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quarta-feira, 20 de março de 2019

Entrevistas - Henrique Ogalla

 

Entrevista feita em 07 de Setembro de 2010. 

C.D.: Hoje vamos entrevistar o ator, radioator, dublador, diretor de dublagem, publicitário, apresentador, técnico em avicultura, coordenador, diretor de comerciais e diretor de teatro Henrique Ogalla. Quanta coisa em Henrique rsrs, tudo bom? É um prazer poder entrevistar você que é um dos grandes profissionais da dublagem do nosso país. Você começou a carreira como ator ainda criança, com apenas 12 anos na TV Paulista, como você chegou lá?
 
Henrique: Comecei em 1955 no Zaz-Traz, com Délio Santos, Gislaine e Marco Antônio. No mesmo ano, meses depois Alvaro Moya me encontrou junto com Nilton Paz, produtor do Zaz-Traz, e disse "Nilton, preciso de um garoto esperto pra fazer o meu programa de sexta-feira, tem que ser bom ator." O Nilton disse "Este aqui, trabalha no Zaz-Traz como apresentador, é um pequeno gênio" Aí estrei como ator no programa "Meu Filho, Meu Orgulho" Arrebentei.
 
C.D.: Na época você apresentou um programa infantil de muito sucesso chamado Zas-Traz. Como foi essa época pra você?
 
Henrique: Meses depois trabalhando na TV Paulista, eu fui a direção e pedi pra receber salário pelo meu trabalho. Não senti firmeza com as promessas, e fui a TV Tupi canal 3, depois canal 4, e fui atendido pelo ilustre e saudoso Heitor de Andrade, uma figura maravilhosa e ele me reconheceu da TV, pois existia uma TV para cada canal na sala do Cassiano Gabus Mendes, e me apresentou em seguida ao Cassiano. O Cassiano me perguntou se eu já sabia ler. (Eu sempre aparentei ter menos idade) Eu respondi que sim e ele agendou uma reunião com todos os produtores da casa, e pediu para escreverem um programa para a minha estréia.

Isso foi numa terça feira, na sexta estreei no programa "Coração a Dois" com Cachita Stuart e Fabio Cardoso, depois do ensaio recebi um script pra participar do "TV de Vanguarda" ensaiei e participei no domingo, três dias depois. Foi uma celeuma, todos comentavam pelos corredores "vocês viram o garoto gênio que a Tupi contratou? " No domingo seguinte fui convidado pelo Julio Gouveia para participar do "Teatro da Juventude", sob produção e direção dele, na peça: "O Peru de Natal". Era o papel principal. Na quarta recebi o troféu "Os Melhores da Semana" troféu Walita.
 
C.D.: Você também participou de outros programas infantis na época como Ciranda Cirandinha, Pim-Pam-Pum e Almoço Com As Estrelinhas. Você participou de programas infantis até quase os 20 anos, não é?, e quando foi que você partiu disso para as novelas?
 
Henrique: No programa Pim Pam Pum eu era o Pim, e Ciranda Cirandinha era um programa às sextas-feiras dentro do Pim Pam Pum.

Henrique Ogalla em Ciranda Cirandinha
 
C.D.: Você fez várias novelas na TV Tupi, Excelsior, Bandeirantes.Qual papel te marcou mais na dramaturgia?
 
Henrique: Eu Tabalhei na TV Excelsior e TV Bandeirantes até 1969, quando fui convidado pra dublar na TV Cinesom no Rio de Janeiro. Aí fiquei na dublagem, pois a TV passou a ser um emprego incerto e inseguro, eu já era casado e com um filho e precisava ter os pés no chão.
Vários programas me marcaram, mas os mais importantes foram: "A Flecha no Flanco" , no TV de Vanguarda, onde ganhei o troféu "Os Melhores da Semana", trofeu Nestle, "O Pequeno Lord", primeira edição, onde eu fazia o falso lord, o garoto que queria tomar o lugar do verdadeiro herdeiro. Fiz um garoto tão antipático e odiado, que não podia sair as ruas, pois os telespectadores queriam me linchar. Rsrsrs...e "Uma Lágrima Pequena", de Sylas Roberg, no Contador de Estórias onde também fui premiado com "Os Menores da Semana", uma réplica de "Os Melhores da Semana” desses troféus eu recebi vários.
 
Rafael Neto e Henrique Ogalla em O Falso Lord
 
C.D.: Na dublagem você iniciou na AIC – São Paulo.Como surgiu o convite para trabalhar lá?
 
Henrique: Não, não comecei na AIC, porque fui indicado pela Vida Alves em 1956, para dublar o papel de um menino no filme nacional "O Preço da Ilusão", nessa época ainda não se dublava pra TV.
Em 1958 o meu amigo Silas Roberg foi convidado pra trabalhar na GravaSon, mais tarde AIC, como diretor de dublagem e para dirigir um espetáculo de dança flamenca, produzido pelo dono da AIC Mario Audrá, chamado "O Primeiro Festival da Espanha", onde ajudei como assistente. Aí comecei a dublar e lá foi uma grande escola no que diz respeito a cinema, aprendi de tudo, a gravar, montar, editar etc...para ser um verdadeiro diretor.

