ser um emprego incerto e
inseguro, eu já era casado e com um filho e
precisava ter os pés no chão.
Vários
programas me marcaram, mas os mais importantes
foram: "A
Flecha no Flanco"
, no TV de Vanguarda, onde ganhei o troféu "Os
Melhores da Semana",
trofeu Nestle, "O
Pequeno Lord",
primeira edição, onde eu fazia o falso lord, o
garoto que queria tomar o lugar do verdadeiro
herdeiro. Fiz um garoto tão antipático e odiado,
que não podia sair as ruas, pois os
telespectadores queriam me linchar. Rsrsrs...e "Uma
Lágrima Pequena",
de Sylas Roberg, no Contador de Estórias onde
também fui premiado com "Os
Menores da Semana",
uma réplica de "Os
Melhores da Semana” desses troféus eu recebi
vários.
Rafael
Neto e Henrique Ogalla em O Falso Lord
C.D.:
Na dublagem você iniciou na AIC – São
Paulo.Como surgiu o convite para trabalhar lá?
Henrique:
Não, não comecei na AIC, porque fui indicado
pela Vida Alves em 1956, para dublar o papel de
Em
1958 o meu amigo Silas Roberg foi convidado pra
trabalhar na GravaSon, mais tarde AIC, como
diretor de dublagem e para dirigir um espetáculo
de dança flamenca, produzido pelo dono da AIC
Mario Audrá, chamado
"O
Primeiro Festival da Espanha",
onde ajudei como assistente. Aí comecei a dublar
e lá foi uma grande escola no que diz respeito a
cinema, aprendi de tudo, a gravar, montar, editar
etc...para ser um verdadeiro diretor.
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C.D.:
Você se lembra de seu primeiro personagem na
dublagem?
Henrique:
Só me lembro do papel em
"O
Preço da Ilusão",
"Os
Guerrilheiros",
e um ano de Batman
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C.D.:
Por volta de 1967 você partiu para o Rio de
Janeiro, foi dublar na TV
Cinesom, CineCastro e outras empresas. Porque você
saiu de São Paulo?
Henrique:
Eu me recuso a trabalhar em empresas que possuem
"panelinhas"
onde eu via alguns diretores negociando trabalho,
ex.: vou dirigir terça feira e o personagem
principal é seu, você dirige na segunda e o
personagem principal é meu, e assim por diante.
Diretores que se auto escalam nos seus filmes
etc...Aí surgiu a oportunidade de trabalhar no
Rio, a empresa foi fiadora do apto., então por
que recusar? Na TV Cinesom dublei as melhores séries
para TV na época.
Zilly
em Máquinas Voadoras
C.D.:
Vamos falar agora de seus personagens na
dublagem.Os seus trabalhos mais conhecidos e
consagrados foram nos desenhos.Podemos citar o
Alan de Josie e As Gatinhas, o Principe Turan em
Os Cavaleiros da Arábia, o Zilly de Maquinas
Voadoras, o Gordinho em Bicudo, O Lobisomem e
muitos outros. Você guarda com você algum
personagem em desenho que tenha te marcado ou
simplesmente que você adorou em fazer?
Henrique:
Como profissional eu guardo quase todos os
trabalhos que fiz, não tenho preferidos, mas o
trabalho que mais me realizou foi
"Barrados
no Baile"
que além de dublar Jason Prietley eu dirigi a série,
e Telletubies, no papel de Dipsy, que me rendeu um
bom dinheiro.
Alan
em Josie e As Gatinhas
C.D.:
No seu início de carreira na dublador você deve
ter tido a ajuda de alguns companheiros. Quem
foram os seus grandes professores e incentivadores
na dublagem?
Henrique:
Não tive ajuda de ninguém em particular, mesmo
porque eu já era considerado veterano na TV.
O
ator nasce com talento, não se forma em curso.
Apenas se aprimora, a mesma coisa na dublagem, os
cursos só ensinam a sincronizar, mas não a
interpretar. Se não for ator, não adianta. Note
a qualidade da dublagem de hoje, muitos fizeram
cursinho de dublagem e o que vemos e ouvimos são
verdadeiros técnicos em sincronismo com interpretação
amadora, cantam paca. Claro há exceções.
Turan
em Os Cavaleiros da Arábia
C.D.:
Nos anos de 1980 você dublou uma série chamada
Barrados no Baile, aonde você fazia um dos
principais, o Brandon. Como foi pra você dublar o Brandon e como era trabalhar ao lado daquele
grande elenco?
Henrique:
Foi feito testes pra série, o que eu acho uma
estupidez, um ator e diretor com o currículo como
o meu, ter que fazer a vontade de um aspone do
setor de cinema da televisão, um espectador que
nada entende de interpretação, escolher as vozes
para os filmes e series. Foi escolhido um colega,
mas o Boni pediu novos teste e eu fui convocado, não
tinha muito tempo pois eu era diretor da Herbert
com vários filmes e séries pra dirigir. Fiz o
teste e fui escolhido, então o Herbert me mandou
dirigir a série, porque eu ficava o tempo todo da
dublagem dentro do estúdio.
Brandon
em Barrados no Baile
C.D.:
Direção de dublagem. Entre seus trabalhos de
direção temos a série A Família Soprano, a série
Emergencia 911, entre outros. Desde que ano você
começou a dirigir?, e em quais casas você já
dirigiu?
Henrique:
Dirigi na TV Cinesom, e tempos depois ela fechou,
faliu, aí fui pra Cinecastro onde conheci uma
pessoa maravilhosa chamada Carla Civelli, ela me
mandou pra São Paulo reabrir a Cinecastro que se
encontrava fechada. Aí comecei a dirigir uma série
japonesa que eu dublava no Rio
"Guzula"
um monstro que comia ferro. Me orgulho de ter
trabalhado na TV Cinesom, Cinecastro, Telecine e
claro Herbert Richers.
Guzula
C.D.:
Em meados da década de 2000, você se afastou da
dublagem, você me disse uma vez que foi por
motivos trabalhistas contra a Herbert Richers. Como
anda essa ação trabalhista (se é que você pode
comentar sobre isso)? Você também comentou que
outro motivo do seu afastamento é porque há uma
certa tabela na dublagem aonde são chamados
sempre os mesmo dubladores.Porque ocorre isso?, e
você pretende voltar a dublagem?
Henrique:
Em 2002 já não aguentava as vozes de colegas
(com interpretação amadora, colegas tentando
imitar a interpretação do inimitável André
Filho, Newton da Matta.., etc). Hoje estou
aposentado e proprietário de uma fazenda na
Bahia, onde pretendo passar o resto dos meus dias,
longe da má qualidade da dublagem de hoje.
C.D.:
Muito obrigado Henrique pela entrevista, foi um
prazer.
Henrique:
Abraço.
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