C.D.: Você se lembra de seu primeiro personagem na dublagem?
 
Henrique: Só me lembro do papel em "O Preço da Ilusão", "Os Guerrilheiros", e um ano de Batman dublando o Robin, e não podendo esquecer "Barrados no Baile" o Brandon.
 
C.D.: Por volta de 1967 você partiu para o Rio de Janeiro, foi dublar na TV Cinesom, CineCastro e outras empresas. Porque você saiu de São Paulo?
 
Henrique: Eu me recuso a trabalhar em empresas que possuem "panelinhas" onde eu via alguns diretores negociando trabalho, ex.: vou dirigir terça feira e o personagem principal é seu, você dirige na segunda e o personagem principal é meu, e assim por diante. Diretores que se auto escalam nos seus filmes etc...Aí surgiu a oportunidade de trabalhar no Rio, a empresa foi fiadora do apto., então por que recusar? Na TV Cinesom dublei as melhores séries para TV na época.
 
Zilly em Máquinas Voadoras
 
C.D.: Vamos falar agora de seus personagens na dublagem.Os seus trabalhos mais conhecidos e consagrados foram nos desenhos.Podemos citar o Alan de Josie e As Gatinhas, o Principe Turan em Os Cavaleiros da Arábia, o Zilly de Maquinas Voadoras, o Gordinho em Bicudo, O Lobisomem e muitos outros. Você guarda com você algum personagem em desenho que tenha te marcado ou simplesmente que você adorou em fazer?
 
Henrique: Como profissional eu guardo quase todos os trabalhos que fiz, não tenho preferidos, mas o trabalho que mais me realizou foi "Barrados no Baile" que além de dublar Jason Prietley eu dirigi a série, e Telletubies, no papel de Dipsy, que me rendeu um bom dinheiro.
 
Alan em Josie e As Gatinhas
 
C.D.: No seu início de carreira na dublador você deve ter tido a ajuda de alguns companheiros. Quem foram os seus grandes professores e incentivadores na dublagem?
 
Henrique: Não tive ajuda de ninguém em particular, mesmo porque eu já era considerado veterano na TV.
O ator nasce com talento, não se forma em curso. Apenas se aprimora, a mesma coisa na dublagem, os cursos só ensinam a sincronizar, mas não a interpretar. Se não for ator, não adianta. Note a qualidade da dublagem de hoje, muitos fizeram cursinho de dublagem e o que vemos e ouvimos são verdadeiros técnicos em sincronismo com interpretação amadora, cantam paca. Claro há exceções.
 
Turan em Os Cavaleiros da Arábia

C.D.: Nos anos de 1980 você dublou uma série chamada Barrados no Baile, aonde você fazia um dos principais, o Brandon. Como foi pra você dublar o Brandon e como era trabalhar ao lado daquele grande elenco?
 
Henrique: Foi feito testes pra série, o que eu acho uma estupidez, um ator e diretor com o currículo como o meu, ter que fazer a vontade de um aspone do setor de cinema da televisão, um espectador que nada entende de interpretação, escolher as vozes para os filmes e series. Foi escolhido um colega, mas o Boni pediu novos teste e eu fui convocado, não tinha muito tempo pois eu era diretor da Herbert com vários filmes e séries pra dirigir. Fiz o teste e fui escolhido, então o Herbert me mandou dirigir a série, porque eu ficava o tempo todo da dublagem dentro do estúdio.
 
Brandon em Barrados no Baile

C.D.: Direção de dublagem. Entre seus trabalhos de direção temos a série A Família Soprano, a série Emergencia 911, entre outros. Desde que ano você começou a dirigir?, e em quais casas você já dirigiu?
 
Henrique: Dirigi na TV Cinesom, e tempos depois ela fechou, faliu, aí fui pra Cinecastro onde conheci uma pessoa maravilhosa chamada Carla Civelli, ela me mandou pra São Paulo reabrir a Cinecastro que se encontrava fechada. Aí comecei a dirigir uma série japonesa que eu dublava no Rio "Guzula" um monstro que comia ferro. Me orgulho de ter trabalhado na TV Cinesom, Cinecastro, Telecine e claro Herbert Richers.
 
Guzula

C.D.: Em meados da década de 2000, você se afastou da dublagem, você me disse uma vez que foi por motivos trabalhistas contra a Herbert Richers. Como anda essa ação trabalhista (se é que você pode comentar sobre isso)? Você também comentou que outro motivo do seu afastamento é porque há uma certa tabela na dublagem aonde são chamados sempre os mesmo dubladores.Porque ocorre isso?, e você pretende voltar a dublagem?
 
Henrique: Em 2002 já não aguentava as vozes de colegas (com interpretação amadora, colegas tentando imitar a interpretação do inimitável André Filho, Newton da Matta.., etc). Hoje estou aposentado e proprietário de uma fazenda na Bahia, onde pretendo passar o resto dos meus dias, longe da má qualidade da dublagem de hoje.
 
C.D.: Muito obrigado Henrique pela entrevista, foi um prazer.
 
Henrique: Abraço.